Uma resposta inteligente de Henrique IV de França

24 11 2025

Henrique IV atravessando o rio Sena, 1816

Etienne-Jean Delécluze (França, 1781-1863)

aquarela, carvão, lápis, etc sobre papel, 20 x 31 cm

Museu Nacional do Château de Pau, França

 

 

 

Henrique IV de França, que governou o país entre 1589 até ser assassinado em 1610, foi também conhecido como Henrique, o GrandeO Bom Rei Henrique, O Galã Verde ou Galante Verde, por suas numerosas amantes e também como Henrique de Navarra.  Entre muitas de suas características lembradas através dos séculos, há a de ter sempre uma resposta criativa a questões comuns, muitas vezes respostas bem humorísticas.

Conta-se que uma vez, atravessavam o rio Loire ele e seu amigo o General Crillon, Louis des Balbes de Berton de Crillon, um de seus generais mais próximos. Iam numa canoa.  Crillon, notou que o canoeiro era um homem robusto e alto e que tinha  cabelos brancos, mas barba muito preta. A certa altura  observou em voz alta:

— Esse contraste entre a barba e o cabelo é agradável, mas por que?  De onde vem isso?

Sem pestanejar o rei começou a rir e respondeu:

—  Por Deus! Que bobagem! A barba é mais jovem! O cabelo é mais velho por pelo menos vinte anos!

-*-*-

 

Nota: adaptação de uma poesia em francês de Claude Augé sobre essa fábula real. 

 

 





Luxo na Roma antiga: calor no símbolo do poder

27 10 2025
Mosaico romano e casal reclinado na cama. cópia de obra grega. 

 

Quando vemos as ruínas das casas romanas, raramente nos damos conta de que abaixo dos complexos mosaicos, se as casas eram de pessoas de posses ou de influência, poderia haver um sistema de aquecimento do chão, principalmente em comunidades romanas localizadas em território de longos invernos.

Os romanos foram os grandes engenheiros do mundo ocidental, não há como negar.  Muito do que inventaram e construíram ainda é usado nos dias de hoje, com adaptações e ajustes, é claro.  O sistema de aquecimento do piso das casas luxuosas do império, leva o nome de hipocausto romano.  Era baseado no ar quente que circulava por dutos.  Esse ar quente vinha de fornalhas, mantidas em constante lume através de escravos: homens aprisionados, de qualquer lugar do planeta mas terras incorporadas ao império depois de guerras. 

 

 

 

O hipocausto apareceu primeiro como um serviço à população, fazendo possível o aquecimento da água quente para os populares banhos públicos.  Mais tarde o mesmo sistema foi transposto para as casas dos muito abastados, assim como hoje vemos casas de pessoas com posses que usufruem de cinemas em casa, de academia de exercícios em casa e outros luxos privados. 

O primeiro hipocausto de que se tem notícia é do século I AC, construído por arquitetos que serviam a Marcus Agrippa, genro do imperador Augustus.  O sistema foi implantado nos banhos públicos não só em Roma, como em suas províncias. Mas a técnica se espalhou rapidamente e foi adotada tanto para o consumo público como para as casas particulares. Já no século II da nossa era, sob o reinado de Adriano e de Antoninus Pius o aquecimento dos pisos das casas ricas do império era bastante comum.  E o aquecimento do lar se transformou num símbolo de luxo e riqueza.

 

 

Ruínas mostrando o sistema de aquecimento de um banho romano em Chester, Inglaterra.





Esmerado: Relicário de Bréscia

30 09 2025

Relicário de Bréscia, século IV

Marfim, 22 x 32 x 25 cm

Museo di Santa Giulia, Brescia

O relicário de Bréscia é uma caixa de marfim, do final do século IV.  A única caixa de marfim que sobreviveu com todo os painéis pertencendo ao período Cristão Primitivo, em boas condições. Nela estão esculpidas 38 cenas que representam um leque de assuntos de importância para aquele período da cristandade. 

É considerada uma das mais antigas obras figurativas do período.  Mas sua função ainda está incerta. As cenas retratadas estão entre, as que conhecemos, mais antigas da Paixão de Cristo e mostra não só como a iconografia da Paixão se desenvolveu, mas como era usada até mesmo em objetos de luxo como esse.  Sua importância também pode ser avaliada pelo grande número de cópias que existiram dessa caixa desde São Petersburgo na Rússia a Mainz, na Alemanha. 

 





Algumas observações sobre William, the conqueror, (Guilherme I, o conquistador)

15 09 2025

WIlliam the conqueror, 1597-1618   (*)

Anônimo

óleo sobre madeira, 57 x 41 cm

National Portrait Gallery, Londres

(*) Não há retrato de William, the Conqueror, que viveu entre 1028-1087. Esse retrato foi pintado 500 anos depois de sua morte, por descrições da época.

Como vocês sabem, gosto de história medieval, estou sempre lendo sobre esse período. William, the Conqueror, [Guilherme I, o conquistador] foi o primeiro rei da Inglaterra, depois da invasão normanda em 1066. O que me levou a pensar nessa postagem foram os detalhes de sua coroação que permanecem até hoje, como vimos há uns poucos anos, na coroação de Rei Charles III, da Inglaterra.

  • Os principais elementos da coroação dos dias de hoje datam do Pentecostes de 973, DC quando o rei Edgar convocou todos os arcebispos, bispos e juízes e todos os que tinha posição e dignidade, para se confraternizarem na Abadia de Bath para testemunha sua consagração como monarca. Naquele ano Pentecostes caía no dia 1º de Maio.
  • Os reis de França eram ungidos com crisma, o óleo da consagração cristã, feito de azeite de oliva perfumado com uma resina aromática. William foi o primeiro rei normando a ser assim ungido, iniciando um ritual que permanece até os dias de hoje.
  • Um dos mais importantes rituais adicionados à coroação foi o uso do Laudes Regiae [Aclamações Reais], hino que foi cantado na coroação de Carlos Magno, como Imperador do Império Romano no ano 800 e também cantado pelo clero na cerimônia de 1066.
  • Outra influência ainda mais interessante foi a coroa usada por William, baseada no desenho da que coroou o rei Salomão, rei de Israel, como descrevem textos bíblicos, feita de ouro e pedras preciosas incluindo uma safira, uma esmeralda e um grande rubi central.
  • Era de comum acordo, que ninguém poderia se tornar legalmente um rei sem ser coroado e ungido. E que a unção e o direito a ungir um monarca pertencia ao arcebispo.

Essas notas vieram do livro The Throne: 1,000 Years of British Coronations, Ian Lloyd, The History Press, 2023.





Descobertas mini esculturas na Turquia

11 09 2025
Mini esculturas, importante descoberta em Tas Tepe, na Turquia.

 

Parece incrível, não é?  A descoberta, na Turquia, de três mini imagens de bichos – abutre, raposa e javali – são capazes de redirecionar algumas de nossas ideias sobre os primeiros povoados do período neolítico. Arqueólogos concluíram as pequenas esculturas encontradas  e cuidadosamente colocadas dentro de um pequena cuia, por sua vez protegida dentro da grande tigela, que vemos na foto acima, são mais um sinal de que as populações locais, do período neolítico, já estavam organizadas em povoados há 11.500 anos atrás.  Esses animais esculpidos, cuidadosamente preservados pelos próprios habitantes dos local, faziam parte da cultura oral, da história, das lendas, da contação de histórias, fábulas, rituais para sobrevivência. São as esculturas de animais mitológicos mais antigas que se conhece, o que empurra para um período  ainda mais longínquo, o surgimento das primeiras aldeias humanas do neolítico. 

 

Posição em que os objetos foram descobertos dentro dessa grande tigela.

Descoberto no sítio de Karahantepe o grupo de animais, de aproximadamente 3,5 cm de altura, foi encontrado num pequeno recipiente coberto com uma tampa de pedra, dentro de recipiente bem maior, Cada uma dos animais tinha a cabeça colocada dentro de um anel de pedra calcária.  Essa composição, intencionalmente organizada, leva a crer na existência de rituais exercidos pela memória coletiva, onde os anéis de calcário teriam significado específico.  É importante lembrar que até então só imagens em duas dimensões, portanto imóveis, como desenhos em relevo nas pedras, haviam sido encontradas como expressões culturais para grupos humanos vivendo a 11.500 anos.  





Esmerado: Caixa Cofre do Cardeal Guala Bicchieri, 1220-1225

6 09 2025

Caixa cofre do Cardeal Guala Bicchieri, 1220-1225

Medalhões esmaltados de Limoges com decoração profana

Palazzo Madama–Museo Civico d’Arte Antico

 

 

Peça do acervo permanente do Palazzo Madama–Museo Civico d’Arte Antiga em Turim, na Itália,  essa caixa cofre do Cardeal Guala Bicchieri é considerada uma das mais importantes peças medievais que traz esmaltação da melhor qualidade encontrada na era medieval.  Os esmaltes da cidade de Limoges na França eram conhecidos por toda Europa pela excelência na técnica champlevé.

Champlevé é o termo francês usado para significar a técnica conhecida desde a antiguidade, de esmaltação sobre um objeto de metal, ou uma folha de metal sobre madeira, em que depressões no metal, com formas específicas, são preenchidas até as bordas de seus limites, com esmalte vítreo, que exposto ao fogo se funde com o metal.  Mais tarde a peça é polida e as “paredes” de cada célula são expostas  fazendo uma moldura de cada cor aplicada.  Essa técnica esteve muito em voga no século XIII na Europa, para objetos de luxo e muitas caixas como essa do Cardeal Guala Bicchieri.  Já mostrei aqui no blog duas dessas caixas da mesma época: 

  1. Relicário francês, 1220 — 12/09/ 2014  
  2. Cofre Becket, c. 1180-1190 — 1/3/2017 

O Cofre do Cardeal Guala Bicchieri é uma das peças conhecidas mais importantes da famosa produção de Limoges.  Essa caixa é decorada com medalhões mostrando lutas de animais, cenas da corte. O proprietário original desse cofre Guala Bicchieri, foi um grande colecionador e diplomata experiente, membro de uma família proeminente de Vercelli no norte da Itália. 

 

Disco decorativo: Dois pequenos dragões devorando um peixe em esmaltação champlevé.





250 anos de Turner!

14 08 2025

A queima das Casas dos Lordes e dos Comuns, 16 de outubro de 1834, 1835

Joseph Mallord William Turner (Inglaterra, 1775-1851)

óleo sobre tela, 92 x 123 cm

Cleveland Museum of Art

 

Turner foi um mestre da luz. E sua arte teve influência marcante ainda que serena no desenvolvimento impressionismo. Ainda que inglês e trabalhando principalmente na representação de paisagens, ele trouxe para a pintura do século XIX,  algo muito inovador: a observação da luz, a pintura com aspectos da captura ao ar livre. 

 

 

Chuva, vapor e velocidade – A Grande Estrada de Ferro do Oeste, 1840

Joseph Mallord William Turner (Inglaterra, 1775-1851)

óleo sobre tela, 91 x 122 cm

National Gallery, Londres

 

Chuva, vapor e velocidade – A Grande Estrada de Ferro do Oeste, acima, é um excelente exemplo dessa contribuição que Turner deu à pintura da geração seguinte.  Vemos nessa tela a difusão da luz, já que a cena tenta reproduzir o trem, passando pela Ponte da Estrada de Ferro em Maidenhead, sobre o rio Tâmisa, numa tarde de chuva. 

Vale lembrar que até a metade do século XIX, pintores não se dedicavam à pintura ao ar livre.  Ao ar livre fazia-se desenhos a carvão, a nanquim, pequenos estudo, mas a pintura das telas era toda feita nos estúdios. Turner traz tanto para essas paisagens com a atmosfera mais diluída, como as telas reproduzidas acima clara observação da luz na natureza, como encontramos também a mesma preocupação sobre os efeitos e reflexos da luz na paisagem urbana, como a abaixo. 

 

Veneza vista da Giudecca, 1840

Joseph Mallord William Turner (Inglaterra, 1775-1851)

óleo sobre tela, 61 x 91 cm

Victoria & Albert Museum, Londres

 

Ainda que o efeito seja semelhante ao dos impressionistas trabalhando trinta anos mais tarde, a diferença está na maneira de pintar e na separação das cores que ocorre nas obras da segunda metade do século XIX, na França.  Vale a pena dar uma vista d’olhos nas obras de Turner. 





Ainda há muitos quebra-cabeças na história da arte…

11 08 2025

Natureza morta com melão, melancia e outras frutas, c. 1810-1820

Hóspede de Saraceni (França, ativo entre 161-1630)

[Pensionante del Saraceni]

óleo sobre tela

Recentemente comprado pelo Kimbell Art Museum, Fort Worth, TX

 

 

O verdadeiro nome do pintor é desconhecido. Sabemos que era francês, mas atuava na Itália. Há diversas obras dele ou atribuídas a ele.  Esses enigmas do passado sempre me fascinaram. Sabe-se que o artista conhecido como Hóspede de Saraceni ou [Pensionante del Saraceni] deveria pertencer a um pequeno grupo de artistas seguidores de Caravaggio, trabalhando em Roma.  

 

 

O vendedor de galinhas, c. 1618

Hóspede de Saraceni (França, ativo entre 1610-1630)

[Pensionante del Saraceni]

óleo sobre tela, 95 x 71 cm

Prado, Madri

 

Esse quadro, O vendedor de galinhas,  talvez seja sua obra mais conhecida.  Provavelmente porque está no Museu do Prado, também.  Vemos um bom desempenho do chiaroscuro desenvolvido tão bem por Caravaggio e também pelo pintor francês Georges de La Tour que é contemporâneo do enigmático Hóspede de Saraceni.

 

 

A negação de São Pedro, c. 1618

Hóspede de Saraceni (França, ativo entre 1610-1630)

[Pensionante del Saraceni]

óleo sobre tela

Museu do Vaticano

 

Nessa Negação de São Pedro é mais clara a influência de Caravaggio, o drama da cena enfatizado pelo chiaroscuro, típico de Michelangelo Merisi (verdadeiro nome de Caravaggio). 

 

E há muitas outras obras atribuídas a esse pintor, algumas cenas religiosas e outras naturezas mortas. Acredito que a IA, através ciência quântica ajudará em muito nas atribuições das obras em questão.  Mas infelizmente não ajudará, creio, na identificação de quem seria o Hóspede de Saraceni.  Pensei nele, porque recebi notificação de que o Museu Kimbell havia comprado a natureza morta colocada acima.





Esmerado: Medalhão em esmalte, 1856

2 08 2025

A vigilância, [O galo], 1856

Medalhão

Manufatura: Sèvres

Esmaltador: Jacob Meyer-Heine

d’après Hippolyte Flandrin, autor da composição

Esmalte sobre couro, 18,2 x  9,5 cm

 

©Photo Les Arts Décoratifs, Paris/Jean Tholance. ©Manufacture nationale de Sèvres, 2010





Relatividade, Einstein

7 05 2025
Retrato de John Harrison. conhecido por seu trabalho em cronômetros.

 

 

“Quando um homem se senta ao lado de uma mulher bonita por uma hora parece que passou um minuto. Mas se ele se sentar em cima de um fogão quente por um minuto parece que passou mais de uma hora. Isso é relatividade”

 

Albert Einstein