
Capa da 4ª edição: 1947
Continuamos aqui com a narrativa sobre Tiradentes e sua morte, pelos olhos de Tibicuera.
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A cabeça na ponta do poste
Um tal Joaquim Silvério dos Reis, coronel dos dragões, tinha denunciado os conspiradores.
Para encurtar o caso: Cláudio Manoel da Costa enforcou-se na prisão. O poeta Gonzaga foi mandado para a África, para bem longe da Marília dos seus sonhos. Muitos tiveram a mesma sorte. Outros foram condenados à morte.
Chegaram-nos notícias de Tiradentes. Submetido a interrogatórios repetidos, ele insistia em negar a culpabilidade dos amigos. Dizia-se o único responsável por tudo: o animador, o chefe e principal culpado da tentativa de revolta.
A pena de morte dos outros foi comutada. Mas Tiradentes foi levado à forca. Eu não quis assistir ao seu martírio. Sei que ele manteve a coragem e a fé até o fim. Não fraquejou. Foi levado para o patíbulo num cortejo assustador. Devia impressionar naquela bata branca que ia ser sua mortalha. Levava na mão um crucifixo preto, para o qual ele olhou o todo o tempo, murmurando preces.
Quando me disseram que o corpo de Tiradentes fora esquartejado, sendo sua cabela espetada na ponta de um poste — estremeci de raiva e cheguei a chorar de sentimento. E não sei se por influência dos versos de Gonzaga, começou a dansar em minha cabeça esta frase: “Aquela cabeça na ponta do poste é uma bandeira, a bandeira da nossa liberdade.”
Foi assim que terminou a aventura da “Inconfidência Mineira”. Foi assim que perdi o meu amigo José Joaquim da Silva Xavier, o Tiradentes.
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Em: As aventuras de Tibicuera: que são também as aventuras o Brasil, Érico Veríssimo, Porto Alegre, Livraria do Globo: 1947, 4ª edição., ilustrado por Ernst Zeuner.





Quando criança deliciei-me com sua leitura e até hoje me recordo prof. lela.
Os alunos de hoje não lêem mais As Aventuras de Tibicuera? Obrigada pelo comentário. 🙂