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Nesta semana o jornal gaúcho Zero Hora publicou duas matérias de interesse para quem se preocupa com a baixa taxa de leitura no Brasil. O foco de ambas as publicações foi o número de volumes impressos por título. Nos grandes centros do Brasil, parece que a leitura anda aumentando. Cá pela zona sul do Rio de Janeiro, ir a uma livraria no fim de semana é ocasião certa de encontrar dezenas de pessoas se acotovelando, como se livros estivessem sendo distribuídos gratuitamente. Além disso, podemos ter a certeza de encontrar casualmente vizinhos, amigos, colegas de trabalho que, sem combinação prévia, acabam emendando a compra de um livro em um bate-papo informal no café da livraria ou no café mais próximo. Quer a livraria fique num shopping ou tenha portas abertas para a rua, o burburinho no local é de aquecer o coração de quem se preocupa com a educação brasileira.
Mas observando o número de exemplares publicados nas nossas edições de sucesso, os números parecem ridiculamente pequenos para o tamanho da nossa população. As maiores tiragens de livros no país são de 600.000 – seiscentos mil – volumes. Nesse nicho ficam os autores de grandes vendas internacionais como a trilogia iniciada com o volume 50 tons de cinza de E. L. James. O último volume da trilogia, 50 tons de liberdade, já saiu com mais de 500.000 – quinhentos mil — exemplares impressos. Parece muito não é mesmo? Mas somos 197.000.000 — cento e noventa e sete milhões – 600.000 exemplares são equivalentes a ⅓ de 1%. Parece insignificante. E essa é a maior tiragem de um livro no Brasil. Triste.
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Grandes sucessos editoriais de autores brasileiros têm ainda menores tiragens. Aqui focamos nos brasileiros. Os dois títulos de maior tiragem são elevados pelas religiões em que se firmam.
Ágape, do padre Marcelo Rossi – 500.000
Casamento blindado de Cristiane e Ricardo Cardoso – filha e genro do Bispo Edir Macedo – 230.000
Só depois é que encontramos o mega-seller Laurentino Gomes.
1889 – tem edição de 200.000
Seguido por:
Manuscrito encontrado em Accra de Paulo Coelho — 100.000
Luís Fernando Veríssimo – novo título ainda não divulgado – sairá com 100.000 também
Carcereiros de Dráuzio Varella – 80.000
Guia politicamente incorreto da filosofia – Luís Felipe Pondé – 50.000
A graça da coisa de Martha Medeiros – 50.000
Mas há também o que poderíamos chamar de círculo vicioso. De acordo com o Consultor Editorial Carlos Carrenho, as tiragens grandes não refletem só a expectativa das editoras. As livrarias também preferem os livros com maior tiragem. De acordo com ele “A primeira coisa que as livrarias perguntam é qual a tiragem inicial. Usam a informação para avaliar o tamanho da aposta naquele título.”
Assim fica difícil quebrar barreiras. Se as livrarias não estão interessadas em tiragens menores, como pode o autor aumentar as suas vendas até que consiga um número razoável em volume de venda? Porque diferente de outros países as nossas editoras não se dedicam a promover os títulos que publicam. Comparo com os Estados Unidos, onde morei por muitos anos, e não vejo por aqui a dedicação que as editoras de lá dão ao promover os livros que publicam. É claro que lá também se pede muito dos escritores. Eles viajam de uma costa a outra do país dando entrevistas e se encontrando com leitores em livrarias, cafés, grupos de leitura, exaustivamente. Isso não vejo acontecer por aqui fora do eixo Rio-São Paulo. Ocasionalmente sim, mas não regularmente.
Temos ainda muito o que fazer no Brasil.
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FONTES:
Saiba quais são os livros de maior tiragem no Brasil
Tiragens iniciais gigantescas de livros indicam tendências de mercado e estratégia de vendas