Que coleção de amigos!
Da esquerda para a direita: Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Moraes, Manuel Bandeira, Mario Quintana e Paulo Mendes Campos.
Que coleção de amigos!
Da esquerda para a direita: Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Moraes, Manuel Bandeira, Mario Quintana e Paulo Mendes Campos.
“Don Juan” de última laia,
o meu amigo Amaral
namora até minissaia
pendurada no varal…
(Calixto de Magalhães)
Paula Brito
Amo-te… e de te amar não me arrependo,
Bem que seja este amor, amor perdido!
Oh! se nunca te houve conhecido,
No fogo, em que ardo, não vivera ardendo!
Vejo o que fazes, e estou nisso vendo
Rasgos de amor de um coração ferido!
Também amei, também tenho sofrido,
Amo também, também estou sofrendo!…
Não me queixo de ti, não, certamente;
O teu futuro, por teu mal, te obriga
Ao penoso martírio do presente!
Aqui tens a razão que a ti me liga:
“Se te sigo, me pedes que me ausente;
Se me ausento, me pedes que te siga!…”
Em: Poesias, Francisco de Paula Brito, Rio de Janeiro, 1863, edição digitalizada, Biblioteca Nacional.
PS: atualizei ao máximo a ortografia que já mudou muito nestes últimos 150 anos.
“No ônibus, Satoshi tentava esvaziar a mente para buscar o sono. Quando percebeu que não conseguiria dormir, retornou a poltrona para uma posição com menor inclinação, abriu uma fresta da cortina e passou quase todo o trajeto , de pouco mais de nove horas, observando o que era possível na madrugada de quase lua cheia. Com a cabeça reclinada no encosto da poltrona, via a paisagem noturna obliquamente. Os morros distantes eram manchas escuras, e deles se viam apenas os contornos delineados em função do firmamento clareado pela lua. As árvores mais próximas surgiam e desapareciam na velocidade controlada pelo pé do motorista. As imagens imediatas eram mais visíveis, mas a cada instante eram consumidas pelo movimento do ônibus e do tempo, enquanto a paisagem distante, teimava em suas retinas insistindo em ficar.” […]
Em: Ojiichan, Oscar Nakasato, São Paulo: Fósforo, 2024.
Olhando a vida vivida,
esta pergunta passou:
-fui eu que fiz minha vida,
ou fez-me a vida o que sou?
(Baptista Nunes)
“Uma manhã lá no Cajapió (Joca lembrava-se como se fora na véspera), acordara depois duma grande tormenta no fim do verão. A madrugada estava orvalhada, mas serena, e ele se erguera da sua rede para ver o tempo. Um grande tapete de verdura fresca e úmida parecia ter descido do céu e coberto como um manto misterioso o campo… Os olhos perdiam-se na campina alegre; o gado festejava o rebentar da vida na terra e comia a erva tenra; um bando de marrecas passava grasnando, pousava aqui , levantava o voo acolá, buscava mais longe a região dos eternos lagos… Dias inteiros de chuvas; o pasto agora era farto, a água porfiava em vencê-lo, e quando mais tarde o dilúvio se interrompia, viam-se na vasta savana verdes pontos claros que eram o refrigério dos olhos. Eram os primeiros lagos. Em volta deles uma multidão de aves aquáticas brincavam descuidosas e ostentavam as penas de cores vivas e quentes. Vinham pássaros de toda a parte; pernaltas com o seu bico de colher, marrecas em algazarra, jaçanãs leves e tímidas; e à tarde, quando o céu se vestia de nuvens cinzentas, notava-se desfilar, ora o bando marcial e rubro dos guarás, pra a ala virgínia e branca das garças… No fundo dos lagos multidão de peixes borbulhavam por encanto. E em tudo o mesmo milagre de ressurreição, de rejuvenescimento, de expansão e de vida.”
Em: Canaã, Graça Aranha, 1902, em domínio público.
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Esta é uma das mais belas descrições de uma multitude de ações, de dezenas de animais, tudo acontecendo num momento, em um único parágrafo.
O que ela lê, 2001
Francine Van Hove (França 1942)
óleo sobre tela
“A satisfação de uma paixão absolutamente pessoal é embriaguez ou prazer: não é felicidade.
A felicidade é algo duradouro e indestrutível; caso contrário, não seria felicidade. Aqueles que gostariam de perpetuar a embriaguez e de incluir nela a felicidade, andam atrás do impossível. O êxtase é um estado excepcional cuja permanência nos mataria, e a natureza inteira depressa se eclipsaria sob a influência desse estado delirante.”
George Sand
Nem ouro, nem pedra rara,
nada que vem do garimpo,
vale um fio de água clara
no leito de um rio limpo…
(Aloísio Alves da Costa)