Águas-vivas sobre azul-anil
Eli Halpin (GB, contemporânea)
Em 1925, Evelyn Waugh, ainda desconhecido, sentiu-se entusiasmado com a perspectiva de trabalhar em Pisa, na Itália como secretário do escritor e tradutor Charles Kenneth Scott Moncrief, que estava naquela época envolvido com a tradução da obra de Marcel Proust, À procura do tempo perdido, cujos primeiros dois volumes já haviam sido publicados. Certo de que seria escolhido para a posição, Evelyn Waugh demitiu-se do trabalho como professor na Arnold House, um colégio para meninos no país de Gales. Nesse meio tempo, ele havia mandado os primeiros capítulos de um livro que escrevia para o escritor Harold Acton [Sir Harold Mario Mitchell Acton] para que lhe desse sua opinião. Acton não se mostrou entusiasmado. Muito pelo contrário, reagiu de maneira bastante fria à proposta de Waugh, que ao perceber a reação do amigo de longa data, que, em parte, dizem ter inspirado o personagem ‘Anthony Blanche’ da obra Memórias de Brideshead, publicada anos mais tarde, Waugh prontamente queimou todo o manuscrito.
Logo depois de ter deixado sua posição na Arnold House, Evelyn Waugh soube que a posição de secretário de Moncrief não iria se concretizar. Essas duas derrotas, para quem estava tão certo de sucesso, foram suficientes para que Waugh entrasse em depressão e considerasse seriamente o suicídio. É através de suas recordações que sabemos que ele levou a ideia do suicídio a sério. Escreveu uma carta de adeus, foi à praia e deixando suas roupas embrulhadas junto com a carta, dirigiu-se ao mar com o objetivo de se afogar. Eis que, já imerso na água, vencendo as ondas, é atacado por águas-vivas. A dor e o desconforto foram tais, que ele voltou imediatamente para a areia, desistindo do plano.
E a literatura inglesa deve às águas-vivas a descoberta de um de seus grandes escritores do século XX.