Livros decorativos, só?

4 07 2009

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Caixa Econômica Federal, Rio de Janeiro.

 

A postagem de ontem a noite [ Sobre livros e decoração ] me fez pensar muitas vezes no Centro Cultural da Caixa Econômica aqui no Rio de Janeiro.  Este é um lugar que visito regularmente.  Tem grandes exposições e shows.  O último que vi lá foi de Dori Caymmi, no início do mês de junho.  Além do mais, está a uns passos da estação do metrô da Carioca.  Em suma: um lugar fácil de ir, com uma ótima programação.

 

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Hall de entrada do Centro Cultural da Caixa Econômica, RJ.

 

Este Centro Cultural fica no edifício-sede da Caixa na Avenida Almirante Barroso, no centro da cidade.  Sua arquitetura é muito interessante, um pouco grandiosa mas por outro lado o espaço tem mais de 6.000 metros quadrados, um teatro de arena, dois cinemas, três galerias de arte, uma cafeteria, uma bombonière, além de salas de oficinas e ensaios, como bem explica o Portal da Caixa.    Há detalhes de grande charme tais como a escadaria que leva ao mezanino e o grande painel de Bandeira de Mello ocupando boa parte da chegada a este mezanino.  

 

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Café e Livraria do Centro Cultural da Caixa Econômica, RJ.

 

Mas há algo de curioso, um quebra-cabeças sem igual, nesta organização: o Café e Livraria administrado pelo SENAC, no mezanino.  É um café.  Só café.  Não há nenhuma livraria.  Nem biblioteca.  Nem exposição de livros.  Os livros que vemos – e vemos de fato muitos livros nas paredes, são exclusivamente estampados de papel de parede.  Fica um charme sem dúvida, principalmente porque aquece, torna mais habitável uma arquitetura sem alma e sem calor humano, como este gigante saguão que percebemos pelas fotos acima e abaixo.  

 

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Café e Livraria do Centro Cultural da Caixa Econômica no Rio de Janeiro. 

 

Por que, então, o nome: Café e Livraria?   Como livraria?  Os livros não existem a não ser como tromp l’oeil!  É tudo falso.  Por quê?   

O Centro abriu ao público em 2006.  E é possível que originalmente tenham pensado num café/livraria como estava e ainda está tão em moda.  E é quase provável que  até hoje os administradores do CCCEF  não tenham tido a oportunidade de conquistar algum empresário, alguma companhia,  algum visionário que quisesse abrir uma livraria no local.  Não me surpreende.  Há muito pouco tráfico de visitantes e pedestres.  Não me parece um lugar de sucesso para uma livraria, principalmente porque com tantos centros culturais no Rio de Janeiro todos com livrarias quase morrendo de inanição e com o grande número de  portais na internet vendendo livros, há de ser muito difícil manter um negócio de venda de livros, neste lugar.  Mas então, por que manter a idiossincrasia?

 

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Papel de parede com desenho de estante elegante.

 

Porque livros transformam lugares.  Eles dão aconchego e fazem de qualquer ambiente local propício para a troca de idéias, para conversas variadas.  Os livros nos alimentam, suas idéias nos embriagam.  Assim, eles parecem, para as pessoas que deles se rodeiam, trazer um espírito de confraternização semelhante ao que vemos entre amigos depois de uma farta ceia, regada a um bom vinho.  Além disso, eles abafam os sons, tornando qualquer ambiente mais íntimo. 

Nas revistas de decoração estrangeiras eles aparecem com freqüência.  Por que será que por aqui eles só aparecem em números ímpares, casados com outros elementos decorativos, como mencionei anteriormente?   Será que ainda mantemos, no fundo, no fundo, aquela desconfiança da palavra escrita que prevaleceu durante a Inquisição?  Será que continuamos a tradição católica que desconfiava da Reforma de Lutero porque ele pedia que se lesse a Bíblia?  Será que ainda não nos liberamos desta desconfiança sobre a palavra escrita que foi um componente decisivo da nossa história durante a colonização portuguesa no Brasil?


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