Jardim Botânico do Rio de Janeiro, foto: Ladyce West
Um hábito meu das quintas-feiras de manhã é procurar no jornal pela coluna de Cora Rónai. Hoje de manhã, tive que sorrir muito com o que Cora escreveu e esperei até agora à noitinha para passar para o blog, seu texto, porque concordo plenamente com todas as palavras da nota. Aqui vai:
A Cara do Rio
Cora Rónai
O Rio contradiz os poetas e as letras de música que cantam a primavera. É só olhar pela janela para ver que o outono é, disparado, a estação mais bonita da nossa cidade: céu azul, temperatura razoável e aquela luz que transforma tudo. Nesses dias, sobretudo à tardinha, pouco antes de o sol se pôr, a gente consegue até esquecer os problemas de que se queixa no resto do ano.
A praia está uma glória, e a Lagoa parece mesmo um espelho d’água, refletindo as nuvens nos mínimos detalhes. A imagem só se quebra quando as garças e biguás aparecem para jantar, quando um peixe salta no ar ou quando os remadores dão a volta, lépidos e atléticos, matando de inveja os sedentários que os observam das margens. Qualquer desavisado que resolva interpretar a cena pela quantidade de celulares e câmeras apontados para a paisagem pode imaginar, perfeitamente, que estamos numa das cidades mais seguras do mundo.
No Jardim Botânico, um casal de turistas pede que eu faça a sua foto em frente ao chafariz. A câmera é uma velha Pentax analógica, que me desconcerta por uns instantes: cadê o visor? Capricho no clique, e eles se despedem me desejando um bom resto de tarde e uma viagem segura de volta.
Eu agradeço e vou embora sem esclarecer o equívoco. Não quero humilhar ninguém dizendo que moro aqui.
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Em: O GLOBO, quinta-feira 28 de maio de 2009. Segundo Carderno, página 12.
Se você não conhece ainda o blog da Cora Rónai deve acessá-lo, vale a pena: internETC Também é a cara do Rio.






