Conselho do Gato Cheshire, Lewis Carroll

13 05 2025

Gatinho, 1970

Aldemir Martins (Brasil, 1922 – 2006)

óleo sobre tela, 22 x 16 cm

 

 

“Alice perguntou: Gato Cheshire… pode me dizer qual o caminho que eu devo tomar?
Isso depende muito do lugar para onde você quer ir – disse o Gato.
Eu não sei para onde ir! – disse Alice.
Se você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve.”

 

Lewis Carroll, em Alice no país das maravilhas





Curiosidade literária

8 01 2024

Charles Dickens e a pequena Nell (personagem de A velha loja de curiosidades), 1890

Francis Edwin Ewell (EUA, 1859-1934)

Bronze

Parque Clark, Filadélfia, EUA

 

 

 

O afamado escritor inglês Charles Dickens colocou em seu testamento que não queria nenhuma estátua de si mesmo, nenhum monumento.  Ele detestava esse tipo de honraria. E no entanto, no momento existem três bronzes que retratam o escritor. Há um na Pensilvânia (EUA), um em Sidney (Austrália) e o mais recente, na sua própria cidade natal, na Inglaterra: Portsmouth.

No monumento na Filadélfia ele está retratado com Nell, talvez a personagem mais querida de todas as obras de Dickens.  A maioria de suas obras foi publicada em série nos jornais (assim como muitas obras do século XIX aqui no Brasil, também, de autores brasileiros).  Nell era tão querida que, quando os navios chegaram à Nova York trazendo os últimos capítulos de A velha loja de curiosidades, uma multidão de seis mil pessoas chegou às docas, para perguntar aos viajantes ou marinheiros se a Pequena Nell morria no final do livro, tal era sua popularidade no Novo Mundo.

Interessante saber também que Charles Dickens detestava Filadélfia não tendo nada de bom a dizer sobre a cidade.  No entanto, este monumento, hoje é um dos perfis do bairro onde está, que todos os anos, produz uma festa para Dickens comemorando seu aniversário (7 de fevereiro) quando sua estátua e a de Nell são coroadas com guirlandas de flores e há leituras por horas de suas obras assim como muita música e dança.   Não adiantou nada ele não gostar de Filadélfia,  eles nem se incomodaram com isso.





Curiosidade literária

16 10 2023
Menino brincando com soldadinhos, 1930

 

 

Em 1895, H. G. Wells escreveu diversos contos e novelas hoje vistos como os parâmetros da ficção científica. Essas obras não foram bem recebidas pela crítica.  Mas, de que entendem os críticos, não é mesmo?  Aos poucos suas criações foram adquirindo leitores e mais leitores principalmente pela precisão de algumas das previsões sobre o futuro da humanidade. Ele previu a invenção do ar condicionado, da televisão, da gravação de vídeos, do uso de caminhões de muitas rodas, do aparecimento do avião e também do uso de aviões nas guerras.  E, surpreendentemente, H. G Wells previu o início da Segunda Guerra Mundial, assim como a revolução sexual, na segunda metade do século XX.

H. G. Wells se tornou muito popular pela novela Guerra dos Mundos, publicada em 1898 e transmitida pela rádio CBS dos EUA, com a potente voz do ator Orson Welles.  Essa narrativa levou pânico a milhares de americanos em 30 de outubro de 1938, pois não se deram conta de estarem ouvindo uma obra de ficção e acreditaram na invasão de marcianos acontecendo naquele momento em que ouviam a rádio.

Mas Herbert George Wells acabou sendo um pacifista lembrado por guerras, foi imortalizado também como o autor das regras dos jogos de guerra de soldados de brinquedo.  Ele publicou dois livros um pouco antes da Primeira Guerra Mundial que abordava jogos de guerra entre soldadinhos de brinquedo.   Little Wars publicado em 1913 se tornou o primeiro livro de regras para este jogo de mesa.  Por essas contribuições à recreação dos jogos com participação de batalhões de soldados de brinquedo, H. G. Wells é reconhecido hoje como “o pai dos jogos de guerra em miniatura”.

 

 

 

 

 





Curiosidade literária

6 03 2023

Senhora lendo, 2002

Dick Hoette (Holanda, contemporâneo)

 

 

Emily Brontë (1818-1848) escritora e poetisa inglesa, autora de O morro dos ventos uivantes, tinha um cachorrinho muito fiel. Aliás, não deveria ser chamado de cachorrinho.  Era, afinal, um mastiff, um cachorro grande, que pode chegar aos oitenta quilos, espaçoso, territorialista e fiel.  Ela o chamava de Keeper, cuja tradução pode ser não só “protetor, guarda, mas também aquilo que se guarda”.  Quando Emily morreu, aos trinta anos, em 1848, o cão, companheiro de passeios pelo campos e lugares desertos da paróquia de Haworth, seguiu o cortejo funerário até o cemitério e só a muito custo deixou o local retornando à casa.  Daí por diante, Keeper dormiu na porta do quarto de Emily até morrer, eternamente enlutado.





Famosa e invisível: Mrs. Grundy

28 06 2020

 

 

5c8dfa62a28072ff19e9316cc791fae7No teatro, 1928

Prudence Heward (Canadá, 1896 – 1947)

óleo sobre tela, 101 x 101 cm

 

Uma curiosidade literária: famosa personagem teatral que nunca foi vista no palco, torna-se tão popular que passa para a história da língua inglesa, como personagem que lembra decência, propriedade, disciplina, mais tarde considerada como autoridade de censura e tirania social.

Mrs. Grundy foi apresentada ao público inglês pela primeira vez por Thomas Morton, (1764-1838) famoso dramaturgo britânico, na peça Speed-the-plough, (1798) cuja melhor tradução para o título seria Seguindo em frente.  Procurei por uma tradução desta comédia em 5 atos no Brasil, não encontrei de pronto. Para essa postagem não valeria a pena procurar muito além da internet.  Nesta comédia, Mrs. Grundy é um personagem a quem outros personagens se referem, mas que nunca aparece, desde a primeira cena, quando Dame Ashfield, coberta de inveja, chega em casa e comenta com o marido que, a vizinha, Mrs. Grundy conseguiu melhor preço do que eles na manteiga e no trigo. Daí por diante,  passa a ter uma obsessão com a vizinha achando que até o sol sempre parece brilhar mais na terra alheia do que na dela.

Why don’t thee letten Mrs. Grundy alone? I do verily think when thee goest to t’other world, the vurst question thee’ll ax ‘ill be, if Mrs. Grundy’s there?” [Por que não deixas Mrs. Grundy de lado? Na verdade, acho que quando chegares no outro mundo, a primeira pergunta que farás, se Mrs. Grundy está lá?]

 

800px-Sadlers_Wells_Theatre_editedUma performance em Sadler’s Wells, c. 1808

 

Durante o século XIX Mrs. Grundy cresceu em sua importância, adquiriu algumas outras características de disciplina, defensora da moral aparecendo como autoridade dos costumes sociais e censura.  Quase quarenta e cinco anos depois de sua estreia na peça de Morton, Mrs. Grundy volta ao mundo das letras, no romance Phineas Quiddy (1842) de outro dramaturgo inglês, John Poole (1786–1872).  E em 1869, John Stuart Mill, filósofo inglês, publica o livro Sujeição das mulheres, em que defende igualdade para as mulheres, e menciona “quem tem mulher e filhas, tem reféns de Mrs. Grundy.  Daí por diante, ela é mencionada como árbitra dos costumes sociais em grande número de obras:

A feira das vaidades (1848), William Makepeace Thackeray

Tempos difíceis (1854), Charles Dickens

Mulherezinhas (1868), Louisa May Alcott

Erewhon (1871), Samuel Butler

A arte de ganhar dinheiro (1880), P.T. Barnun

Lobo do mar (1904), Jack London

Music at Night, (1931), Aldous Huxley

That Hideous Strength, (1945) C.S. Lewis

Entre muitos outros Aimée Crocker, Oscar Wilde,  William Gilbert,  G. K. Chesterton,  James Joyce, Robert A. Heinlein, Philip José Farmer, Mohandas Gandhi, Thomas Hard também se referem a Mrs Grundy.

Ficou famosa e nunca esteve no palco.  Famosa sem mostrar a cara.  Definitivamente outros tempos, sem redes sociais.

 

Citação do diálogo da peça,

Em: The Reader’s Handbook of Allusions, References, Plots and Stories, E. Cobham Brewer, London, s/d (possivelmente 1919)





Curiosidade literária: Evelyn Waugh

10 06 2019

 

 

 

EliÁguas-vivas sobre azul-anil

Eli Halpin (GB, contemporânea)

 

Em 1925, Evelyn Waugh, ainda desconhecido, sentiu-se entusiasmado com a perspectiva de trabalhar em Pisa, na Itália como secretário do escritor e tradutor Charles Kenneth Scott Moncrief, que estava naquela época envolvido com a tradução da obra de Marcel Proust,  À procura do tempo perdido, cujos primeiros dois volumes já haviam sido publicados.   Certo de que seria escolhido para a posição, Evelyn Waugh demitiu-se do trabalho como professor na Arnold House, um colégio para meninos no país de Gales.   Nesse meio tempo, ele havia mandado os primeiros capítulos de um livro que escrevia para o escritor Harold Acton [Sir Harold Mario Mitchell Acton] para que lhe desse sua opinião.  Acton não se mostrou entusiasmado.  Muito pelo contrário, reagiu de maneira bastante fria à proposta de Waugh, que ao perceber a reação do amigo de longa data, que, em parte, dizem ter inspirado o personagem ‘Anthony Blanche’ da obra Memórias de Brideshead, publicada anos mais tarde, Waugh prontamente queimou todo o manuscrito.

Logo depois de ter deixado sua posição na Arnold House, Evelyn Waugh soube que a posição de secretário de Moncrief não iria se concretizar. Essas duas derrotas, para quem estava tão certo de sucesso, foram suficientes para que Waugh entrasse em depressão e considerasse seriamente o suicídio.  É através de suas recordações que sabemos que ele levou a ideia do suicídio a sério.  Escreveu uma carta de adeus, foi à praia e deixando suas roupas embrulhadas junto com a carta, dirigiu-se ao mar com o objetivo de se afogar.  Eis que, já imerso na água, vencendo as ondas, é atacado por águas-vivas.  A dor e o desconforto foram tais, que ele voltou imediatamente para a areia, desistindo do plano.

E a literatura inglesa deve às águas-vivas a descoberta de um de seus grandes escritores do século XX.





“O papagaio de Flaubert” de Julian Barnes, resenha

19 12 2017

 

 

 

1862-64 Woman with Parrot oil on board 28 x 20 cm Private Collection.jpgPaul Cézanne 1862-64 Woman with Parrot oil on board 28 x 20 cm Private CollectionMulher com papagaio, 1864

Paul Cézanne (França, 1839-1906)

óleo sobre tela, 28 x 20 cm

Coleção Particular

 

 

 

Há escritores que tentam mudar a forma literária e não têm sucesso.  Expandir algo que já se estabeleceu há séculos é difícil.  Já encontrei dezenas de livros cuja leitura encontra obstáculos:  personagens que levam ícones no lugar de nomes à moda do cantor/compositor Prince; textos sem pontuação, sem parágrafos rolando com o objetivo de cascatearem aos nossos ouvidos, mas que ao término não passam de chuvas de granizo, pedras de gelo ferindo a fluidez da narrativa.  Nada disso acontece com a prosa de Julian Barnes, em seu livro, talvez o mais famoso deles, O papagaio de Flaubert, no Brasil traduzido por Manoel Paulo Ferreira.  Colocado entre os finalistas do Prêmio Man-Booker de 1984, quando Anita Brookner (GB, 1928-2016) venceu com Hotel do Lago, O papagaio de Flaubert mostra, hoje, 33 anos depois, ter maior resistência ao tempo. Isso não desmerece o prêmio dado à escritora britânica, que está entre minhas escritoras favoritas, não só pela bela prosa, mas por ter abraçado a mesma profissão que eu: historiadora da arte. Mas em sua pequenina obra, Julian Barnes  consegue esfumar os limites narrativos, retirando os contornos:  trata-se de um ensaio? De um romance? De uma biografia? De uma autobiografia?  Quando se chega ao fim, dá vontade de voltar ao início. Merece uma segunda leitura, com outros olhos, mais sagazes, mais conhecedores.  Torna-se uma obra circular, que encanta, deslumbra e seduz.

Geoffrey Braithwaite é médico.  Faz uma visita à França, com o propósito de aliviar a dor da viuvez. Lá é atraído por uma discrepância observada em dois museus franceses que mostram um papagaio empalhado como sendo aquele que o escritor Gustave Flaubert teria possuído e usado como modelo para o papagaio do conto Um Coração Simples, parte do livro Três Contos. Grande admirador do escritor francês, Geoffrey Braithwaite que já pensava em escrever um biografia do autor, começa a esmiuçar a vida do autor de Madame Bovary.  Cada capítulo toma um aspecto da vida de Flaubert, de Braithwaite, das obras do escritor, das divergências encontradas em edições independentes dos romances.  De pulo em pulo, conhecemos detalhes da vida de Flaubert, suas viagens, mãe, amantes, o celibato. Vislumbramos preocupações e o escopo do sucesso.

 

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Aos poucos, no entanto, perdemos a noção entre fato e ficção. Será que lemos o que realmente aconteceu?  Quão verdadeiras são as informações que nos dão? Seria este ou aquele fato uma conclusão do médico que ajuda a narrar a vida de Flaubert?  As dúvidas aparecem de mansinho e finalmente ocupam toda leitura.  O ceticismo aumenta.  Ao final, não sabemos nada.  Será que lemos sobre Flaubert ou sobre Braithwaite?  Este romance/biografia é uma das mais inteligentes construções literárias da literatura moderna.  É uma tour de force e serve muito bem de exemplos de narrativas a que qualquer estudante do curso secundário deveria ser exposto: é inteligente, faz pensar e brinca com a lógica.

É um livro incomum. Podendo ser considerado até mesmo experimental. Parece ser feito de histórias desconexas, entradas em diários, fábulas.  Parece crítica literária, meditação, biografia e ensaio. É uma mistura de todos esses gêneros contada com grande senso de humor e um tanto de sátira. Excede os limites na estrutura, não tem trama. Narrativa e leitura são circulares.  Por isso mesmo pode ser considerado um dos grandes romances do final do século XX. Como um catálogo de amostras, convence o leitor da habilidade do autor que recria para nós o mundo de Emma Bovary, discute a cor de seus olhos e entrelaça essa narrativa com a de Geoffrey Brathwaite que, espelha de certo modo o sofrimento com o adultério e luto, estampados na obra mais famosa de Flaubert.

 

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Julian Barnes talvez esteja entre os autores contemporâneos de maior erudição.  Sua prosa, suas conexões fascinam.  Ele gosta de um jogo de ideias, de palavras.  Joga verde e colhe maduro, mas sua erudição não se torna pernóstica, ao contrário, ela serve de fio de Ariadne para nossa leitura. Além de todas essas características O papagaio de Flaubert é uma obra moderna: exige participação do leitor.  É ele quem conecta os elementos heterogêneos e os organiza de maneira significativa.  Frases e palavras, assim como temas, aparecem de um capítulo ao outro, sem aparente conexão, até que se percebe que há uma ligação das ideias postuladas, dos símbolos mencionados e até mesmo dos personagens  e o narrador, quando se chega finalmente às últimas linhas da narração.

Com essa leitura, tomei a decisão de voltar a ler Flaubert.  E certamente não deixarei nenhuma obra de Julian Barnes escapar dos meus olhos ávidos.  Recomendo entusiasticamente.

 

 

NOTA: este blog não está associado a qualquer editora ou livraria, não recebe livros nem qualquer incentivo para a promoção de livros.





Ricardo Lísias sobre Nobel de Ishiguro

6 10 2017

 

 

122-Carolina-Wren-Bird-Painting-Collectible-BooksIvanhoé

Camille Engel (EUA, contemporânea)

óleo sobre tela,  50 x 40 cm

 

 

“O Prêmio Nobel a Kazuo Ishiguro destaca não apenas um romancista notável, cheio de recursos e muito lúcido, mas também uma consciência que está o tempo todo nos avisando, através da forma literária, de que há algo de muito perigoso se movimentando debaixo dos nossos olhos.  Uma excelente escolha, que dá um pouco de fôlego em um tempo que parece sufocado por conservadorismos tacanhos e violentos. Ishiguro é o contrário disso: ele é excelente.”

 

Em: “Um pouco de fôlego num momento conservador“, Ricardo Lísias, O Globo, Segundo Caderno, página 2; 6 de outubro de 2017.

 





As possessões da classe alta, texto de Julian Fellowes

15 11 2016

 

 

antiquárioClarabela vai ao antiquário © Walt Disney.

 

 

“A classe alta inglesa tem uma necessidade enorme e inconsciente de mostrar que é diferente graças ao que possui. Para eles, nada é mais deprimente (ou menos convincente) do que ter um status, um prestígio, algum lastro familiar, e não comprovar. Eles jamais pensariam em decorar um quarto de solteiro em Putney sem pendurar na parede uma estranha aquarela de uma avó usando crinolina; sem expor duas ou três antiguidades de valor e, sobretudo, algum objeto que denote uma infância privilegiada. Tudo isso é uma espécie de língua de sinais que mostra ao visitante o lugar ocupado pelo dono ou dona da casa dentro do sistema de classes…”

 

 

Em: Esnobes, Julian Fellowes, Rio de Janeiro, Rocco: 2016, páginas 128-9.

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Sobre artistas , escritores ou pintores, texto de Ian McEwan

30 10 2016

 

 

botero-fernando-nun-readingFreira reclinada, lendo, 1986

Fernando Botero (Colômbia, 1932)

óleo sobre tela

 

 

“Certos artistas, escritores ou pintores, florescem em espaços confinados como os bebês em gestação. Seus temas estreitos podem desconcertar ou desapontar algumas pessoas. Rituais de fazer a corte entre os membros da pequena nobreza do século XVIII, a vida sob os velames de um barco,coelhos falantes, lebres esculpidas, retratos de gente obesa, de cachorros, de cavalos, de aristocratas, nus reclinados, milhões de cenas da natividade, crucificações, subidas ao céu, tigelas com frutas, flores em vasos. E pão e queijo holandeses com ou sem uma faca ao lado. Alguns escritores de prosa cuidam apenas de seus egos. Também no campo científico há quem dedique a vida a uma caramujo albanês ou a um vírus. Darwin consagrou oito anos às cracas. E, mais velho e mais sábio, às minhocas. Milhares de pesquisadores passaram a vida correndo atrás do bóson de Higgs, uma coisinha de nada. Estar  circunscrito a uma casca de noz, ver o mundo em cinco centímetros de marfim, num grão de areia. Por que não, quando toda a literatura, toda arte e a iniciativa humana não passam de uma partícula no universo das coisas possíveis? E mesmo nesse universo pode ser uma partícula numa infinidade de universos reais e possíveis?”

 

Em: Enclausurado, Ian McEwan, São Paulo, Cia das Letras: 2016, tradução de Jorio Dauster, páginas 69-70;

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