A prateleira dos especiais

17 02 2015

 

Paul Herman (EUA, 1962) Bookshelf III, Books with Bronze Torso, Oil painting on panel 21 x 25 cmPrateleira III, Livros com torso de bronze

Paul Herman (EUA, 1962)

óleo sobre placa, 21 x 25 cm

www.hermanstudios.com

 

Hoje me inspirei no blog The Bookshelf of Emily em parte porque passo no momento por um momento de limpeza, de desvencilhar-me de muitos livros, imaginando que eles poderão, a partir de agora, servir a outros donos. Passei por esse processo duas outras vezes nos últimos doze anos: primeiro quando me mudei do exterior para o Brasil. Depois quando me mudei para uma residência mais eficiente, menos ampla.

Somos dois em casa a trabalhar com livros. Trabalhar a vida inteira. Meu marido ainda é um pouco mais apegado a eles, porque afinal de contas ensinou por muitos anos literatura americana.  Quem ensina literatura não podia até recentemente ter uma biblioteca magrinha.  Afinal, texto era a sua alimentação diária.

Eu, por outro lado, tinha dois amores: a palavra escrita (a historiadora e leitora) e a imagem (conhece o peso dos livros de arte?), sim a minha parte era muito mais pesada do que a dele, mas menos livros.

A vinda para o Brasil fez com que dois escritórios, anteriormente separados, cobertos de livros, fossem somados e transformados numa única biblioteca.  Isso foi em 2002.  Em 2010, com nova mudança, a biblioteca original foi reduzida à metade menos um pouco.  E agora, estamos colocando-a em um sério regime para emagrecer.

 

BOOKS Gala apple with antique books Christopher StottMaçã Gala com livros antigos

Christopher Stott (Canada, 1976)

óleo sobre tela

www.chrisstott.com

 

Tem sido uma grande surpresa perceber que podemos viver com muito menos livros do que imaginávamos.  Nós dois nos adaptamos muito bem à palavra eletrônica.  Mas aviso que já compramos livros que lemos eletronicamente e de que gostamos muito, para os ter em casa… Vai entender esse  comportamento?!

Nesse processo, assim como a Emily do blog mencionado acima, eu também estou com uma prateleira de livros favoritos. Mas estão ficando conosco só os absolutamente favoritos e os que não lemos… Ah, sim, somos compradores inveterados, temos pilhas e pilhas, um corredor inteiro com prateleiras dos não lidos…

Mas neste Carnaval — sim o processo de emagrecer a biblioteca não reconhece feriados — arrumei um cantinho muito especial para os meus favoritos.

Aqui estão os 15 primeiros,sem ordem nenhuma, só na prateleira especial:

 

1 —  Nadando de volta para casa, Deborah Levy

2 —  1Q84, Haruki Murakami, a trilogia

3 —  Nihonjin, Oscar Nakasato

4 — Traduzindo Hannah, Ronaldo Wrobel

5 —  A história do rei transparente, Rosa Montero

6 —  Concerto Campestre, Luiz Antônio de Assis Brasil

7 —  Cabine para mulheres, Anita Nair

8 —  A trégua, Mário Benedetti

9 —  As Brasas, Sándor Márai

10 – Divórcio em Buda, Sándor Márai

11 – A louca da casa, Rosa Montero

12 – A lebre com olhos de âmbar, Edmund de Waal

13 – A costureira e o cangaceiro, Frances de Pontes Peebles

14 – Este é o meu corpo, Filipa Melo

15 – Minúsculos assassinatos e alguns copos de leite, Fal Azevedo

 

Estes são só os primeiros 15.  Voltarei a colocar mais, na lista, no momento tenho 44.  Daqui a um mês mais ou menos coloco outros 15.  Todos esses têm a minha recomendação é claro!





Palavras para lembrar — Rosa Montero

28 11 2014

 

 

Marcus Gannuscio, jasper-wall-eyed, ost, 52x48Jasper fixado [wall-eyed], 2011

Marcus Gannuscio (EUA, contemporâneo)

óleo sobre tela, 52 x 48 cm

 

“Os livros são criaturas manhosas que têm vida própria.”

Rosa Montero





“Te tratarei como uma rainha”, de Rosa Montero: resenha

20 11 2014

 

_70026996_saturday_night_1993Jack Vettriano's Another Saturday Night is one of many paintings which explore the power of sexOutro sábado à noite, 1993

Jack Vettriano (Escócia, 1951)

 

 

Antes de mais nada friso que, há algum tempo, sou fã de Rosa Montero. Desde que me conquistou com a História do Rei Transparente, a escritora se tornou única no meu horizonte de ficcionistas: não só consegue se metamorfosear, como não tem me decepcionado a cada nova obra.

Te tratarei como uma rainha (originalmente publicado em 1983) em tom e temática se alinha com Instruções para salvar o mundo (2008). Vinte e cinco anos os separam. E ainda que as histórias sejam muito diferentes, há alguns paralelos significativos: as vidas pequeninas dos frequentadores de bares sórdidos; as decepções não mitigáveis das pessoas comuns; a solidariedade inesperada e quase aleatória entre os que sofrem; a vida à beira do abismo emocional de todos na trama. Estamos no mundo Montero, um mundo quase real, sem firulas e sem grandiosidade. Não há heróis. Sobreviver é um ato de determinação e rendição ao destino.

 

capaLivro-3102_macro

 

Adaptar-se à realidade dos sonhos desfalecidos, aos sofrimentos inesperados é um ato de coragem, nem sempre bem sucedido, quase sempre doloroso, principalmente para aqueles que descobrem que os anos passaram. Um dia acordam, veem seus ansejos escorridos nos ralos, desintegrados no esgoto emocional da sobrevivência: pobres, feios, gordos, velhos, drogados, desiludidos. Sós. Explorados pelos espertos, refugiados em seus ninhos baratos, sem aconchego, menosprezados, segurando-se aos poucos fios que ainda os mantêm com algum amor-próprio. Por fim, se encontram nos bares à noite, com um vago senso de comunidade. A decadência lhes é conhecida. Reconforta. Esta é a vida moderna no mundo de Rosa Montero.

E, no entanto a prosa se adequa ao realismo, perfeitamente objetiva. Não derramamos uma lágrima. A nós cabe contribuir com os sentimentos. Testemunhamos silenciosamente as limitações desses heróis do cotidiano. Acende-se a compaixão. Mas não há exploração emocional. Não fazemos parte de uma produção hollywoodiana que atrela sentimentalismo à narrativa. Ficamos conhecendo a dor do desapontamento, a frustração dos pequenos desejos insatisfeitos e o desespero que leva a acreditar naquela última e bem-vinda chance de realização. Um raio de esperança, um futuro um pouco mais benevolente. Todos esses sentimentos encontram eco em nosso âmago. Também já passamos por situações semelhantes. Quem nunca? Os personagens se humanizam e nós também.

 

author_rosa_monteroRosa Montero

Não há dúvida de que Rosa Montero se preocupa com a condição da mulher. É considerada uma escritora essencialmente feminista. E a consistência de seu anseio com a índole das mulheres que retratou em suas obras justifica esse rótulo. Não é diferente neste texto. O que agoniza é vermos que nada mudou nos mais de 30 anos desde que Te tratarei como uma rainha foi escrito. São três, as principais mulheres delineadas no romance. Cada uma representante de diferentes inquietações, todas, no entanto, na expectativa de realização através de uma ligação amorosa: a maturidade de Bela, a virgindade de Antonia e a procura por segurança de Vanessa. E elas sofrem. No fundo são ingênuas, mesmo as mais experientes. E acreditam. Acreditam nos homens que as cercam. Mas eles também são figuras tristes. E mesmo que sejam causadores, de fato, de muito sofrimento, são por sua vez merecedores da nossa compaixão: são limitados, têm a mente estreita e a braguilha perpetuamente aberta. São patéticos.

É difícil acreditar que 198 páginas concisas possam despertar a complexidade de considerações sobre a sobrevivência emocional no ser humano. Acredito que o mundo de hoje não seja nem um pouco diferente do de nossos antepassados. Os sofrimentos parecem ser semelhantes. Somos violentos com aqueles a quem mais amamos, esperamos mais da vida do que muitas vezes ela pode dar, limitamos nossas possibilidades às regras extrínsecas ao nosso bem-estar. É desolador perceber que pouco muda. Mas são histórias como essa que nos fazem pensar e quem sabe dar um passo a frente para que haja, no futuro, um maior equilíbrio entre sonho e realidade. Definitivamente um livro para ler. E ponderar.





Oportunidades perdidas, texto de Rosa Montero

15 11 2014

 

ALICE BRILL - Casario - OST - CID - dat 1988 - 79 x 42 cm.Casario, 1988

Alice Brill (Alemanha/Brasil, 1920-2013)

óleo sobre tela, 79 x 42 cm

 

“A máquina reduziu a velocidade e entrou em Bernal bufando. Antônia olhou pela janela, ainda meio tonta: uma estação vazia e quente; um carrinho de menino abandonado na plataforma; mais além, por cima das cercas onduladas, as torres de cimento de um bairro em expansão.  Antônia nunca tinha descido em Bernal, e esta cidade era para ela como um cenário de teatro: o costume havia convertido todo o itinerário em uma sucessão de cromos planos, de modo que Valbierzo era só os azulejos quebrados da estação; Valones, o relógio de marco de madeira que estava pendurado em um poste; e Bernal, estas plataformas e a ponta das torres sujas de cimento.  Mas agora Bernal adquiriu volume de repente, e Antônia compreendeu, pela primeira vez, que a cidade se estendia além do fragmento que abarcava a janela: centenas de ruas que nunca havia pisado, milhares de pessoas às quais nunca tinha visto. Engoliu saliva, deslumbrada frente a imensidão do mundo.  E se descesse? E se ficasse aqui? O colossal da ocorrência deixou-a sem fôlego. O trem tremia com respiração hidráulica e os minutos de parada se consumiam rapidamente. E se me levantasse, tirasse a maleta do compartimento, saísse dali, descesse do vagão? Que vertigem, que desfalecimento, que emoção. Estava com a passagem de volta, 5 mil pesetas que Antônio tinha dado para a mãe, 1.200 pesetas suas, uma muda de roupa interior, uma blusa sobressalente, uma camisola, as pantufas, uma escova de dentes, um pente, pó compacto, os remédios que o médico tinha receitado, uma garrafinha de plástico com colônia, dois lenços, as meias de seda da senhora Encarna, um pequeno estojo de cretone com utensílios de costura, uma jaqueta para o caso de fazer frio, um tubo de aspirinas, uma estampa de Niño del Remédio, um envelope com tirinhas, uma revista feminina. E se descesse? Agora era diferente. Agora as mulheres iam e vinham sozinhas para todos os lados, e eram médicas, e advogadas, e até policiais. Imaginou-se de pé na estação vazia, agarrada à sua nécessaire, contemplando como o trem apitava e se perdia ao longe, o caminho de Malgorta; tentou ir além e ver a si mesma saindo da estação em direção ao desconhecido, mas a cena desapareceu: era incapaz de imaginar aquilo que não conhecia. A locomotiva apitou, anunciando a saída. Agora, agora ou nunca, Bernal aí fora, esperando-a, Bernal imensa, cidade fabril, seca cidade da planície. Agora, agora ou nunca, mas o vagão rangia, e já começava a deslizar e Bernal resvalava lentamente ao outro lado da janela e suas dimensões contraíam-se ate fechar de novo no cromo plano e conhecido.

Antônia encostou-se no assento e suspirou com decepção e alívio. O trem ia adquirindo velocidade e atravessava já colinas nuas a caminho de Ruigarbo. O rapaz continuava lendo com o livro apoiado na opulência de suas coxas, o avô cuspia os brônquios em um acesso de tosse, as freiras passavam as contas do rosário entre seus dedos, e Antônia, fechando os olhos, decidiu se unir a elas em suas rezas e começou a murmurar para si mesma o terceiro mistério doloroso.”

Em: Te tratarei como uma rainha, Rosa Montero, Rio de Janeiro, Nova Fronteira: 2014, pp 84-86; tradução de Marcelo Barbão.

NOTA: Em espírito, este trecho me lembrou um dos mais interessantes contos de Henry James, A fera na selva, que no Brasil foi publicado como um romance, e nos Estados Unidos como um conto.  Se você não conhece essa obra de James vale a pena dedicar umas duas horas do seu tempo. É um trabalho muito importante.





Como você encara a noite?

24 11 2011

O pesadelo, 1781

Henry Fuseli (Suiça, 1741-1825)

óleo sobre tela, 102 x 126 cm

Instituto de Belas Artes de Detroit, EUA

“A humanidade se divide entre os que se acalmam ao ir para a cama à noite e os que ficam aflitos na hora de dormir.  Os primeiros concebem os seus leitos como ninhos protetores, enquanto os outros sentem que o abandono do cochilo é um perigo.  Para uns, o momento de se deitar pressupõe a suspensão das preocupações; em outros, ao contrário, as trevas provocam o despertar de maus pensamentos, e, se dependesse deles, dormiriam de dia, como os vampiros.  Você já sentiu o terror das noites, a angústia dos pesadelos, a escuridão sussurrando com hálito frio em sua nuca que, mesmo sem saber quanto tempo resta, você não passa de um condenado à morte?  E, no entanto, na manhã seguinte, a vida volta a explodir com sua alegre mentira de eternidade”.

Parágrafo de abertura do livro Instruções para Salvar o Mundo, de Rosa Montero, Rio de Janeiro, Nova Fronteira: 2011.





A solução de Rosa Montero: consideração para com o nosso semelhante, em Instruções para salvar o mundo

14 09 2011

A bebedora de absinto, 1901

Pablo Picasso (Espanha, 1881-1973)

Óleo sobre tela,

Hermitage, São Petersburgo, Rússia

Meu primeiro contato com Rosa Montero foi através do fantástico História do rei transparente [Ediouro: 2006], que devorei em dois dias.  Amei!  Mais tarde, vim a ler A louca da casa, [Ediouro: 2004],  Histórias de mulheres [Agir: 2008], A filha do canibal [Ediouro:2007] e agora, este mês, Instruções para salvar o mundo [Record: 2010].  O que surpreende nessa escritora espanhola é o camaleonismo, ou melhor, como cada um de seus livros parece ter um estilo diverso, um narrador diferente, um tema inesperado.  O que os une, a todos, é uma voz narrativa que carrega o leitor por tortuosos e imaginativos caminhos.  Essa também é a característica de Instruções para salvar o mundo.

Quatro personagens principais preenchem o espaço desse romance.   Três são o centro do drama:  Matias, um taxista viúvo, que agoniza diariamente pela perda de sua esposa para o câncer;  Daniel um médico frustrado,  mais ambicioso do que sua capacidade de  dedicação profissional e com a satisfação na vida pessoal inexistente  e Fatma,  natural de Serra Leone, belíssima mulher e prostituta.   Eles parecem ter pouco em comum, mas invadem o nosso mundo imaginário quando suas vidas se mostram interligadas, apesar de extremamente solitárias.  Em contraponto, quase que preenchendo o papel que seria do coro numa tragédia grega, temos Cérebro, cognome de uma ex-professora universitária, uma cientista, cuja linha de pensamento nos mostra o caminho de Rosa Montero.  Cérebro não só é minha personagem favorita pela clareza de seu raciocínio, como é também quem dá a dimensão da tragédia que testemunhamos.  Aos poucos, e graças à força narrativa da autora, esses dois homens e duas mulheres nos envolvem e participamos silenciosamente da absoluta solidão em que vivem,  presenciamos o desespero calado que os corrói.   A falta de perspectiva de uma vida melhor parece inviável para cada um.  E sufoca.

Os personagens vivem num caos emocional que praticamente os deixa anestesiados para a vida cotidiana.  Ou, porque não conseguem perceber nada além do vazio interno que os preenche,  ou porque se dopam, ou se retiram do momento atual, do presente,  para algum lugar  íntimo, interior, onde podem sobreviver as penas de um cotidiano irreparável, como acontece com Fatma.  O mundo externo, fora dessas emoções contidas e reprimidas, está também presente no caos das mudanças climáticas que os rodeiam, refletido no calor fora de época da cidade.  Todos quatro são cidadãos de uma gigante metrópole, igual a dezenas de outras, parecidas com aquelas em que vivemos.  E, como muitos desses cidadãos, como habitantes dessas zonas urbanas, eles passam a vida paralisados nas suas angústias, entorpecidos nas suas emoções.

Rosa Montero

A solução de Rosa Montero para saciar esse desespero interno de cada um é a bondade.  A bondade com o nosso semelhante, o desprendimento.  Talvez uma solução por demais ingênua e idealista para essa leitora.  Algo de irreal, de conto de fadas nessa solução me dá pausa.  Sinto-me crítica.  Talvez eu mesma já esteja, como os personagens da trama, cáustica, amarga, incrédula para considerar tal sugestão com o peso que uma autora como Rosa Montero merece.   Este é o grande senão que tenho com o romance.   As questões sobre o que está acontecendo com a humanidade, o que está acontecendo com o lugar em que vivemos que inevitavelmente temos que levar em conta ao longo da leitura de Instruções para salvar o mundo não só são difíceis de responder, mas também impossíveis de serem solucionadas por ato tão simples e pequeno, quanto esse romance.    Mas fica aqui a minha admiração por quem tem a coragem de levantar essas questões.

Aqui, uma entrevista da autora em espanhol, legendada:






A elegância do ouriço — o melhor do ano para o LIVRO ERRANTE

14 12 2008

 

 

 

 

 

A comunidade do Orkut chamada de LIVRO ERRANTE acaba de publicar a lista dos melhores livros lidos por seus membros no ano de 2008.  Para participar da lista o livro deveria ter sido recomendado por um membro e passado de mão em mão por membros da comunidade, ou seja, “Errado pelo Brasil”.  O que faz a escolha ainda mais interessante é que nem todos os livros são os que acabaram de ser publicados.  Junto com Eu receberia as piores notícias de seus lindos lábios, de Marçal Aquino estava concorrendo este ano, por exemplo, O velho e o mar de Ernest Hemingway.

 

Os vencedores este ano foram:

 

O melhor livro lido em 2008, segundo votação da comunidade Livro Errante:

 

A elegância do Ouriço – Muriel Barbery

 

 

 

A Elegância do Ouriço, Muriel Barbery, Companhia das Letras, Capa.

A Elegância do Ouriço, Muriel Barbery, Companhia das Letras, Capa.

 

 

 

Publiquei uma resenha deste livro aqui, para ler, clique AQUI.

 

 

Empatados em segundo lugar na preferência da comunidade L.E. com o mesmo número de votos:

 

 

A História do Rei Transparente – Rosa Montero

O castelo de Vidro – Jeanete Walls

Memorial de Maria Moura – Raquel de Queiroz

 

 

 

Em terceiro lugar ficaram:

 

A Louca da Casa – Rosa Montero

A Catedral do Mar – Ildefonso Falcones

 

 

 

 

 

Para a lista completa, visite o BLOG do LIVRO ERRANTE.

 

 

O que é a comunidade do Livro Errante?

 

É um grupo, composto por aproximadamente 270 leitores do Brasil inteiro que passa o ano emprestando, trocando e discutindo livros entre seus membros.  Estes são leitores compulsivos, inveterados.  Admitem que aí encontraram um meio de se conectar com pessoas com valores semelhantes, de todas as idades imagináveis e profissões diversas.    É uma das grandes histórias de sucesso deste portal de relacionamento.  Mais tarde, num outro post descreverei outras ramificações de sucesso que fizeram deste grupo de pessoas uma comunidade ímpar.  Eu mesma faço parte do grupo e reconheço sua grande influência na minha vida profissional e pessoal.  Apesar de ser uma leitora assídua, que dava conta em geral de uns 50 livros por ano, desde entrei para o LIVRO ERRANTE minha leitura não só aumentou em número como no leque de interesses.  E a possibilidade de trocar idéias com pessoas que leram os mesmos livros é fascinante.

 

A comunidade está aberta e pública, mas há regras na participação e há compromissos a serem feitos.  Participação é essencial.  Diferente de outras comunidades no Orkut, ninguém pode simplesmente entrar na comunidade para mostrar que aprova a idéia ou para dizer que é membro, ou melhorar o seu perfil.  Sem participação efetiva a comunidade retira o participante do grupo.  Esta é uma das regras. 

 

 





BUZZ e A louca da casa — o marketing boca a boca

30 06 2008

A louca da casa de Rosa Montero

Recentemente tive a oportunidade de presenciar um exemplo típico do marketing chamado de “boca a boca”.  O assunto era a leitura do livro A louca da casa.  Boca a boca é considerado o melhor tipo de promoção.  Algo que quando temos um ponto comercial, em qualquer ramo, consideramos um dos maiores sucessos de uma companhia, de um comércio. Porque é o cliente entusiasmado que sozinho faz sua propaganda.  A promoção mais poderosa de todas: o burburinho de quem foi lá, comprou e saiu satisfeito.  É a palavra do amigo, do parente, do amigo do amigo.  

 

Este vírus oral — recomendações passadas sem nenhuma intenção comercial, comunicadas simplesmente pela vontade de que o outro acerte — ainda não está muito bem conscientizado no gerenciamento do pequeno comércio no Rio de Janeiro.  Diferente dos EUA, aqui vai-se a uma pequena loja e nunca somos perguntados como ouvimos falar daquela loja, como chegamos até lá.  Esta curiosidade, que parece regular no comércio americano, está ligada ao tipo de propaganda usado e ao gerenciamento de recursos para propaganda.  Infelizmente o pequeno comerciante no Rio de Janeiro, apesar de ter muita concorrência, qualquer que seja seu campo de especialização, ainda não descobriu a vantagem de treinar seus vendedores a fazerem estas perguntas, para que ele possa saber como a clientela chega ao seu endereço. 

 

A súbita procura pelo livro A louca da casa, de Rosa Montero, foi um exemplo típico da promoção boca a boca, ou do BUZZ através da internet.  A notícia de que era um livro imperdível foi passada de chat em chat, principalmente nos locais da internet freqüentados por pessoas ligadas à leitura, às artes, à educação e à literatura.   Rosa Montero já havia causado surpresa na imprensa cobrindo a Feira Internacional de Parati de 2004, quando se mostrou muito mais popular do que o imaginado, sendo abordada por fãs a procura de fotos e de autógrafos, em todo lugar, durante sua estadia.   A fama de Rosa Montero entre leitores exigentes vem de seu trabalho ímpar: artes, literatura, imaginação e a condição feminina.  Com esta agenda, livros tais como: A filha do canibal, A história do rei transparente, se tornaram leituras obrigatórias para a leitora brasileira. 

 

Eis que no grupo do ORKUT chamado Livro Errante dedicado à leitura de livros que são passados de leitor em leitor numa cadeia, cobrindo o Brasil inteiro das grandes cidades a remotas localizações, a curiosidade sobre Rosa Montero foi atiçada no início deste ano, quando alguns de seus livros começaram a circular e a serem lidos e discutidos pelos trezentos e poucos brasileiros que compõem a comunidade.   De repente, Rosa Montero havia se tornado um nome corriqueiro, uma pessoa familiar, conhecida.  Seus livros já publicados no Brasil foram procurados mais insistentemente.  Assim, A louca da casa, um livro sobre a imaginação e o processo criativo, publicado pela Ediouro em 2004, passou a ser uma obsessão do grupo.  Apesar de ser um livro recente está esgotado e de acordo com a editora sem perspectivas de nova tiragem ou edição.   Constatou-se também que este era um livro difícil, quase impossível, de ser achado em sebos.  Tudo contribuiu para o crescimento do BUZZ na internet, para a NECESSIDADE IMEDIATA de se ler o livro.  

Escritora Rosa Montero

 

É a velha história da oferta e da procura.  Havia muita procura e nenhuma oferta.  O Livro Errante abriu então um tópico dentro da comunidade para que se localizasse um volume que pudesse ser emprestado.   Telefonemas foram feitos para se descobrir em sebos no Recife, no Rio de Janeiro, Porto Alegre e São Paulo.  O site Estante Virtual, recebeu alguns pedidos.  Finalmente quando um volume apareceu imediatamente 25 pessoas se comprometeram a ler o livro.  Este volume agora passeia pelo Brasil e está sendo lido por muito mais do que estas 25 pessoas, porque cada leitor satisfeito ainda o passa entre amigos, para que seja desfrutado, antes do livro ir embora se encontrar com outros leitores.

 

O ponto de desequilíbrio de Malcolm Gladwell, autor do também muito aclamado Blink,  ambos livros publicados pela editora Rocco, tenta estudar e justificar justamente este fenômeno de marketing, ou seja aquele ponto em que um objeto, um aparelho, um modismo, deixa de ser simplesmente mais um no estoque de um comerciante e passa a ser o item quente, o procurado por todos.  Este momento, que Gladwell chama de ponto de desequilíbrio é o que todos almejam ter quando são fabricantes, produtores, comerciantes, escritores e até mesmo editores de livros.    

 

Infelizmente, nem todas as companhias brasileiras estão ligadas ao poder econômico do burburinho virtual.  Ou o que é pior, ainda não aprenderam o valor e o poder do boca a boca através da internet.  Além disso, se mostram indiferentes à clientela.  Quando alguns dos membros da comunidade Livro Errante escreveram e-mails para a editora Ediouro perguntando sobre a possibilidade de uma nova impressão ou de uma nova edição do livro de Rosa Montero, todos receberam um e-mail automático da companhia, generalizado, sem qualquer atenção específica ao livro ou aquele leitor em potencial.  Esta falta de maleabilidade no trato com o consumidor, não é porque a companhia é muito grande.  Tanto a Amazon.com, como a Ebay.com, assim como o Submarino.com.br, apresentam maneiras com que um cliente possa ter seus e-mails respondidos por alguém além de uma máquina. 

 

Ao que tudo indica há empreendedores brasileiros que ainda acreditam que dinheiro gasto em propaganda e marketing é dinheiro posto fora.  Torna-se dinheiro posto fora  quando eles mesmos não se dispõem a avaliar o marketing que fazem.  No caso do livro A louca da casa, a companhia parecia achar que a culpa era destes leitores que não haviam comprado o livro assim que publicado, em 2004.  Mas não é.  A culpa é da companhia: neste caso ela não conseguiu entregar o produto para o qual um grande marketing boca a boca se desenvolveu naturalmente.  O BUZZ havia cumprido a sua função.  A falha foi no planejamento a longo prazo.   Uma pena!