Curiosidades de Paris, por volta de 1300

18 07 2023

Drawing of houses on historical bridge Pont au change Medieval Paris

Ilustração de Paris Medieval, imaginária.

Quem visita Paris hoje, não tem ideia de como a cidade era na Idade Média.  A Paris dos séculos passado e deste reflete a grande reforma e destruição dos edifícios medievais trazidos pelo Barão Haussmann, prefeito do Sena, durante os vinte anos do governo de Napoleão III (1853-1873).

O que se sabe, da Paris medieval é em grande parte graças ao trovador Guillot, morador de Paris, que por volta de 1300, compôs a primeira lista de nomes de ruas da cidade na publicação Le Dit de Rues de Paris: um poema com 554 versos, descrevendo as ruas da cidade entre 1280-1300.  Nessa obra ele indica a existência de 310 ruas em três bairros.

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Mapa de Paris na época de acordo com o Le Dit de Rues de Paris, de Guillot.

As ruas se dividiam em: 80 no Outre-Petit-Pont [Rive Gauche];  36 na Cité [a ilha propriamente dita]; e 114 no bairro Outre-Grand-Pont [Rive Droite].  Calcula-se que a população em 1292 tenha sido de 216.000 e 275.000 em 1328, portanto uma cidade crescendo rapidamente, um aumento de quase 28% de habitantes em trinta anos.

Nessa época Paris tinha ruas estreitas, em geral cinco metros entre um lado e outro da rua.  Grandes ruas tinham no máximo sete metros de largura. Eram ruas escuras, mal cheirosas, e a grande maioria não tinha pavimentação.  Casas estreitas, com arquitetura enxaimel, tinham uma ou duas janelas por andar.  Além do andar térreo, poderiam ter de três a quatro andares.  Só as casas dos nobres e da classe comerciante (burguesa) tinham cozinhas e chaminés.  As casas davam aos seus habitantes abrigo, mas mal deixavam a luz do dia entrar.

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Algumas dessas notas sobre Paris, que posto aqui no blog, são fruto de pesquisa para meu futuro livro  sobre Watteau, pintor do século XVII.  Da séria: Obras Primas da Arte Ocidental. Aguardem.  Final de 2024.




Escrevendo resenhas

20 03 2018

 

 

 

escrevendo, perfil

 

 

Muitas vezes me perguntam a razão de escrever resenhas de livros.  É minha maneira de colocar um ponto final na leitura.  Não tenho treinamento em literatura, em história da literatura, apesar de ter inicialmente começado meus estudos universitários na Universidade Federal Fluminense em francês.  Mas logo saí para a história da arte.

Nessa época, eu já estava familiarizada com muitas obras da literatura francesa, por ter frequentado desde os onze anos de idade a Alliance Française. O método de ensino da Aliança sempre utilizou textos da literatura para ilustrar a cultura e a língua.  Além disso, tive muita sorte de ter usufruído, quando ainda estava com meus quinze, dezesseis, dezessete anos,  das aulas de Monsieur Cox, na Aliança de Copacabana, à rua Duvivier, em que ouvíamos as gravações de peças de Molière, Racine e outros dramaturgos clássicos franceses, feitas pela Comédie-Française. Acompanhávamos as vozes dos atores lendo os textos e parando de vez em quando para as explicações de M. Cox, em francês, é claro, linha por linha, colocando em contexto de época, social e cultural aquilo que ouvíamos, o que se passava no palco.  Era só som.  Nada mais.  Nenhum filme ou vídeo.  Uma das melhores maneiras de se treinar o ouvido, e certamente um dos mais interessantes cursos de francês e de literatura que já tive.  Talvez seja por isso que tenho muito carinho pela cultura francesa e que não deixo de assistir ao programa La Grande Librairie, na TV5, com François Busnell, que todos podem acessar pela internet também e ganhar conhecimento testemunhando as maravilhosas conversas de Busnell com escritores da atualidade franceses ou não.  Mas essa é uma grande digressão.

Escrevo resenhas em parte para resolver para mim mesma as razões de ter “gostado” ou não de um romance.  Em geral só escrevo sobre aqueles livros que são bons, muito bons, ou espetaculares.   Livros de que não gosto, em geral deixo passar.  A não ser que o não gostar tenha chegado a um nível de desgosto tão grande, mas tão grande que não posso me conter e preciso espalhar a notícia a todos que ainda pensam em poder ler aquele traste.  São poucos os que me afetam dessa maneira.

Uma coisa que talvez passe desapercebida para os leitores é que mudo de opinião à medida que vou escrevendo minha resenha.  Um livro às vezes vai do bom ao brilhante, quando percebo, por ter que pensar nele e em suas diversas correlações, o quão complexo ele é, e o quanto eu poderia ter apreciado ainda mais na minha leitura.  Um livro em que isso aconteceu recentemente foi A vida peculiar de um carteiro solitário, do canadense Dénis Thériault, que considerei bom, mas melhor ainda quando escrevi sobre o livro, e ainda mais espetacular quando, após ter escrito a resenha, contei para amigos a história do carteiro.  De repente, eu vi que tinha lido um daqueles livros muito, muito bons.  Mas raramente o contrário acontece.  Então, a resenha, sedimenta as minhas primeiras observações.  Isso não quer dizer que eu não mude de ideia mais tarde.