Ilustração anônima: mãe e filhos, 1900 do livro de histórias de Peter Pan.
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Meus filhos! … Minha alegria!
Dentro da minha pobreza,
nunca pensei ter um dia
tão opulenta riqueza!
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(Lilinha Fernandes)
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Meus filhos! … Minha alegria!
Dentro da minha pobreza,
nunca pensei ter um dia
tão opulenta riqueza!
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(Lilinha Fernandes)
Ilustração, Walt Disney.—
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Se o seu cérebro fosse uma conta de e-mail, o sono – e, mais especificamente, os cochilos – seriam o equivalente a limpar a caixa de entrada. É essa a conclusão de um novo estudo que pode explicar por que as pessoas dedicam tanto do tempo que passam dormindo a um estado pré-sonho conhecido como estágio 2, de sono sem movimento rápido dos olhos (REM).
Há anos os estudos sobre o sono ofereciam indicações de que uma soneca poderia melhorar a capacidade humana de armazenar e consolidar memórias, o que reforça a ideia de que uma boa noite de sono – e cochilos ocasionais – ajuda bem mais a aprender do que virar a madrugada estudando.
Agora, os cientistas podem ter descoberto, ainda que apenas parcialmente, como isso acontece. Durante o sono, informações que ficam abrigadas no setor de armazenagem curta do hipocampo – a parte do cérebro responsável pela memória – migram para o banco de dados de prazo mais longo localizado no córtex.
Essa ação não só ajuda o cérebro a processar novas informações como libera espaço para que o cérebro absorva novas experiências. Isso significa que “não é só importante dormir depois de aprender; é crucial dormir antes de aprender“, diz Matthew Walker, da Universidade da Califórnia em Berkeley, o diretor científico do estudo, em entrevista coletiva.
“O sono prepara o cérebro, posicionando-o como uma esponja seca e pronta a absorver novas informações“, disse.
Em seu mais recente trabalho, apresentado em uma reunião da Sociedade Americana para o Progresso da Ciência, em San Diego, Walker e seus colegas pediram a 39 jovens adultos que executassem diversas tarefas relacionadas ao aprendizado factual. Um grupo foi convidado em seguida a tirar uma soneca de 90 minutos, enquanto o outro permanecia desperto. Depois, os dois grupos realizaram nova rodada de tarefas. Os participantes que não haviam cochilado se saíram muito pior do que o grupo do cochilo, constataram os pesquisadores.
Uma medição da atividade elétrica cerebral dos participantes que haviam cochilado revelou que sua memória “cache” se havia esvaziado durante o sono de estágio dois. Ainda que o estágio do sonho, ou sono REM, talvez seja mais conhecido, os seres humanos passam cerca de metade de cada noite em sono de estágio 2, no qual não ocorre REM. O sono com REM é crucial para o raciocínio mais complexo, por exemplo buscar conexões não óbvias entre fatos previamente aprendidos – um processo que Walker descreve como “uma busca no Google feita da maneira certa – ou errada“.
“Quando você tem um problema, ninguém diz ‘fique acordado que amanhã isso passa’“, brincou o pesquisador. Em lugar disso, o sono, ou mais especificamente o sono com REM, é uma maneira de o cérebro receber informações que inicialmente podem não parecer relacionadas à sua ¿busca¿ mental, e assim permitir o desenvolvimento de soluções criativas. De fato, ele afirmou, os nossos sonhos podem ser uma espécie de campo de provas para a solução inconsciente de problemas.
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Infelizmente, as novas constatações não significam que todo mundo se beneficiaria de um cochilo vespertino, apontou Sara Mednick, professora de psiquiatria na Universidade da Califórnia em San Diego. Ela lembra que algumas das pessoas que tiram cochilos despertam zonzas e desorientadas devido à chamada inércia do sono. “Isso é o que acontece ao despertarmos de um sono profundo, de ondas lentas“. Porque a temperatura do cérebro e seu fluxo sanguíneo se reduzem no estágio dois do sono, é incômodo despertar subitamente e passar a um nível muito mais acelerado de atividade cerebral.
Estudos anteriores haviam demonstrado que as pessoas que costumam cochilar tendem a dormir de modo mais leve. Isso significa que passam muito menos tempo, pelo menos nas horas iniciais do sono, em um sono profundo desprovido de REM. Se um cochilo o deixa zonzo, também é possível obter um estímulo semelhante de desempenho em certas atividades mentais ao simplesmente descansar a cabeça, ela diz.
“Em alguns casos“, afirma Mednick, “um período de repouso silencioso e um cochilo oferecem o mesmo benefício de memória“.
Fonte: TERRA
Tradução: Paulo Migliacci ME
Andō Hiroshige (Japão, 1797-1858)
Xilogravura policromada
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O contato que durante 96 anos uniu portugueses e japoneses a partir de meados do século XVI ainda hoje se faz sentir, no campo das palavras. Segundo o filólogo japonês Tsujiro Koga, a língua portuguesa penetrou largamente em Nagasaki onde os vocábulos lusos chegavam a contar quatro mil. Armando Martins Janeira fez o apanhado das palavras portuguesas introduzidas no vocabulário nipônico. São aproximadamente 400.
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No campo dos doces e das comidas estão as palavras:
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Pão — “pan”
Amêndoa — “amendô”
Marmelo — “marumero”
Vaca — “waka”
Pão de ló — “pandoro”
Biscoito — “bisukouto”
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Na indumentária:
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Botão — “botan”
Capa — “kappa”
Saia — “saya”
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Termos religiosos — introduzidos pelos missionários jesuítas:
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Cristo — “Kirishito”
Diabo — ” jiabo”
Evangelho — “ewanzeryo”
Jesus — “Zesus”
Missa — “misa”
Padre — “bateren”
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Outras:
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Álcool — “arukoru”
Sabão — “shabon”
Varanda — “beranda”
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Mas a língua portuguesa também sofreu influência nipônica:
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“biobo” — biombo
“bozu” — bonzo
“kaki” — caqui
“katana” — catana
“chawan” — chávena
“chá” — chá
“haikai” — haikai
“kamikaze” — camicase
“karate” — caratê
“kara-okê” — caraoquê
“ninja” — ninja
“tatami” — tatame
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Há entre elas também as palavras de origem japonesa, nomeando hábitos, costumes, esportes, aspectos da vida japonesa, que entraram para o português, mas que ainda se reportam quase que exclusivamente a hábitos e costumes japoneses:
Gueixa, Judo, Quimono, Origami, Bonsai, Samurai, Saquê, Iquebana, Mangá, Sushi, Sashimi, Yakisoba
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Você conhece mais alguma palavra? que tenha origem no Japão e seja usada em português?
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Sobre o artista da xilogravura:
Hiroshige (1797-1858), também conhecido como: Andō Hiroshige (安藤広重) (uma forma irregular de combinar o nome da família com o nome artístico ou como Ichiyūsai Hiroshige (一幽斎廣重) seu nome artístico. Pintor e gravador japonês, conhecido sobretudo por suas xilogravuras de paisagens. Foi o último grande professor de Ukiyo-e, ou escola de gravura popular, e converteu as paisagens cotidianas em cenas líricas de grande intimismo que lhe proporcionaram um êxito comercial ainda maior que o de seu contemporâneo Hokusai. Sua obra-prima é a série de gravuras Tokaido gojusan-tsugi (As Cinqüenta e Três Estações do Tokaido).
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Artigo sobre a língua portuguesa, parciamelmente baseado no artigo do jornal português, Correio da Manhã de 26/01/ 1988.
Denisa deu à luz uma fêmea no parque zoológico israelense.
Uma girafa de 19 anos deu à luz seu 11º filhote no Safari Park de Ramat Gan, nas redondezas de Tel Aviv.
A girafa Denisa, uma veterana em se tratando de maternidade, ganhou uma fêmea.
Fonte: FOLHA
Hipopótamo recém-nascido se alimenta junto a sua mãe, no viveiro da espécie dentro do zoo Blijdorp em Roterdã. Os biólogos esperam que a mãe não rejeite a nova cria durante o processo de adaptação dos animais
Foto: Reuters
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Um filhote de tigre do sul da China (Panthera tigris amoyensis) de sete meses foi exibido terça-feira passada pela Base de Conservação de Suzhoua. A instituição é uma das maiores do país na preservação desta espécie e, além do pequeno felino, também abriga outros 14 tigres nascidos em cativeiro. A espécie tem proteção total do governo chinês por estar ameaçada de extinção. Exemplares selvagens são raros de se encontrar no habitat natural. O tigre do sul da China, também conhecido como tigre Amoy ou tigre de Xiamen, pode pesar entre 130 a 175 kg e medir entre 2,30 a 2,60 m de comprimento.
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Fonte: Terra
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Há tempos eu não lia compulsivamente. Em geral leio de dois a três livros simultaneamente, mas confesso que no mês de janeiro houve duas narrativas, completamente distantes uma da outra que não me deixaram dividir meu tempo livre com qualquer outra história. Foram leituras sedutoras do início ao fim e que pediram e ganharam a minha total atenção enquanto leitora: O tigre branco, de Aravind Adiga [Nova Fronteira: 2008] e A solidão dos números primos de Paolo Giordano [Rocco: 2008]. Hoje vou me concentrar no livro italiano.
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Eu não teria acreditado, se me dissessem, que eu iria me interessar, que iria ler apaixonadamente, um romance que tratasse das vidas de pessoas muito complexas, que carregavam traumas da infância. Pessoas que cresceram no meio de famílias ineptas, que não conseguiam lhes dar atenção. Famílias, pais, que não notam as carências dos filhos, que os deixam sofrer distúrbios emocionais. Essa descrição dos dois principais personagens de A solidão dos números primos, Alice e Mattia, teria simplesmente feito com que eu fechasse o livro e dito: Não sei se me encontro num momento emocional para ler sobre este tipo de tragédia. Ando a procura de uma história mais branda… Que erro eu teria cometido! Porque não teria sido apresentada a esta história maravilhosa, a este livro sedutor.
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Mas aí entra a arte deste recém descoberto escritor, Paolo Giordano. Sua primeira profissão é a física. É formado em Física pela Universidade de Turim, onde ganhou uma bolsa de doutoramento em Física de Partículas. A segunda profissão, só agora começada, é a de escritor. Não sei se uma tomará a frente da outra. Numa entrevista à revista Elle, o escritor, que foi agraciado com o maior prêmio literário da Itália, o Prêmio Strega, em 2008, por este primeiro romance, com o qual também recebeu uma menção honrosa do Prêmio Campiello no mesmo ano, garante que gosta mais de escrever. Espero que sim, pois revelou uma voz única e bem sucedida.
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Parte do sucesso dessa narrativa vem da revelação, muito bem descrita, dos sentimentos de inadequação dos adolescentes, sentimentos que serão permanentes em cada um dos protagonistas. Alice e Mattia têm essa inadequação elevadíssima: conseqüência do sofrimento físico ou psicológico sofrido por cada um na infância. Vivem em extrema solidão, mesmo sendo membros de famílias confortavelmente estabelecidas na classe média. Acompanhamos suas vidas de 1983 a 2007. Enquanto Mattia, que tem o perfil de um gênio, se refugia na matemática, onde consegue se realizar – porque nela sentimentos não são necessários; Alice encontra abrigo na anorexia, onde se sente confortável emocionalmente, habituada que está à ausência dos alimentos emotivos de que sua alma, seu espírito, precisa. Ambos são ímpares em seus respectivos casulos emocionais e é exatamente isso o que os aproxima e o que nos aproxima dos personagens.
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Fato é que conhecemos estes personagens. Se não são nossos filhos, irmãos, primos ou sobrinhos, estão no círculo de amigos, amigos de amigos, filhos de amigos, companheiros com quem nos relacionamos. Reconhecemos alguém próximo e com a narrativa sedutora, rápida e contemporânea de Paolo Giordano seria difícil não nos aproximarmos emocionalmente, não acharmos Alice e Mattia fascinantes.
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Paolo Giordano
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Dizer que a matemática tem poesia é lugar comum. Mostrá-la é único! Neste livro a matemática é usada como metáfora, magistralmente: Os números primos são divisíveis apenas por um e por si mesmos. Estão em seus lugares na série infinita dos números naturais, comprimidos entre dois, como todos, mas um passo adiante em relação aos outros. São números suspeitos e solitários, e por isso Mattia os achava maravilhosos. E nas mãos hábeis de Paolo Giordano, nós também achamos os números primos maravilhosos.
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Leia. Não se arrependerá!
Ilustração de Meredith Johnson—
Zilda Maria Vasconcellos
Bem na pontinha dos pés,
sobre a erva do caminho,
com os sapatos na mão,
fui caminhando sozinho.
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Belo dia de verão!
Tudo parado, quietinho…
perfumes para todo lado,
e um gostoso calorzinho.
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O sol bateu em meu rosto
e a leve aragem do vento.
Fui caminhando com gosto
num passo lento, bem lento.
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Demorei a encontrar
as minhas vespas amigas,
as cigarras a cantar,
as diligentes formigas.
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Então, no grande silêncio,
uma formiga ouvi:
Precisamos trabalhar,
O outono está quase aí.
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Já vão-se abrir as escolas,
Irás estudar também.
Adeus, meu bom amiguinho,
até o verão que vem!
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Em: O mundo da criança, vol. 1: poemas e rimas, Rio de Janeiro, Editora Delta: 1971
Receita de verão: sombra, banco, sem camisa, e um bom livro!. Parque Lage, Rio de Janeiro.
Foto: Ladyce West
Manaus, foto antiga, coleção Allen Morrison.
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Se eu tivesse que expressar visualmente a minha impressão do livro de Milton Hatoum, Relato de um certo oriente, teria que dizer que como leitora, fui habilmente seduzida por um texto cuja história se mostra tímida, escondida nas entrelinhas, e que vai se revelando, a contragosto, com algumas contorções, com gestos delicados e incompreensíveis, com mudanças de ritmo e de perspectiva. Foi como se eu tivesse sido vítima de magia, encantada por uma Salomé, por uma dançarina oriental, debaixo de sete véus. Infelizmente, Milton Hatoum não me deu, como leitora, a oportunidade de descobrir a total beleza da mulher que se desnuda à minha frente. O último véu, aquele que encobria o rosto, aquele que só me permitia, até o último momento, ver só os olhos pelos quais me aproximei da história, esse véu não caiu. A última barreira para a identidade da narradora dessa trama, para o seu nome, fica presa naquela película translúcida através da qual sinto a presença da face. Gostaria de que esse véu tivesse também caído, para saber ao certo, sem quaisquer dúvidas, a identidade dessa personagem, filha adotiva, sem-nome, que volta à casa da infância e se lembra das histórias do passado. Os detalhes do rosto que vislumbro e que imagino, no entanto, nessa dança sedutora, não me são jamais revelados. Foi grande a frustração causada pela narrativa dissimulada, oblíqua da história desta família de imigrantes do Oriente Médio no Amazonas. Terminado o texto, voltei ao início do livro para ter certeza de que não havia perdido algum detalhe que houvesse me desviado para um final inconclusivo, mas continuei, depois de reler o texto, com a inconveniente sensação de uma narrativa que carecia de um único detalhe para um desfecho pleno, satisfatório.
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Esse é o terceiro livro de Milton Hatoum que leio. Já havia lido Dois irmãos, de que gostei imensamente, e Órfãos do Eldorado, cuja resenha pode ser encontrada aqui no blog. Esse grande escritor amazonense me agrada. Aprecio sua dedicação à memória, à memória cultural, à memória individual. Sem ela não somos, simplesmente estamos. Milton Hatoum tem uma maneira onírica de contar histórias e é capaz de nos levar facilmente a um mundo meio-sonho, meio realidade, à zona da imaginação que pontua narrativas de um passado não muito distante. Como nos livros citados acima, este romance também se passa em Manaus, essa última fronteira, terra de água e de floresta, de culturas imigrantes e nativas. Ali os mundos se encontram e aprendem a conviver.
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A trama é centralizada numa família, cujos principais componentes e eventos que a cercam são contados não só pelas lembranças da principal narradora, uma mulher que, passados vinte anos, retorna ao lar da infância, mas por outras vozes também. Ela era a filha adotiva do casal de imigrantes, e permanece o centro das recordações. A narrativa é composta de diversas memórias, não só dessa filha, mas também de outros membros da família, de amigos, memórias que se entrelaçam e se confundem. Conhecemos assim por pedaços, por insinuações o mundo de Emilie, matriarca desse clã libanês. Ao longo da narrativa tive consciência da herança da cultura oral brasileira e das culturas do Oriente Médio. Com uma narrativa evocativa, o romance ganha profundidade a cada relato, a cada personagem que conta parte da história. Acaba-se com a sensação de se ter lido, de fato um grande romance. Gostaria, no entanto, de fazer a seguinte observação: acho que Milton Hatoum complica um belíssimo texto, mais do que necessário. Se eu, que sou leitora assídua e regularmente inteligente, tenho que pegar papel e lápis para fazer anotações e ver se estou entendendo direito o que acontece na trama, há algo de errado. E foi isso o que aconteceu comigo. Li o livro com papel e lápis na mão. Até um esboço de uma árvore genealógica construí. Não acredito que isso deva acontecer. Qualquer que seja o romance, de quem quer que seja. Mas mesmo assim, a força narrativa de Milton Hatoum, e seu texto, cuidadoso — como hoje já quase não vemos na literatura brasileira — não deixam que eu coloque esse livro de lado. Vou recomendá-lo, mas advirto, nem sempre o texto tem a clareza que deveria transmitir. Fiquei frustrada e me senti manipulada com essa narrativa oblíqua e dissimulada.