Autorretrato, 1506
Rafael Sanzio (Itália, 1483-1520)
têmpera sobre madeira, 47 x 33 cm
UFFIZI
[Cabeça e ombros de mulher]
Leonardo da Vinci (Itália, 1452-1519)
óleo sobre madeira (pinho) , 27 x 21 cm
Galleria Nazionale di Parma, Itália
O Metropolitan Museum Breuer, mais nova filial do Museu Metropolitano de Nova York, que ocupa o edifício do antigo Whitney Museum depois deste ter encontrado outra localização, tem no momento uma interessante exposição chamada Unfinished: Thoughts Left Visible, em que trabalhos que não foram acabados estão expostos ao público.
Sempre achei fascinantes as obras de arte inacabadas porque dão a nós, meros espectadores, a ideia de onde ou para onde o pintor ou o escultor iria. São trabalhos que iniciam um diálogo com o observador. Completamos os traços deixados para trás. Concordamos ou não com que o que foi feito. Temos uma aula de pintura, de desenho, de como esculpir um peça de mármore simplesmente pela observação detalhada de um obra. Conversamos com os artistas através dos séculos.
A obra de Leonardo acima faz parte dessa exposição. Abaixo coloco alguns do meus trabalhos “inacabados”, aqueles de minha preferência. Coloco aspas na palavra inacabado, porque há momentos, como na tela de Leonardo da Vinci que é difícil declarar se o artista deixou a tela inacabada, ou se simplesmente deixou propositadamente a tela “aberta” para que completássemos aquilo que não estava sendo retratado.
Dante: Divina Comédia, década de 1480
Sandro Botticelli (Itália, 1445-1510)
Iluminura em manuscrito [Ms Hamilton, 210]
Staatliche Museen, Berlim
Retrato do General Bonaparte, 1797
Jacques-Louis David (França, 1748-1825)
óleo sobre tela, 81 x 65 cm
Musée du Louvre, Paris
Jan van Eyck (Bélgica, 1395-1441)
Grisaille sobre madeira, 31 x 18 cm
Koninklijk Museum voor Schone Kunsten, Antuérpia
As filhas do pintor com um gato, 1761
Thomas Gainsborough (Grã-Bretanha, 1727-1788)
óleo sobre tela, 75 x 62 cm
National Gallery, Londres
François Gérard (França, 1770-1837)
óleo e carvão sobre tela, 86 x 96 cm
Coleção Particular
Mulher em traje de montaria, 1882
Édouard Manet (França, 1832-1883)
óleo sobre tela, 74 x 53 cm
Museo Thyssen-Bornemisza, Madri
Karl Pavlovich Bryollov (Rússia, 1799-1852)
óleo sobre tela, 173 x 126 cm
State Tretyakov Gallery, Moscou
Virgem Maria, Menino Jesus e S. João Batista, 1508
Rafael Sanzio (Itália, 1483-1520)
têmpera e óleo sobre madeira, 29 x 22 cm
Szépművészeti Múzeum, Budapeste
Jovem com véu [Margarita Luti], 1516
Rafael Sanzio (Itália, 1483-1520)
óleo sobre madeira, 82 x 61 cm
Palazzo Pitti, Florença
Há dois meses postei uma nota de Stendhal sobre um quadro de Rafael Sanzio, pintor da Renascença italiana. Era o retrato de uma jovem mulher, provavelmente de sua amante, conhecida como La Fornarina [a padeira, ou a filha do padeiro]. A paixão de Rafael por Margarita Luti, a jovem retratada foi amplamente conhecida. Vasari — autor da primeira compilação das vidas dos artistas italianos — não a menciona mas se referiu a Rafael como um homem que gostava muito da companhia de mulheres, um sedutor. Mais tarde, depois da morte de Rafael, em publicações posteriores o nome de Margarita Luti foi ligado ao de Rafael. Nunca houve identificação clara de que essa modelo era de fato Margarita. O artista pintou diversos retratos em que essa jovem aparece, mas não há até agora prova concreta de identificação.
Jovem com véu de 1516, mostra Rafael no seu melhor estilo. Grande delicadeza na pintura dos tons de pele, nas cores, prestimoso retratar dos tecidos. Um cuidado muito acima dos já espetaculares retratos anteriores.
La Fornarina, ou Retrato de uma jovem mulher, 1519
Rafael Sanzio (Itália, 1483-1520)
óleo sobre madeira, 85 x 60 cm
Galleria Nazionale d’Arte Antiga, Palazzo Barberini, Roma
No retrato do Palácio Barberini em Roma, posterior ao encontrado no Palazzo Pitti, vemos um Rafael mais enfatuado com sua modelo? Sem qualquer joia exceto a pérola no cabelo,que já aparecia no retrato anterior, acima, e a fita azul amarrada no braço, local que Rafael escolheu para assinar a obra; com um belo turbante oriental, última moda na época, a jovem seminua parece fazer um pequeno esforço para cobrir os seios. É uma pose associada às esculturas de Vênus, cujas cópias romanas dos originais gregos estavam à disposição do pintor. Vênus a deusa do amor é assim associada ao retrato da jovem mulher.
Mais tarde, depois da morte de Rafael, foi descoberta na Vila Hadriana em Tívoli, uma escultura em mármore, de origem grega, provável cópia de Praxíteles, cuja pose muito se assemelha à pintura de Rafael.
Vênus, dita Vênus de Médici, século I a.E.C.
Cleomenes , d’après Praxíteles
Mármore, 153 cm de altura
Encontrada em 1680 na Vila Hadriana, Tívoli
Galleria degli Uffizi, Florença
La Fornarina, ou Retrato de uma jovem mulher, 1519
Rafael Sanzio (Itália, 1483-1520)
óleo sobre madeira, 85 x 60 cm
Galleria Nazionale d’Arte Antiga, Palazzo Barberini, Roma
“A galeria deste palácio está agora reduzida a sete ou oito quadros; mas quatro deles são obras-primas: de início o retrato da célebre Fornarina, amante de Rafael, de autoria do próprio Rafael. Esse retrato cuja autenticidade não pode ser posta em dúvida, pois existem cópias da mesma época, é totalmente diferente da figura que, na galeria de Florença, é dada como o retrato da amante de Rafael, e que foi gravado, com essa indicação, por Morghen. O retrato de Florença não é de Rafael. Em homenagem ao prestígio desse grande nome poderia o leitor perdoar essa pequena digressão?”
Em: Crônicas italianas, Stendhal, tradução de Sebastião Uchoa Leite, São Paulo, Editora Max Limonad: 1981, p. 101
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O retrato a que Stendhal se refere é o seguinte:
La Fornarina ou Retrato de uma jovem mulher, 1512
Sebastiano del Piombo (Itália, 1485-1547)
óleo sobre madeira, 68 x 55 cm
Galleria degli Uffizi, Florença
Insígnia conhecida como: The Strafford George, século XVII
[D’Après Rafael]
Ônix marrom, cinza claro, ouro, prata esmalte, diamantes
Courtesia: Royal Collection Trust .Her Majesty Queen Elizabeth II
A miniatura em esmalte de São Jorge e o dragão, no reverso dessa insígnia é uma cópia de um quadro de Rafael, de 1506, hoje na National Gallery em Washington D.C.
São Jorge e o dragão, 1506
Rafael Sanzio (Urbino, 1483-1583)
Afresco
Villa Farnesina, Roma
Sean Salai, S. J. — Na sua opinião como classicista, o que os antigos gregos e romanos nos ensinam como seres humanos?
Camille Paglia — Sigo os passos de meu herói cultural, Oscar Wilde, não concordo com a implícita suposição moralista que a literatura ou a arte “ensinam” algo para nós. Elas simplesmente abrem a nossa visão para um mundo maior, ou nos permitem ver o mundo através de uma lente diferente. A cultura greco-romana que está se afastando rapidamente da educação universitária americana, é uma das duas tradições fundamentais da civilização ocidental; a outra é a judaico-cristã. Essas tradições se entrelaçaram e se influenciaram mutuamente ao longo dos séculos, produzindo uma complexidade titânica do ocidente, tanto para o bem quanto para o mal. Ignorar ou minimizar o passado greco-romano é colocar antolhos intelectuais, mas é isso que vem exatamente acontecendo à medida que as faculdades abandonam gradualmente, a grande, cronológica, visão panorâmica da antiguidade clássica, em cursos de dois semestres, que fora enfatizada no passado. A trajetória, agora, está no “presentismo”, uma concentração míope na sociedade desde a Renascença – por falar nisso, um termo humanístico nobre, que está sendo descartado implacavelmente e substituído pela amorfa entidade marxista, “Proto-Modernidade”.
Em: “The Catholic Pagan:10 questions for Camille Paglia“, America: the national catholic review, 25 de fevereiro de 2015.
[Tradução é minha]