Sublinhando…

26 08 2015

 

 

Bengts, Carl - Sanomalehteä lukeva nainen, 1925Mulher lendo o jornal, 1925

Carl Bengts (Finlândia, 1876 – 1934)

óleo,  27 x 35 cm

 

 

“Recordo-me.

Perdi-me.

Ou foi a vida

que me perdeu?”

 

Em: Armindo Rodrigues (1904-1993), Aventura. 

 

 





Sublinhando…

19 08 2015

 

Hubert-Denis Etcheverry - La dame en bleuSonho  [Dama em azul] c. 1930

Hubert-Denis Etcheverry (França, 1867-1950)

óleo sobre tela

Museu Bonnat-Helleu, Bayonne

 

 

“Por que fiz eu dos sonhos

A minha única vida?”

 

Fernando Pessoa (Portugal, 1888-1935) em Contemplo o lago mudo.





Sublinhando…

19 07 2015

 

Ipolit-Strambulescu-Strambu-LecturaLeitura

Ipolit Strâmbu (Romênia, 1871-1934)

óleo sobre cartão

 

 

A ilusão que me mantinha,
Só no palco era rainha:
Despiu-se, e o reino acabou.”

 

 

Fernando Pessoa (Portugal, 1888-1935) em O andaime, 1931.

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O café, poema de Armindo Rodrigues

15 07 2015

 

 

David Azuz (Israel 1942) serigrafia ParisCafé em Montparnasse, Paris

David Azuz (Israel, 1942)

Serigrafia

 

 

O Café

 

Armindo Rodrigues

 

 

Aqui, no café, sabe-se tudo

e junta-se gente vinda

de todos os cantos do mundo.

 

Aqui, no café, esquece-se o tempo

e nascem ideias extraordinárias

até dos gestos irrefletidos.

 

Aqui, no café, sonho mais à vontade

que sou tudo o que sonho

e não tenho medo de nada.

 

Aqui, no café, todos sabem que sou

um homem como outro qualquer

que vem aqui todas as tardes.

 

 

Em: Voz arremessada no caminho; poemas, Armindo Rodrigues, Lisboa: 1943, p. 53





Sublinhando…

1 07 2015

 

 

Otto van Rees (1884-1957) De vertelling, 1926A tradução, 1926

Otto van Rees (Alemanha, 1884-1957)

óleo sobre tela

 

 

“Leve, breve, suave,

Um canto de ave

Sobe no ar com que principia

o dia.

Escuto, e passou…

Parece que foi só porque escutei

Que parou.”

 

 

Fernando Pessoa (Portugal, 1888-1935) em Leve, breve, suave. 





Um poema — para todos — de Miguel Torga

26 05 2015

 

 

leitura, distração, georges lepape, vogueDistração, gravura George Lepape.

 

 

Um poema

Miguel Torga


Não tenhas medo, ouve:
É um poema
Um misto de oração e de feitiço…
Sem qualquer compromisso,
Ouve-o atentamente,
De coração lavado.
Poderás decorá-lo
E rezá-lo
Ao deitar
Ao levantar,
Ou nas restantes horas de tristeza.
Na segura certeza
De que mal não te faz.
E pode acontecer que te dê paz…


Miguel Torga, Diário XIII





As árvores e os livros, poesia de Jorge Sousa Braga

21 09 2014

 

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As árvores e os livros

 

 

Jorge Sousa Braga

 

As árvores como os livros têm folhas

e margens lisas ou recortadas,

e capas (isto é copas) e capítulos

de flores e letras de oiro nas lombadas.

 

E são histórias de reis, histórias de fadas,

as mais fantásticas aventuras,

que se podem ler nas suas páginas,

no pecíolo, no limbo, nas nervuras.

 

As florestas são imensas bibliotecas,

e até há florestas especializadas,

com faias, bétulas e um letreiro

a dizer: «Floresta das zonas temperadas».

 

É evidente que não podes plantar

no teu quarto, plátanos ou azinheiras.

Para começar a construir uma biblioteca,

basta um vaso de sardinheiras.

 

 

Em: Herbário, Jorge Sousa Braga, Lisboa, Assírio & Alvim: 1999





O Poliglota, poesia infantil de Jorge Sousa Braga

26 05 2014

 

???????????????????????????????Ilustração Belli Studio.

 

 

O Poliglota

 

Jorge Sousa Braga

 

Ele sabe palrar
Cacarejar
Arrulhar
Gorjear
Mugir
Vagir
Zunir
Latir
Berrar
Miar
Bramar
Chiar
Uivar
Ladrar
Rosnar
Grunhir
Zumbir
Rugir
Balir
Zurrar
Coachar
Chilrear
Grasnar
Cricrilar
Crocitar
E também sabe
Falar
Seja a língua que for

Até já o contrataram
Para o jardim zoológico
Como tradutor

 

Em: Poemas com Asas, Lisboa, Assírio & Alvim: 2001





As palavras, poesia de Eugênio de Andrade

21 05 2014

 

 

Leitura no jardim, Norman Price, St_ Nicholas 1917-05Leitura no jardim, ilustração de Norman Price, capa da revista St. Nicholas, maio de 1917.

 

 

As palavras

 

Eugênio de Andrade

São como cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

 

 





Na ribeira deste rio, poema de Fernando Pessoa

9 08 2013

Archimedes Dutra,Pescador na beira do rio,1932,ost, 27 x 35 cmPescador na beira do rio, 1932

Archimedes Dutra (Brasil, 1908-1983)

óleo sobre madeira, 27 x 35 cm

Poema

Fernando Pessoa

Na ribeira deste rio

ou na ribeira daquele

passam meus dias a fio.

Nada me impede, me impele,

me dá calor ou dá frio.

Vou vendo o que o rio faz

quando o rio não faz nada.

Vejo os rastros que ele traz,

numa sequência arrastada,

do que ficou para trás.

Vou vendo e vou meditando,

nem bem no rio que passa

mas só no que estou pensando,

porque o bem dele é que faça

eu não ver que vai passando.

Vou na ribeira do rio

que está aqui ou ali,

e do seu curso me fio,

porque, se o vi ou não vi,

ele passa e eu confio.

Em: Antologia poética para a infância e a juventude, Henriqueta Lisboa, Rio de Janeiro, Instituto Nacional do Livro: 1961, p. 150-151.