A ovelha, fábula de Francisca Júlia

28 11 2025

 

 

A ovelha

 

Francisca Júlia da Silva 

 

A ovelha, um dia, muito triste por não ter forças para lutar com os cães que a mordiam, ou armas de defesa contra a ferocidade dos lobos, dirigiu-se a Júpiter e expôs-lhe suas queixas:

– Pai, todos os animais que vivem sobre a terra, desde o inseto ao paquiderme, têm meios de defender-se contra os ataques; e coragem para provocar as lutas. Eu, porém, sou tímida e indefesa: tudo me causa medo. Queria, pois, que me desseis uma arma qualquer. Júpiter, tocado de piedade, perguntou-lhe:

– Queres um veneno oculto nos dentes, para dar morte aos que te fizerem mal?

– Oh! Não! Respondeu a ovelha. Os animais venenosos são nojentos e causam medo a todos.

– Queres ter na boca duas fileiras de dentes afiados, como os leões e os lobos?

– Oh! não! Os animais carnívoros são tão odiosos e antipáticos! 

– Queres saber arremeter, como os touros, com duas pontas na cabeça?

– Oh! não! Eu causaria terror aos outros animais, e não seria acariciada pelos pastores.

– Que queres, pois? Gritou Júpiter, impaciente.

– Nada, senhor, nada quero. Prefiro viver assim, tímida e fraca, porém estimada e afagada por todos.

 

Em: O livro da infância, Francisca Júlia da Silva, 1899.

 

 





O livro, poesia infantil de Helena Pinto Vieira

7 11 2025

 

 

O livro

 

Helena Pinto Vieira

 

Os Livros eu sei que são

como portas encantadas

que nos levam a lindas terras

onde moram anões e fadas.

 

Lugares longe e tão belos

onde eu não podia ir

mas agora, com essa porta

é só ter cuidado e abrir. 





Telefone sem fio, poesia infantil de Dilan Camargo

25 10 2025
E-fone de lata, 2005, por Ivan Cruz

 

 

 

Telefone sem fio

 

  Dilan Camargo

 

O primeiro disse:

“excelente”.

O último entendeu:

“isso é leite”.

 

O primeiro disse:

“Ana de salto alto”.

O último entendeu:

“banana no asfalto”.

 

O primeiro disse:

“abracadabra

palavra mágica”.

O último entendeu:

“água prá cabra

que vai de viagem”.

 





Trova do orgulho do pai

28 07 2025
Ilustração, Jessie Willcox Smith.

 

 

Discreta, naturalmente,

minha ternura se trai,

ante um tiquinho de gente

que me chama de “Papai”!

 

(Cesídio Ambrogi)





Menina passarinho, poesia infantil, Ferreira Gullar

7 07 2025
 
 
Menina passarinho

 

     Ferreira Gullar

 

    Menina passarinho,

    que tão de mansinho

    me pousas na mão

    Donde é que vens?

    De alguma floresta?

    De alguma canção?

    Ah, tu és a festa

    de que precisava

    este coração!

    Sei que já me deixas

    e é quase certo

    que não voltas, não.

    Mas fica a alegria

    de que houve um dia

    em que um passarinho

    me pousou na mão.





A justiça do leão, fábula de Claude Augé

1 07 2025
Ilustração anônima, início do século XX.
 
 
A justiça do leão

Claude Augé

 

 

O leão sentado em seu trono e tendo a seu lado seu ministro urso, um dia dava audiência a seu povo.  A ovelha veio chorando reclamar que seu pequeno cordeirinho havia sido raptado na noite anterior.  O leão examinou com cuidado a fisionomia de todos que o rodeavam, porque o crime em geral se revela na face do culpado.

— Não fui eu o autor do crime, logo gritou o lobo.  Não, senhor, já há muitos dias estou indisposto o que me obrigou a uma dieta; digo a verdade, não fui eu!

— Foi você! respondeu o leão. Por se defender quando ninguém ainda havia lhe acusado, você se acusou a você mesmo;  você devorou o carneirinho e o urso vai lhe dar a mesma sina.

Sem demora, o lobo foi castigado com pela ferocidade do urso.  Alguns dias depois testemunhas oculares declararam que o lobo realmente havia sido o culpado. 

-x-

———–
Traduzido do francês e adaptado por Ladyce West. Publicação de 1911, em domínio público. Ilustração original





Todo mundo lê!

6 06 2025
A mãe Guji lê para os filhos (gansos e um jacaré) de Chih-Yuan-Chen.




Baile no sereno, poesia infantil, Ruth Rocha

2 06 2025
 
 
Baile no sereno

Ruth Rocha

 

Cantador canta tristeza,

canta alegria também.

É de sua natureza

cantar o mal e o bem.

Pois ele tem dentro dele

o canto que o canto tem…

Por isso, se o mar secar,

se cobra comprar sapato,

se cachorro virar gato,

se o mudo puder falar,

Se a chuva chover pra cima,

se barata for grã-fina,

Quando o embaixador for em cima,

Cantador vai se calar.





Espantalho, poesia infantil, Almir Correia

15 05 2025
 
Espantalho

 

Almir Correia

 

Homem de palha

coração de capim

vai embora

aos pouquinhos

no bico dos passarinhos

e fim.





“Para um menino felino”, poesia infantil de Paulo Mendes Campos

16 04 2025
Gato de Botas, Ilustração Marie Hohneck,1905-08

 

 

Para um menino felino

 

Paulo Mendes Campos

 

O gato pensa um bocado!

Pensa de frente e de lado!

Esticado ou enrolado!

Satisfeito ou chateado!

Brincalhão ou preocupado!

Sem jantar ou já jantado!

Com saúde ou constipado!

O gato pensa um bocado!

Pensa no império chinês!…

Pensa no irmão siamês!…

Mas um gato sem talento

só tem um pensamento:

CAMUNDONGO! CAMUNDONGO!

Se te pego, te viro assim: OGANODNUMAC!…