MUDANÇA…
Há mais do que a troca de endereços numa mudança. Há uma mudança interna, emocional que acompanha o processo de reajuste a uma nova residência. Pode até mesmo se transformar numa experiência catártica quando emoções variadas vindas do passado próximo ou de mais-que-passado voltam à tona, apresentando-se subitamente, sem pedir licença, e exigindo que se considere fatos que pensávamos há muito tempo devidamente sepultados.
Nunca fugi de mudanças, por mais trabalhosas e fisicamente difíceis que elas tenham sido. Mas todas elas, desde a minha primeira ao sair da casa de meus pais, até a desta semana, todas, têm em comum a re-avaliação do que se é, do que se pensa ser e do que imaginamos poder virmos a ser. Somos confrontados com um espelho real, quase cruel, de quem somos. Nem sempre é bonito. Às vezes é prazeroso. Mas as emoções rolam a cada caixa que se abre, a cada decisão do que se deve manter ou jogar fora.
Pandora, 1896
J W Waterhouse ( Inglaterra, 1849-1917)
Óleo sobre tela, 91 x 152 cm
Confesso que tenho me visto como Pandora, ao abrir as caixas de meus pertences. Cada caixa traz novas decisões. Não só onde colocar o conteúdo. Mas tenho que responder a pergunta interna: será que agora usarei este conteúdo com mais ou menos freqüência? Pra que mesmo que guardei estas ilustrações? E esses slides? Jogo fora? Terei tempo de digitalizá-los? Para quem? E por quê? São tão bons assim? E lá vou eu na rotina diária há 7 dias das perguntas incessantes que definem, fazem o perfil e demonstram para mim mesma meus sonhos passados, minhas esperanças. O que deu certo, o que não era para ser. O que tinha tudo para dar certo mas não deu. Esta reavaliação é e tem sido constante, e às vezes me leva das lágrimas às gargalhadas. Mas é uma reavaliação que faz bem à alma. E deste caos, desta incrível bagunça em que minha vida se transformou, como Pandora, guardo a esperança. A esperança de dias, de idéias, de paixões ainda muito mais gratificantes.
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NOTA: Tenho tido muitos comentários nesses últimos dias e prometo respondê-los amanhã. Hoje, a exaustão não deixa. Muito obrigada!