Natureza morta com arraia, 1728
Jean-Baptiste-Siméon Chardin (França, 1699-1779)
óleo sobre tela, 114 x 146 cm
Museu do Louvre, Paris
Os objetos
Odylo Costa Filho
No fechado silêncio dos objetos
mais simples mora um toque de magia.
De um só tijolo nasce a casa: afetos,
barro, sol, água, mesa, moradia,
e a presença tenaz das mãos humanas
afeiçoando o mistério da existência
e dando às coisas mais cotidianas
senso de vida — e de sobrevivência.
Chardin, quando há dois séculos viveu,
uma arraia pintou, disforme, aberta
em sangue e dentes, agressiva e forte.
Veio o tempo e com ele emudeceu
muita moda que a glória julgou certa.
Aquela arraia sobrevive à morte.
Em: Boca da noite, Odylo Costa Filho, Rio de Janeiro, Salamandra: 1979, p. 47