Imagem de leitura — Nicolas Maes

30 03 2012

A contadora, 1656

Nicolas Maes (Holanda 1634, 1693)

óleo sobre tela

Saint Louis Art Museum, EUA

Nicolaes Maes, (também chamado de  Nicolaes Maas) nasceu em Dordrecht em 1634 e morreu em 24/11/ 1693 em Amsterdã.  Foi um pintor da época barroca na Holanda e se especializou em cenas do dia a dia assim como em retratos.   Filho de um próspero comerciante, Gerrit Maes, foi em 1648 para Amsterdã estudar com Rembrandt.  Só a partir de 1655, no entanto encontra seu próprio estilo, deixando de lado a influência de seu mestre.  Pelos próximos dez anos ele desenvolve o estilo que o faria famoso, especializando-se em cenas do dia a dia,  ou seja da pintura de gênero, onde sua habilidade para coordenar cores e reproduzi-las colocou-o entre os mais importantes pintores da Holanda.





Os primeiros visitantes ao Rio de Janeiro — século XVII — texto de Gastão Cruls

7 07 2011

Mapa do Rio de Janeiro século XVII.

Livro de Toda a Costa da Província de Santa Cruz, 1666.

João Teixeira Albernaz

www.serqueira.com

Ganhei de aniversário a obra A aparência do Rio de Janeiro,do escritor carioca Gastão Cruls (1888-1959) em dois volumes,  publicada em 1949.  É um deleite para quem, como eu, gosta de ler sobre o Brasil e o Rio de Janeiro antigos.  Ontem, depois da postagem anterior sobre o Turismo no Rio de Janeiro, me ocorreu ver o que Gastão Cruls tinha apontado como primeiros visitantes dessa nossa cidade, que coloco abaixo:

Impressões de Flecknoe e Froger

De estrangeiros que nos visitaram no século XVII, temos apenas os depoimentos de Flecknoe e Froger.

Flecknoe, irlandês, que se diz, sem grande certeza, ter pertencido à Companhia de Jesus, aqui esteve em 1648.  Viajou, ao que parece, a convite de Salvador Correa de Sá e Benevides quando este, comandando uma frota de seis navios, tornava ao Rio investido das funções de governador, com alçada sobre as Capitanias do Sul.  Embora se trate de um letrado, que se demorou bastante entre nós, são das mais erradas e incríveis as observações do irlandês.  Começa por dizer que as águas da Guanabara estavam permanentemente envenenadas por um peixe muito tóxico, e que ele mesmo teve a prova disso, pois que se sentiu muito mal, com tonturas e outras perturbações, depois que nelas tomou banho.  Talvez os banhos é que não lhe fossem muito familiares.  Por outro lado, ao invés de nos dizer alguma coisa sobre a cidade e os habitantes, prefere alongar-se em considerações sobre a flora, fauna, etnografia e até astronomia e, versando esses assuntos, seus comentários são ainda mais absurdos.  Contudo, não lhe escapou que as casas da “cidade antiga”, no Morro do Castelo, já estavam quase em ruínas, dado que a população se fora aos poucos transferindo para a planície.

O outro viajante, Froger, era de nacionalidade francesa, e aqui parou, por algum tempo, em 1695, na esquadra do almirante Gennes, destinada ao Estreito de Magalhães, onde iria montar uma feitoria.  Recordando esse périplo, Froger escreveu a Rélation d’un Voyage de la Mer du Sud, Detroit de Magellan, Brésil, Cayenne et les Isles Antilles, obra hoje bastante rara, e da qual resumiremos alguns tópicos.

Agrada-lhe a cidade, em boa situação, cercada de altas montanhas, grande, bem construída e com ruas retas.  Elogia igualmente as magníficas edificações dos jesuítas e dos beneditinos, implantadas em pequenas elevações que fecham a cidade dos dois lados.  Quanto aos habitantes, são limpos e de uma gravidade  peculiar à nação.  Ricos, gostam de traficar e têm um grande número de escravos, além de várias famílias de índios, mantidas nos seus engenhos.  Assim, com tanta gente a trabalhar para eles, mostram-se moles e efeminados.  “O luxo lhes é tão é tão comum que não somente os burgueses, mas até os religiosos podem sustentar mulheres públicas sem temer a censura e a maledicência do povo, que lhes dispensa um respeito todos particular.”  Froger não para aí na crítica à corrupção do clero e, se abre ligeira exceção para uns oito ou dez capuchinhos franceses e alguns jesuítas, “que se entregam com zelo extraordinário aos seus santos misteres”, acha que o resto, pela depravação, poderia fazer “recear o incêndio de uma outra Sodoma”.

Aquele luxo, que tanto impressionou Froger, seria, é quase certo, apenas de hábito externo, de roupas e adereços brilhantes e espalhafatosos.  Não resta dúvidas que os trajes da época, com seus casacos de veludo e os seus calções de cetim afivelados ao joelho, concorriam para toda a pacholice.

Aliás, por uma carta divulgada entre nós graças à Vieira Fazenda, carta escrita daqui,  mais ou menos na mesma época, por certo comerciante português a um irmão em Lisboa, vê-se como era grande o consumo de veludos, sedas e tafetás, tão procurados no mercado do Rio como o azeite, as azeitonas, o vinagre, freios, fechaduras e outras ferragens que nos mandavam do Reino.  É verdade que aqui também vinham se abastecer os peruleiros, negociantes que através do Rio da Prata faziam o comércio com o Peru e o Reino de Granada, ambos já nadando em riqueza, e que na Guanabara não regateavam ducados de ouro e prata em troca de boa e bem sortida mercadoria.

Mas o gosto pelas roupagens de preço não ficava apenas entre a gente mais abastada.  Em 1703, por solicitação do bispo do Rio, o procurador da Coroa dirigia-se ao Rei, reclamando contra o fausto com que as escravas se exibiam nas ruas e pedindo-lhe “mandar que de nenhuma maneira usem, nem sedas, nem telas de ouro, porque será tornar-lhes a ocasião de poder incitar para os pecados com os adornos custosos que vestem.”

Neste caso, o mais provável é que o bispo fosse apenas o porta-voz de uma ou outra fidalga da cidade, posta em xeque pelo chiste  e a elegância de suas servas.  E havia negras de encher o olho.  Ainda em 1870, o Conde d’Ursel, viajante francês, falava na beleza de certas pretas Minas, “soberbas mulheres, eu diria preferentemente cariátides.”

Em: A aparência do Rio de Janeiro, vol I, Gastão Cruls, Rio de Janeiro, Livraria José Olympo: 1949

NOTA:

Richard Flecknoe (c. 1600-1678?), possivelmente de origem irlandesa, esse jesuita, poeta e teatrólogo, esteve no Brasil em 1648.

François Froger,  (1673-1715) engenheiro hidrográfico francês que trabalhou para a marinha e navegou por sete mares. Esteve no Brasil em 1695.





Apreciando os quadros de Gerard ter Borch

7 12 2010

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Ontem, na minha postagem da série  Imagem de Leitura, coloquei aqui uma tela do pintor holandês Gerard ter Borch, cuja especialidade foi a pintura de gênero.  Ele atuou no século XVII, mesmo período em que os holandeses, seus conterrâneos,  invadiram o Brasil e dominaram a vida cultural do nordeste.

É justamente através da pintura de gênero (cenas do dia a dia) que se tem uma melhor idéia de como era a vida, como ela era percebida,  na época.  E ainda temos uma noção de como seus contemporâneos queriam deixar suas vidas  registradas, como gostariam de ser lembrados pelas gerações subsequentes.  A pintura de gênero, estilo que só apareceu depois da Renascença, ajuda bastante nessa reconstrução de época.  

 Assim, coloco aqui um vídeo com as pinturas de Gerard ter Borch para que tenhamos uma melhor idéia de como viviam os holandeses da classe média e de classe média alta, ou melhor dizendo da classe mercantil, na época em que Maurício de Nassau construía seus sonhos de uma Holanda Meridional no Brasil.

 Uma das grandes diferenças está, é  claro,  na alfabetização de todos, tanto homens quanto mulheres, um feito oposto ao encontrado aqui no Brasil no século XVII. Divirtam-se.  Há quadros muito bonitos. O primeiro, é o retrato do pintor.





Imagem de leitura — Mathias Stomer

27 05 2010

Jovem rapaz lendo à luz de vela, s/d

Mathias Stomer ( Holanda c. 1600- c. 1650)

Óleo sobre tela, 175 x 172 cm

Museu Nacional de Estocolmo,  Suécia.

Mathias Stomer, também conhecido com Stom ou Stomma ( Amsterdam c. 1600 – Sicilia depois de 1650) foi um pintor holandes, com formação artística no atelier  do pintor Gerard van Honthorst, que trabahava no estilo caravagista.  Seguiu os passos dos  pintores maneiristas Simon Vouet e Abraham Bloemart.  Mas sua grande dívida estilística vem de Dirck van Baburen e de Hendrick ter Brugghen.   Encontra-se em Roma em 1630, ainda que não se saiba ao certo a data de sua chegada à Itália.  De 1633 a 1639 trabalha em Nápoles e em seus arredores.   Depois se instala na Sicília, onde permanece até a morte.  Lá  é bastante  influenciado por alguns dos mestres da pintura italiana meridional e se  torna  ainda mais adepto dos grandes mestres nos contrates de luz e sombra, estilo que domina com grande mestria.