Orquídeas, dezenas e dezenas delas nas árvores da Zona Sul do Rio de Janeiro. Estas em Copacabana.
No início deste ano tive uma amiga visitando o Rio de Janeiro, vinda de Goiás. Nem preciso dizer que a cidade a encantou. Faz parte da visita, o encantamento. Mas uma das coisas que ela mencionou especificamente, fora os lugares tradicionais, foram as ruas substancialmente arborizadas. E ainda posso lembrar de seu tom de voz ao dizer com espanto: E vocês ainda põem orquídeas nas árvores de rua!
Nem sempre foi assim. Não posso dizer quando esse hábito começou. Nem onde. Cresci no Rio de Janeiro, na zona sul da cidade e garanto que quando era criança, não fazíamos isso. Já ouvi relatos que foi iniciativa de uma associação de comerciantes de Ipanema que, para embelezar a cidade, e chamar atenção para o bairro, começaram a amarrar orquídeas nas árvores que dão sombra às ruas, árvores plantadas pela prefeitura. Não estamos falando de árvores nos jardins de condomínios. Aliás esses também têm.
Por volta dos anos 90 do século passado era evidente que os próprios cariocas haviam abraçado a ideia de orquídeas penduradas nas árvores das calçadas. Isso, também surpreendeu meu marido, americano, que como a goiana, percebeu a profusão de orquídeas nas ruas como um sinal de que estava num ambiente tropical, algo que soava a seus ouvidos, como um lugar perto do paraíso. Coitado! Anos depois veio morar no Rio de Janeiro e percebeu a realidade! Mas sempre se admirava com as orquídeas em ruas públicas.
Não sei se essa moda causou os supermercados a venderem orquídeas ou se foi o contrário, eles começaram a vender as orquídeas e a moda seguiu a oferta das plantas. Velha questão essa, da galinha e do ovo. Hoje praticamente todos os mercados vendem orquídeas, as mais comuns, e o carioca leva orquídeas à casa de alguém que ele visita, ou presenteia em qualquer ocasião.
Mas orquídeas não são das plantas, as mais fáceis de lidar. Requerem certa quantidade de sombra e alguns fiapos de sol. Precisam de pouca água e gostam de ficar à beira de algum lugar, mais ou menos em situação periclitante, como peitoris de janelas do décimo segundo andar. Essas necessidades são amplamente providas pelas árvores. Então o carioca recebe a orquídea de presente, se satisfaz com ela pelo período de floração e depois dependura numa árvore de rua. Tudo que se precisa é ter um porteiro, ou um empregado do prédio em que você mora, que se disponha a amarrar uma orquídea que já perdeu a sua beleza mas ainda está viva, na parte mais alta da árvore próxima à entrada do seu edifício, no lugar que ele alcançar de uma escada. E voilà, na próxima estação, no próximo período de floração, a árvore estará embelezada por uma, duas, três orquídeas, quantas couberem em seu tronco, plantas que continuarão, felizes, a dar flores entra ano, sai ano. E vivemos, então, sob a distinta impressão de estarmos num paraíso tropical.


Buganvílea vermelha, rua Visconde de Pirajá, Rio de Janeiro.
Ipê rosa em flor, Praça General Osório, Ipanema, Rio de Janeiro.
Palmeira Bismarck iluminada pelo sol, Praça Santos Dumont, na Gávea, no Rio de Janeiro.
Lágrimas de Cristo,[Clerodendron thomsoniae], na Gávea, RJ.
Lágrimas de Cristo,[Clerodendron thomsoniae], na Gávea, RJ, DETALHE.
Lágrimas de Cristo,[Clerodendron thomsoniae], na Gávea, RJ, vista na grade.
Lágrimas de Cristo,[Clerodendron thomsoniae], na Gávea, RJ, vista na grade, pétalas rosas e brancas.
Bico de Papagaio, jardim na Gávea, no Rio de Janeiro. ©Ladyce West
Bico de Papagaio, jardim na Gávea, no Rio de Janeiro. ©Ladyce West











