O amor e o tempo, poesia de Antônio Feijó

3 07 2025

Senhora no salão

Paul Walter Ehrhardt (Alemanha, 1872-1959)

óleo sobre tela, 84 x 66 cm

 

O amor e o tempo

 

Antônio Feijó

 

Pela montanha alcantilada
Todos quatro em alegre companhia,
O Amor, o Tempo, a minha Amada
E eu subíamos um dia.

Da minha Amada no gentil semblante
Já se viam indícios de cansaço;
O Amor passava-nos adiante
E o Tempo acelerava o passo.

— «Amor! Amor! mais devagar!
Não corras tanto assim, que tão ligeira
Não pode com certeza caminhar
A minha doce companheira!»

Súbito, o Amor e o Tempo, combinados,
Abrem as asas trêmulas ao vento…
— «Porque voais assim tão apressados?
Onde vos dirigis?» — Nesse momento,

Volta-se o Amor e diz com azedume:
— «Tende paciência, amigos meus!
Eu sempre tive este costume
De fugir com o Tempo… Adeus! Adeus!

 

 





Sinos ao longe, poesia de Afonso Lopes Vieira

27 06 2025

Igreja, 1940

José Marques Campão (Brasil, 1892-1949)

aquarela sobre papel, 22 x 33,5 cm

 

 

Sinos ao longe

 

Afonso Lopes Vieira

 

 

Chegaram de longe

Vindas na aragem. 

Imagens débeis

De bronzes finos…

E, cristalinas, 

Pousam na aragem,

Na aragem vaga,

Flébeis e finas, 

Como essas penas

No ar, serenas,

Que o ar afaga

Só de ampará-las

E suspende-las

Expiram longe,

Idas na aragem,

Imagens débeis 

De bronzes finos, 

De coisas flébeis…

Em: O pão e as rosas, Afonso Lopes Vieira, 1908





Dança do vento, poema de Afonso Lopes Vieira

24 06 2025

Um pé de vento

Gaetano Bellei (Itália, 1857-1922) 

óleo sobre tela

 

Dança do vento

 

Afonso Lopes Vieira

 

O vento é bom bailador,
Baila, baila e assobia.
Baila, baila e rodopia
E tudo baila em redor.
E diz às flores, bailando:
– Bailai comigo, bailai!
E elas, curvadas, arfando,
Começam, débeis, bailando.
E suas folhas, tombando,
Uma se esfolha, outra cai.
E o vento as deixa, abalando,
– E lá vai!…
O vento é bom bailador,
Baila, baila e assobia,
Baila, baila e rodopia,
E tudo baila em redor.
E diz às altas ramadas:
Bailai comigo, bailai!
E elas sentem-se agarradas
Bailam no ar desgrenhadas,
Bailam com ele assustadas,
Já cansadas, suspirando;
E o vento as deixa, abalando,
E lá vai!…
O vento é bom bailador,
Baila, baila e assobia
Baila, baila e rodopia,
E tudo baila em redor!
E diz às folhas caídas:
Bailai comigo, bailai!
No quieto chão remexidas,
As folhas, por ele erguidas,
Pobres velhas ressequidas
E pendidas como um ai,
Bailam, doidas e chorando,
E o vento as deixa abalando
– E lá vai!
O vento é bom bailador,
Baila, baila e assobia,
Baila, baila e rodopia,
E tudo baila em redor!
E diz às ondas que rolam:
– Bailai comigo, bailai!
e as ondas no ar se empolam,
Em seus braços nus o enrolam,
E batalham,
E seus cabelos se espalham
Nas mãos do vento, flutuando
E o vento as deixa, abalando,
E lá vai!…
O vento é bom bailador,
Baila, baila e assobia,
Baila, baila e rodopia,
E tudo baila em redor!

 





Aurora Boreal, poema de Antonio Gedeão

10 06 2025
Ilustração, Thomas Crane

 

 

Aurora boreal

 

Antonio Gedeão

 

Tenho quarenta janelas

nas paredes do meu quarto.

Sem vidros nem bambinelas

posso ver através delas

o mundo em que me reparto.

Por uma entra a luz do Sol,

por outra a luz do luar,

por outra a luz das estrelas

que andam no céu a rolar.

Por esta entra a Via Láctea

como um vapor de algodão,

por aquela a luz dos homens,

pela outra a escuridão.

Pela maior entra o espanto,

pela menor a certeza,

pela da frente a beleza

que inunda de canto a canto.

Pela quadrada entra a esperança

de quatro lados iguais,

quatro arestas, quatro vértices,

quatro pontos cardeais.

Pela redonda entra o sonho,

que as vigias são redondas,

e o sonho afaga e embala

à semelhança das ondas.

Por além entra a tristeza,

por aquela entra a saudade,

e o desejo, e a humildade,

e o silêncio, e a surpresa,

e o amor dos homens, e o tédio,

e o medo, e a melancolia,

e essa fome sem remédio

a que se chama poesia,

e a inocência, e a bondade,

e a dor própria, e a dor alheia,

e a paixão que se incendeia,

e a viuvez, e a piedade,

e o grande pássaro branco,

e o grande pássaro negro

que se olham obliquamente,

arrepiados de medo,

todos os risos e choros,

todas as fomes e sedes,

tudo alonga a sua sombra

nas minhas quatro paredes.

 

Oh janelas do meu quarto,

quem vos pudesse rasgar!

Com tanta janela aberta

falta-me a luz e o ar.

 

 

 

António Gedeão, Obra Poética, Edições João Sá da Costa, Lisboa, 2001





A morte de Roland, ou a Canção de Roland

10 06 2025

Batalha de Roncesvales, em 778: morte de Roland. c. 1455-1460

Jean Fouquet (França, ? – 1481)

Iluminura das Grandes Crônicas da França

Biblioteca Nacional da França, Paris

 

 

A Canção de Roland é um poema do século XI, talvez a mais antiga canção épica, que dá início à literatura francesa, mesmo tendo sido, na sua forma original, escrita em uma língua românica.  A obra inspirou muitas outras criações sobre a França e circulou por toda a Europa.  Ela narra a morte heroica de Roland, no campo de batalha de Roncesvales.  A batalha aconteceu no dia 15 de agosto de 778, e Roland, que era sobrinho de Carlos Magno, comandava o exército da retaguarda, formado pelos Doze Pares de França, um grupo lendário de cavaleiros associados a Carlos Magno.  Na tropa liderada por Roland os cavaleiros são: Roland, Olivier, Gérin, Gérier, Bérenger, Otto, Samson, Engelier, Ivon, Ivory, Anséïs e Girart de Roussillon.  Mas em outros poemas e lendas da época, esses cavaleiros poderiam ser outros.  Como há muitas versões da Canção de Roland, todas em manuscritos que deram por sua vez origem a outras tantas lendas, é difícil de precisar exatamente quem fazia parte desse exército ou aqueles cuja existência são pura lenda. 

Roland morreu numa batalha na região basca da França.  A tropa vinha da Península Ibérica onde lutava contra os sarracenos.  Dependendo da versão os autores do massacre de Roncesvales, podem ser tanto bascos quanto muçulmanos.  Sabe-se que essa batalha realmente ocorreu, está historicamente comprovada e em espírito pertence ao contexto das Cruzadas e da Reconquista cristã da Península Ibérica. 

 

A morte de Roland, 1462

Iluminura em de manuscrito

Autor desconhecido

Bruges, Flandres [Bélgica]

 

 

Uma coisa interessante é que a Canção de Roland teve grande popularidade no Brasil no século XIX. Isso graças a um livro de um médico português, Jerónimo de Moreira Carvalho, que escreveu em 1737, portanto no século XVIII, uma continuação da Canção de Roland: Segunda parte da História do Imperador Carlos Magno e dos doze pares de França. Esse romance de cavalaria se tornou leitura de grande sucesso no Brasil do século XIX.  Aliás, esse é um de dois portugueses que escreveram uma continuação de história de Carlos Magno.  O outro,  História nova do Imperador Carlos Magno, e dos doze pares de França de José Alberto Rodrigues, impressa em Lisboa em 1742.  Essa no entanto, não foi popular no Brasil. 

 

 





Um grande português, conto de Fernando Pessoa

4 06 2025
Ilustração anônima do século XIX.

Perdi recentemente cinquenta reais de uma velha maneira, num conto do vigário.  Como o engodo foi no quarteirão em que moro, a cores e viva voz, cheguei ao meu edifício comentando com o porteiro chefe que havia sido lesada por um bom vendedor.  Ele é muito bom, competente, morando no Rio de Janeiro há mais de 25 anos, vindo da Paraíba.  No entanto, a expressão ‘conto do vigário ele desconhecia.  Expliquei. Mas com a explicação, história perde muito da graça. Minha postura estava entre a pessoa que ri de si mesma e a vergonha de considerando-me tão ‘experiente’ que jamais cairia numa bobagem tão óbvia. 

Em casa, procurei a origem da expressão ‘conto do vigário’. Há muitas.  Muitas mesmo.  Minha pesquisa me deixou com uma única certeza a expressão já estava em uso, no Brasil, no inicio do século XIX. Mas aparentemente já estava em existência em Portugal. Nessa aventura literária, conheci o conto de Fernando Pessoa, Um grande português. Eu não conhecia nenhum conto do poeta português. Continuo o considerando um excelente poeta, entre os maiores da nossa língua. Nesse conto Pessoa nos dá outra possibilidade para a expressão.  Aqui está para seu deleite.

 

Um grande português

 

Fernando Pessoa

 

Vivia há já não poucos anos, algures, num concelho do Ribatejo, um pequeno lavrador, e negociante de gado, chamado Manuel Peres Vigário.

Da sua qualidade, como diriam os psicólogos práticos, falará o bastante a circunstância que dá princípio a esta narrativa.

Chegou uma vez ao pé dele certo fabricante ilegal de notas falsas, e disse-lhe: «Sr. Vigário, tenho aqui umas notazinhas de cem mil réis que me falta passar.

O senhor quer? Largo-lhas por vinte mil réis cada uma.». «Deixa ver», disse o Vigário; e depois, reparando logo que eram imperfeitíssimas, rejeitou-as: «Para que quero eu isso?», disse; «isso nem a cegos se passa.» O outro, porém, insistiu; Vigário cedeu um pouco regateando; por fim fez-se negócio de vinte notas, a dez mil réis cada uma.

Sucedeu que dali a dias tinha o Vigário que pagar a uns irmãos, negociantes de gado como ele, a diferença de uma conta, no valor certo de um conto de réis.

No primeiro dia da feira, em a qual se deveria efectuar o pagamento, estavam os dois irmãos jantando numa taberna escura da localidade, quando surgiu pela porta, cambaleando de bêbado, o Manuel Peres Vigário. Sentou-se à mesa deles, e pediu vinho. Daí a um tempo, depois de vária conversa, pouco inteligível da sua parte, lembrou que tinha que pagar-lhes. E, puxando da carteira, perguntou se se importavam de receber tudo em notas de cinquenta mil réis. Eles disseram que não, e, como a carteira nesse momento se entreabrisse, o mais vigilante dos dois chamou, com um olhar rápido, a atenção do irmão para as notas, que se via que eram de cem.

Houve então a troca de outro olhar.

O Manuel Peres, com lentidão, contou tremulamente vinte notas, que entregou. Um dos irmãos guardou-as logo, tendo-as visto contar, nem se perdeu em olhar mais para elas. O Vigário continuou a conversa, e, várias vezes, pediu e bebeu mais vinho.

Depois, por natural efeito da bebedeira progressiva, disse que queria ter um recibo. Não era uso, mas nenhum dos irmãos fez questão. Ditava ele o recibo,disse, pois queria as cousas todas certas. E ditou o recibo — um recibo de bêbado, redundante e absurdo: de como em tal dia, a tais horas, na taberna de
fulano, e «estando nós a jantar» (e por ali fora com toda a prolixidade frouxa do bêbado. . .), tinham eles recebido de Manuel Peres Vigário, do lugar de qualquer coisa, em pagamento de não sei quê, a quantia de um conto de réis em notas de cinquenta mil réis. O recibo foi datado, foi selado, foi assinado. O Vigário meteu-o na carteira, demorou-se mais um pouco, bebeu ainda mais vinho, e daí a um tempo foi-se embora.

Quando, no próprio dia ou no outro, houve ocasião de se trocar a primeira nota, o que ia a recebê-la devolveu-a logo, por escarradamente falsa, e o mesmo fez à segunda e à terceira. . . E os irmãos, olhando então verdadeiramente para as notas, viram que nem a cegos se poderiam passar. Queixaram-se à polícia, e foi chamado o Manuel Peres, que, ouvindo atónito o caso, ergueu as mãos ao céu em graças da bebedeira providencial que o havia colhido no dia do pagamento. Sem isso, disse, talvez, embora  inocente, estivesse perdido.

Se não fosse ela, explicou, nem pediria recibo, nem com certeza o pediria como aquele que tinha, e apresentou, assinado pelos dois irmãos, e que provava bem que tinha feito o pagamento em notas de cinquenta mil réis. «E se eu tivesse pago em notas de cem», rematou o Vigário, «nem eu estava tão bêbado que pagasse vinte, como estes senhores dizem que têm, nem muito menos eles, que são homens honrados, mas receberiam.» E, como era de justiça, foi mandado em paz.

O caso, porém, não pôde ficar secreto; pouco a pouco se espalhou. E a história do «conto de réis do Manuel Vigário» passou, abreviada, para a imortalidade quotidiana, esquecida já da sua origem. Os imperfeitíssimos imitadores, pessoais como políticos, do mestre ribatejano nunca chegaram, que eu saiba, a qualquer simulacro digno do estratagema exemplar. Por isso é com ternura que relembro o feito deste grande português, e me figuro, em devaneio, que, se há um céu para os hábeis, como constou que
o havia para os bons, ali lhe não deve ter faltado o acolhimento dos próprios grandes mestres da Realidade — nem um leve brilho de olhos de Macchiavelli ou Guicciardini, nem um sorriso momentâneo de George Savile, Marquês de Halifax.

 

— X —

(1926)





Soneto de Antero de Quental: Mãe

6 05 2025

Mater

Sérgio Martinolli  (Itália-Brasil, 1938) 

óleo sobre tela, 80 x 60 cm

 

Soneto

 

Antero de Quental

(1842-1891)

 

Mãe — que adormente este viver dorido,
E me vele esta noite de tal frio,
E com as mãos piedosas ate o fio
Do meu pobre existir, meio partido…

Que me leve consigo, adormecido,
Ao passar pelo sítio mais sombrio…
Me banhe e lave a alma lá no rio
Da clara luz do seu olhar querido…

Eu dava o meu orgulho de homem — dava
Minha estéril ciência, sem receio,
E em débil criancinha me tornava,

Descuidada, feliz, dócil também,
Se eu pudesse dormir sobre o teu seio,
Se tu fosses, querida, a minha mãe!





Nossa mesa, José Luís Peixoto

1 05 2025

Retrato de M. V. Dobuzhinsky à mesa, 1913

Boris Kustodiev (Rússia, 1878-1927)

óleo sobre tela

 

 

“na hora de pôr a mesa, éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
e eu. depois, a minha irmã mais velha
casou-se. depois, a minha irmã mais nova
casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viúva. cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho. mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco”

 

José Luís Peixoto





Resenha: “O segredo de Espinosa”, de José Rodrigues dos Santos

12 03 2025

Portrait of Benedictus de Spinoza, c. 1665

Anônimo

óleo sobre tela

Biblioteca Herzog August, Wolfenbüttel

 

 

Biografias de intelectuais famosos, pensadores, podem facilmente se tornar narrativas que se perdem nas explicações teóricas sobre as contribuições dos retratados.  Essas podem desinteressar o leitor comum, nem sempre motivado para aulas teóricas na leitura de entretenimento. Ou, na tentativa de agradar a maior público esses livros podem pecar também ao  passarem por cima de teoria representativa da contribuição dos biografados no intuito do texto ser melhor digerido pelo público não especializado.  Esse não é o caso de O segredo de Espinosa, de José Rodrigues dos Santos [Planeta: 2023].  Esse é um livro muito bem escrito, cobrindo a vida do filósofo Baruch Espinosa, nascido na Holanda, judeu marrano de origem portuguesa. que trata por meio de diálogos, uma boa parte dos posicionamentos de Espinoza, fazendo-os acessíveis ao leitor sem entediá-lo.

Essas ponderações são ainda mais pertinentes quando se trata de uma obra que traz ao leitor o papel da religião no dia a dia, assim como na vida do Estado. Espinosa foi um dos grandes defensores da separação entre Igreja e Estado. Levando a racionalidade de Descartes a nível não imaginado anteriormente. Considerado o filósofo que abre a era da modernidade nos estudos filosóficos, ele está hoje entre os filósofos mais influentes do mundo atual. Toda essa importância poderia tornar O segredo de Espinosa difícil de ler, difícil de interpretar, mas José Rodrigues dos Santos fez um excelente trabalho cobrindo desde a infância de Espinosa até seus últimos dias.


 

 

Além de ser fiel aos argumentos de Baruch Espinosa, José Rodrigues dos Santos presenteia o leitor com deliciosas vinhetas da vida na Holanda do século XVII, historicamente confirmadas,  assim como eloquentes cenas da política local, da população em revolta.  Não se recusa tampouco a delinear com precisão as questões religiosas e culturais complexas da época.

Ao longo da Breestraat viam-se as lojas e os armazéns a exibirem os produtos mais variados; muitos provenientes de empresas neerlandesas como a Companhia das Índias Orientais e a Companhia das Índias Ocidentais, outros de empresas portuguesas como a Carreira das Índias e a Companhia Geral do Comércio do Brasil, outros ainda de navios oriundos de Veneza, de Antuérpia, de Hamburgo ou de outros pontos, incluindo saques efetuados por corsários marroquinos. As prateleiras enchiam-se assim de porcelanas de Cantão e de Nuremberg, tapetes de Esmirna, tulipas de Constantinopla, sedas de Bombaim e de Lyon, pimenta das Molucas, sal de Setúbal, linho branco de Haarlem, lã de Málaga, faiança de Delft, sumagre do Porto, açúcar do Recife, madeira de Bjørgvin, tabaco de Curaçau, marfim de Mina, azeite de Faro. Havia ali de tudo e de toda a parte, como se o bairro português de Amsterdã fosse o bazar dos bazares, o mercado do mundo.

 

 

José Rodrigues dos Santos

Esse é um romance histórico, uma biografia cuidadosamente construída, que explora a maneira como Espinosa desenvolveu levou adiante as ideias de Descartes.  A obra afirma a retidão de seu caráter, expõe a maneira como as publicações se espalhavam no século XVII, e trabalha a narrativa de tal forma que o leitor não deseja parar de ler.  Foi um presente conhecer esse autor português.  Irei procurar outras de suas obras.  Recomendo sem qualquer restrição, foi para minha lista de favoritos.

 

NOTA: este blog não está associado a qualquer editora ou livraria, não recebe livros nem incentivos para a promoção de livros.





Amar ou odiar, soneto de Fausto Guedes Teixeira

6 11 2024
Ilustração de Lane Timothy.
Amar ou odiar

 

Fausto Guedes Teixeira

 

Amar ou odiar: ou tudo ou nada!

O meio termo é que não pode ser.

A alma tem que estar sobressaltada

Para o nosso barro se sentir viver…

 

Não é uma cruz a que não for pesada,

Metade de um prazer não é um prazer;

E quem quiser a alma sossegada,

Fuja do mundo e deixe-se morrer!

 

Vive-se tanto mais quando se sente:

Todo o valor está no que sofremos.

Que nenhum homem seja indiferente!

 

Amemos muito como odiamos já:

A verdade está sempre nos extremos

Porque é no sentimento que ela está!