Curiosidade literária

9 07 2025

O papagaio verde, 1886

Vincent van Gogh (Holanda, 1853-1890)

óleo sobre tela, 48 x 43 cm

Colação Particular

 

 

Gustave Flaubert (França, 1827-1880), autor da famosa obra Madame Bovary, tinha o hábito de ler em voz alta seus textos para seu papagaio. Ele achava que este era o melhor meio de se assegurar de um bom ritmo e da musicalidade de sua prosa. 





Minutos de sabedoria: Washington Irving

26 11 2024

No portão da eternidade, 1890

Vincent van Gogh (Holanda, 1853-1890)

óleo sobre tela, 81 x 65 cm

Kröller-Müller Museum, Otterlo, Holanda

 

“Há algo de sagrado nas lágrimas. Elas não são a marca da fragilidade, mas do poder.  Elas se expressam de maneira mais eloquente do que dez mil línguas.  São as mensageiras da tristeza esmagadora, da profunda contrição e do amor indescritível.”

 

Washington Irving

(EUA, 1783-1859)

-.-.-.-.-.-

Tradução: Ladyce West

– .-.-.-.-

“There is sacredness in tears. They are not the mark of weakness, but of power. They speak more eloquently than ten thousand tongues. They are the messengers of overwhelming grief, of deep contrition, and of unspeakable love.”

-.-.-.-





Falando com ancestrais, texto de Muriel Barbery

29 08 2024

Campo de trigo com corvos, 1890

Vincent van Gogh  (Holanda, 1853–1890)

óleo sobre tela, 50 x 103 cm

Museu Van Gogh, Amsterdam

 

 

 

“— Que barulho é esse que você carrega atrás de si? — Qual barulho? — perguntou Haru. O corvo grasnou. — Não sei — respondeu o sacerdote —, mas o ouvimos. Conversaram sobre várias coisas mas logo Haru teve a sensação de ouvir palavras e sons do mundo como se eles se produzissem em outro lugar. Estava sozinho num território desconhecido varrido por um rumor límpido e, logo ao lado, se desenrolava o curso das coisas reais. Ele perdeu o fio da conversa do velho sacerdote, ergueu o nariz para o céu que escurecia — céu de neve, mas não estou sozinho, pensou. Então, riu e, cortando a palavra do homem de fé, disse-lhe: — O barulho, sabe? São meus ancestrais. — Ah! — disse o outro. — Eu bem que sabia! E virando-se para o corvo: — São os ancestrais dele. Depois disso ele traduziu amavelmente a conversa para a língua dos corvos.”

 

Em: Uma hora de fervor, Muriel Barbery, Rio de Janeiro, Companhia das Letras: 2024





Ambroise Vollard chega a Paris

16 07 2024

Ala do Jardim de Luxemburgo, 1886

Vincent van Gogh (Holanda, 1853-1890)

óleo sobre tela, 27 x 46 cm

Clark Art Institute, Williamstown, Mass

 

 

“Minha residência ficava na rua Toullier, próximo ao Luxemburgo, para onde onde fui assim que pude no dia seguinte. Fiquei decepcionado. Levei muitos anos para perceber a beleza daquele jardim incomparável e a magnitude de seu planejamento. Naquele momento, parecia-me muito mais amplo e menos íntimo do que o Jardim do Rei, da minha ilha nativa.  Quanto aos monumentos, de tamanhos tão grandes, pareciam me dominar e esmagar.”

(Tradução Ladyce West)

—–

My hotel was situated in the rue Toullier, near the Luxembourg, where I went first thing the next day. I was disappointed. It took me many years to realise the beauty of that incomparable garden and the magnificence of its planning. For the moment it merely seemed to me vaster, and at the same time less intimate, than the “ Jardin du Roi ” of my native isle. As for the monuments, their hugeness seemed to bear down on me and crush me.

-.-.-

Em: Recollections of a Picture Dealer, Ambroise Vollard, Dover Fine Art, History of Art, 2011, edição eletrônica, sem menção do tradutor do francês para o inglês.

– – –

Ambroise Vollard foi um dos galeristas mais importantes de Paris do final do século XIX.  Representou, conheceu, foi amigo e esteve envolvido com Renoir, Forain, Degas, Redon, Rodin, Cézanne, Rouault, Bonnard, Picasso, Manet, Matisse, de Groux, Signac, Rousseau, e ainda esteve em contato com Gertrude Stein, Alfred Jarry, Guillaume Apollinaire, Mallarmé, e Zola.  Natural da Ilha de Réunion, neste parágrafo, no início de suas memórias ele mostra para nós como, quando viajamos, por mais que se conheça a história, a cultura, sempre usamos nossos próprios vieses ao observar o novo, aquilo que nos é estranho.  É particularmente reveladora, essa passagem, porque a Ilha de Réunion, é francesa até os dias de hoje, portanto, ele tinha como referência só a visão de alguém da província.





Outono: Elizabeth George Speare

17 04 2024

Paisagem com homem e arado, 1889

Vincent van Gogh  (Holanda, 1853-1890)

óleo sobre tela, 33 x 41 cm

Hermitage, Rússia

 

 

 

 

“Depois dos dias grandiosos de setembro, o sol de outubro encheu o mundo com calor ameno… A árvore de bordo frente à entrada queimava como uma gigantesca tocha vermelha.  Os carvalhos ao longo da estrada brilhavam em amarelo e bronze. Os campos se estendiam como um tapete de joias, esmeralda e topázio e granada.  Para qualquer lado que ela fosse a cor gritava e cantava à sua volta… Em outubro qualquer evento inesperado é possível.”

 

Elizabeth George Speare, The Witch of Blackbird Pond  — tradução deste trecho: Ladyce West

 

 

————————

“After the keen still days of September, the October sun filled the world with mellow warmth…The maple tree in front of the doorstep burned like a gigantic red torch. The oaks along the roadway glowed yellow and bronze. The fields stretched like a carpet of jewels, emerald and topaz and garnet. Everywhere she walked the color shouted and sang around her…In October any wonderful unexpected thing might be possible.”
― Elizabeth George Speare, The Witch of Blackbird Pond




O único quadro vendido por Van Gogh?

30 03 2024

Vinhedo vermelho em Arles, 1888

Vincent van Gogh (Holanda,1853-1890)

óleo sobre tela

Museu Pushkin de Belas Artes, Moscou

 

 

 

Dizer que van Gogh vendeu um único quadro em vida é sempre assunto de debate.  Talvez tenha vendido apenas um, o quadro acima, para alguém que não pertencia ao mundo das artes.  Porque van Gogh certamente trocou muitas de suas obras com outros artistas de sua época e seu tio, que era um galerista, encomendou algumas obras a van Gogh, para lhe dar uma ajuda.

No entanto, Vinhedos vermelhos em Arles, foi vendido para uma artista Anna Boch.  Dois anos depois da compra, esta tela fez sua primeira aparição pública.   Em 1890, foi uma das telas fazendo parte da exposição anual do grupo de artistas belgas, que se denominavam OS VINTE [Les XX].  Anna era um dos membros do grupo.  Em 1888, mesmo ano em que van Gogh pintou o quadro Vinhedos vermelhos, ele também pintou o retrato do irmão de Anna, Eugène Boch.

 

 

 

Eugène Boch, 1888

Vincent van Gogh (Holanda,1853-1890)

óleo sobre tela, 60 x 45 cm

Museu d’Orsay

Eventualmente Vinhedos vermelhos em Arles foi vendido por uma galeria de arte em Paris para o colecionador Ivan Morozov cuja coleção foi nacionalizada durante a Revolução Bolchevista, e as obras divididas entre dois museus: Hermitage e Pushkin.

 

 

 

Retrato de Ivan Morozov, 1910

Valentin Aleksandrovich Serov (Rússia, 1865-1911)

óleo sobre tela

Galeria Tretiakov, Moscou





Curiosidade literária

21 09 2023

Autorretrato com bandagem, 1889

Vincent van Gogh (Holanda, 1863-1890)

óleo sobre tela, 60 x 50 cm

Courtauld Institute of Art, Londres

 

 

 

O escritor americano William Burroughs (1914-1997) amputou a falange de seu dedo mínimo da mão esquerda propositalmente.  Havia se apaixonado por Jack Anderson, homem que conhecera em 1939 e pensou em oferecer esta parte de si mesmo como prova de amor, depois que Anderson acabou com o relacionamento.  Em seguida, Burroughs mandou foto da falange amputada para Arnold Gingrich da revista Esquire para publicação.  Gingrich imediatamente respondeu com uma nota: “Meus cumprimentos pelo início de uma maravilhosa carreira, quando recebo o resto do cadáver?”  [“I greet you at the beginnings of a wonderful career, when do I get the corpse?”]. 

Esse incidente demonstrou para seus pais que a saúde emocional de Burroughs não estava bem. Eles então o internaram em uma instituição mental por meses. Dois anos depois, quando William Burroughs foi convocado para lutar na Segunda Guerra Mundial, seu pai apresentou documentação da automutilação, com o laudo psiquiátrico para as forças armadas que decidiram não o forçar ao serviço militar.  Mais tarde, a amputação serviu de tema para o conto O Dedo, que William Burroughs publicou.

 





Comedores de batatas, texto de Raquel Naveira

29 06 2023

Comedores de Batatas, 1885

Vincent van Gogh (Holanda, 1853-1890)

óleo sobre tela 82 x 114 cm

Museu Van Gogh, Amsterdã

 

 

 

“Que quadro impressionante é o Comedores de Batatas, de van Gogh. Usando uma paleta de cores escuras como preto, marrom e ocre, retratou uma cena do cotidiano camponês medieval, com sua miséria, escassez, falta de recursos.  A mesa rústica, a chama trêmula de um lampião que ilumina as faces de crianças rudes, sôfregas, interrogativas. As mãos grosseiras da mulher partindo os pedaços. Escreveu o artista em carta ao seu irmão Théo que se aplicara conscientemente em dar a ideia de que essas pessoas que comem as batatas com as mãos, também lavraram a terra. Que o trabalho manual, árduo, trouxe-lhes a nutrição honesta. E assim, entre goles de café nas canecas e bocados de massa, a luta se desenvolve, sofrida e fraterna.”

 

Em: Leque Aberto, Raquel Naveira, Guaratinguetá, SP, Penalux: 2020, pp, 153-4;





21 06 2023

Campo de trigo com corvos, 1890

Vincent van Gogh (Holanda, 1853-1890)

óleo sobre tela, 101 x 50 cm

Van Gogh Museum, Amsterdã

 

 

 

Van Gogh III

 

Marialzira Perestrello

 

« Van Gogh le plus peintre de tous les peintres »

A. Artaud

 

 

Vincent-Antonin

Artaud-Van Gogh

Gênios, loucos?

Loucos geniais?

 

Eles queriam sua  verdade

verdades vitais

mortais verdades

além de Tudo

aquém do  Nada.

 

Não queriam a Morte

lutaram pela Vida

(Insanamente?)

 

Oh! Deus

como eram negros

aqueles corvos!

 

1990

 

Em: A música persiste, Marialzira Perestrello, Rio de Janeiro, Imago: 1995, p. 34

 





Outono: Hal Borland

16 06 2023

O jardim do Hospital Saint Paul, (Folhas caindo),1889

[Saint-Rémy-de-Provence]

Vincent van Gogh (Holanda, 1853-1890)

óleo sobre tela, 73 x 60 cm

Museu Van Gogh, Amsterdã

 

 

 

“Dois sons do outono são inconfundíveis… o rápido farfalhar das folhas quebradiças ao longo da rua… pelo vento turbulento e o tagarelar de um bando de gansos em migração.”

 

Hal Borland   (EUA, 1900-1978)

 

 

Tradução : Ladyce West

-.-.-

“Two sounds of autumn are unmistakable…the hurrying rustle of crisp leaves blown along the street…by a gusty wind, and the gabble of a flock of migrating geese.”
— Hal Borland