Sobre Conan Doyle, texto de Michel Houellebecq

1 04 2019

 

 

 

André Dérain (1880-1954) Femme assise lisant, ostSenhora sentada, lendo

André Dérain (França, 1880 – 1954)

óleo sobre tela

 

 

“Em cada romance de Sherlock Holmes pode-se reconhecer, naturalmente, os traços característicos do personagem, mas por outro lado o autor nunca deixa de introduzir um aspecto novo (a cocaína, o violino, a existência do irmão mais velho Mycroft, o gosto pela ópera italiana… certos serviços prestados no passado a famílias reais europeias… o primeiro caso resolvido por Sherlock, ainda adolescente).  A cada novo detalhe revelado desenham-se novas zonas de sombra e afinal surge um personagem realmente fascinante: Conan Doyle consegue criar uma mistura perfeita entre o prazer da descoberta e o prazer do reconhecimento.”

 

Em: Plataforma, Michel Houellebecq, tradução Ari Roitman e Paulina Wacht, Rio de Janeiro, Editora Record: 2002, p. 107





Arsène Lupin nos Salões cariocas na primeira metade do século XX

8 09 2014

 

1930Cartaz para a opereta em 3 atos, Arsène Lupin, o banqueiro, 1930.

 

Os primeiros anos da minha adolescência, dos 12 aos 14,  foram preenchidos por muitas leituras detetivescas.  Era a leitura mais leve que eu encontrava na biblioteca municipal do meu bairro.  Mesmo não tendo livros muito novos, recém-saídos da editoras, essa biblioteca me ajudou a preencher muitos fins de semana pós praia, muitos dias de férias quer no Rio de Janeiro ou na Serra.  Assim li todos os livros que pude dos mais famosos detetives de Sherlock Holmes, a Hercule Poirot, a Charlie Chan e sem dúvida Arsène Lupin Todos, cada qual a seu modo, foram personagens queridos.  Qual não é a minha surpresa ao ler A vida literária no Brasil, 1900 e descobrir que, por aqui,  Arsène Lupin foi muito popular logo no início do século.  A passagem abaixo, sobre os Salões no Rio de Janeiro de então, dá uma ideia.

 

“Mais mundanos que literários seriam os salões de Sampaio Araújo, na rua Voluntários da Pátria, e o do casal Azeredo, na praia de Botafogo. Não raro via-se ali Caruso ao lado de um poeta estreante; um cronista conversando com figurões da política ou milionários banqueiros, gente da alta finança. Na seção “Cinematógrafo”, de Joe, na Gazeta de Notícias, aparece constantemente o nome de madame Gomensoro, que possuía igualmente um salão, onde procurava oferecer novidades e surpresas aos convivas. Era, às vezes, uma orquestra típica; outras um artista original que ela ia descobrir para dar a nota de sensação da noitada. E muitos escritores consentiam, prazerosamente, em repetir ali as conferências que haviam pronunciado por um vasto auditório a 2$500 (dois mil e quinhentos réis) a cabeça.

Que se conversava, de preferência, em tais ambientes? Antes de tudo, as novidades parisienses, depois o último romance de Anatole France, o fracasso do Chantecler, de Rostand, a peça mais recente de Bataille, etc.

As temporadas francesas tinham grande repercussão nos salões. E quando André Brulé apareceu pela primeira vez no palco do Municipal, encarnando com a mesma desenvoltura o herói de L’enfant de l’amour e o papel de Arsène Lupin, o gentilhomme cambrioleur, conquistou de chofre a simpatia e o culto do alto mundanismo carioca. Nos salões discutia-se o talhe de suas famosas casacas, a elegância insuperável de seus gestos e a dicção macia com que procurava cinzelar as palavras. Lá esteve Brulé, uma noite, no palacete da sra. Santos Lobo, a ouvir a leitura de Roberto Gomes, Berenice, feita pelo próprio autor, na versão francesa.”

 

Em: A vida literária no Brasil 1900, Brito Broca, Rio de Janeiro, José Olympio:2005, 5ª edição, pp: 61-62

 

NOTA: A pedidos de leitores, procurei colocar todos os links sobre escritores, personagens e locais, para facilitar a expansão do conhecimento e dar peso à leitura. Mas é extremamente trabalhoso, para cada nome colocar o link necessário. Vou tentar continuar a prática, mas confesso que meu tempo é escasso. A pesquisa na internet é rápida. Se o leitor estiver realmente interessado, um breve digitar deve trazer a informação necessária.  Entendo que a GRANDE  maioria dos meus leitores — professores — está no interior do Brasil e muitos não têm o acesso fácil e rápido à internet de que desfruto. Mas nem sempre poderei prover estes links.  Minhas desculpas.