Mudança de estação, texto de Nagai Kafu

27 09 2016

 

 

tsuchiya-koitsu-woodblock-print-teahouse-yotsuya-arakiCasa de chá, Yotsuya, Araki, 1937

Tsuchiya Koitsu, (Japão, 1870-1949)

xilogravura policromada

 

 

 

“Com o inverno se aproximando, as pessoas já não usavam mais quimonos leves. Os perfumados shimeji já não eram o prato mais requisitado do cardápio no restaurante Kagetsu, e os matsutake, caríssimos no início do outono, agora serviam para dar gosto aos ensopados na Casa Matsumoto. Os crisântemos, que até pouco tempo atrás haviam atraído multidões ao parque de Hibiya, desapareceram, dando lugar às folhas secas que o vento levava pelos caminhos de cascalho onde os meninos jogavam bola. O parlamento reabrira, e aos clientes habituais das casas de chá de Shinbashi vieram se somar as caras caipiras dos políticos do interior. Todos os estabelecimentos estavam lotados com financistas, ou ainda com convidados de importantes homens de negócios, vindos de reuniões de diretoria que aconteciam no bairro contíguo de Marunouchi. Aumentava o número de boatos sobre quais aprendizes haviam se tornado gueixas do ano passado para cá. Em Ginza, as folhas dos salgueiros já estavam amarelas, mas ainda não haviam começado a cair. As decorações das lojas mudaram, e viam-se aqui e ali flâmulas vermelhas e azuis, anunciando as promoções de fim de ano. As bandinhas musicais ocupavam as esquinas, e as pessoas apressavam o passo ao passarem pelo barulho. Nas manchetes gritadas pelos jornaleiros, as edições extras dos jornais anunciavam o início da temporada de sumô. As gueixas começavam a fazer as contas para os preparativos do Ano Novo, e, mesmo diante dos clientes, não hesitavam em pegar a caderneta e puxar do obi um lápis com a ponta por fazer, lambendo o grafite para anotarem os compromissos da primavera.”

 

 

Em: Guerra das Gueixas, Nagai Kafu, tradução de Andrei Cunha, São Paulo, Estação Liberdade: 2016, página 134 [original de 1918]

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