Rios voadores, trecho de Ilko Minev

27 03 2025

Interior da floresta, c. 1900

[Petrópolis]

Antônio Parreiras (Brasil, 1860-1937)

óleo sobre tela,  16 x 24 cm

 

 

“… o termo “rios voadores da Amazônia” designa a enorme quantidade de água processada pelas árvores e lançada na natureza em forma de umidade. – A selva funciona como uma gigantesca bomba d’água que capta água do solo e a lança na atmosfera em forma de vapor, e as correntes de ar se encarregam de espalhar pelo mundo. Uma única árvore de modestos 10 metros de altura transpira em média 300 litros de água por dia, e uma mais frondosa, com a copa mais avantajada, de 20 metros de diâmetro, pode liberar até 1.000 litros. Imaginem a quantidade de líquido precioso produzida pelos milhões e milhões de árvores da Amazônia.

Uma parte desse vapor se transforma em chuvas que caem sobre a própria floresta, a outra fica à mercê dos ventos. Estima-se que a quantidade de água transportada pelos rios voadores seja igual ou superior à vazão do rio Amazonas. São 200 mil metros cúbicos de água por segundo. Na prática, a maior parte dos rios voadores são direcionados pelos ventos para o oeste até o paredão de 5 mil metros de altura formado pela Cordilheira dos Andes. O resultado desse represamento gigantesco são as enormes precipitações de chuva e neve, que dão origem às nascentes de vários rios, entre eles a do próprio Amazonas. Outra parte é ricocheteada pelas montanhas para o interior do continente, e abastece fartamente de água o Centro-Oeste, o Sudeste e o Sul do continente. Esse fenômeno explica por que no restante do mundo, nessa mesma latitude, encontramos grandes desertos, enquanto na América do Sul predomina um clima muito favorável para a agricultura. A combinação da floresta tropical amazônica com a Cordilheira dos Andes forma um dos maiores celeiros do mundo. Sem floresta, não haveria rios voadores, a umidade cairia a níveis desérticos e o ar ficaria muito mais quente. Seria um completo desastre para o clima e para a agricultura brasileira e mundial.”

 

Em: Nas pegadas da alemoa, Ilko Minev, São Paulo, Buzz Editora: 2021

 





Leitura é mágica!

26 03 2025

Ilustração de Joost Swarte, para revista The Walrus,  Julho-Agosto, 2009,  Leitura de verão.





“Motivo” poesia de Cecília Meireles

26 03 2025

O manuscrito, 1921

Francis Ernest Jackson (Inglaterra, 1872 – 1945)

Ashmolean Museum, Oxford

 

Motivo

 

Cecília Meireles

 

Eu canto porque o instante existe

e a minha vida está completa.

Não sou alegre nem sou triste:

sou poeta.

 

Irmão das coisas fugidias,

não sinto gozo nem tormento.

Atravesso noites e dias

no vento.

 

Se desmorono ou se edifico,

se permaneço ou me desfaço,

— não sei, não sei. Não sei se fico

ou passo.

 

Sei que canto. E a canção é tudo.

Tem sangue eterno a asa ritmada.

E um dia sei que estarei mudo:

— mais nada.

 

No livro Viagem (1939)

 





Hoje é dia de feira: frutas e legumes frescos!

26 03 2025

Laranjas

[da série Frutas do Brasil]

Eduardo Feitosa (Brasil, 1957)

óleo sobre tela

 

 

 

 

Cajus

José Cláudio da Silva (Brasil, 1932-2023)

óleo sobre madeira, 200 x 200 cm





A arte do desenho: Rembrandt

25 03 2025

Jovem adormecida com a cabeça apoiada, c. 1654

[Hendrickje Stoffels]

Rembrandt van Rijn (Holanda, 1606-1669)

tinta diluída, aplicada com pincel, realces com carvão branco sobre papel

Museu Britânico, Londres





Outono: Ricardo Reis

25 03 2025

Leitor, 1971

Louay Kayyali (Síria, 1934-1978)

óleo sobre tela

Ministério da Educação em Damasco

 

 

“Quando, Lídia, vier o nosso Outono,

com o Inverno que há nele, reservemos

um pensamento, não para a futura

Primavera, que é de outrem

nem para o estio, de quem somos mortos,

senão para o que fica do que passa

o amarelo atual que as folhas vivem

e as torna diferentes.”

 

Ricardo Reis





Nossas cidades: Salvador

25 03 2025

Dique do Tororó

Rubens Bustamante Sá (Brasil, 1907-1988)

óleo sobre tela, 33 x 42 cm





Resenha: “Antonio”, de Beatriz Bracher

24 03 2025
Leitora, 1952, autoria desconhecida.

 

 

Nos últimos tempos, o grupo de leitura Ao Pé da Letra tem votado um maior número de obras de literatura brasileira contemporânea para leitura mensal, sem, no entanto, se limitar ao nicho. A escolha de março foi Antonio da escritora paulista Beatriz Bracher [Editora 34: 2010 — minha edição foi eletrônica, kindle]. Essa foi uma obra intrigante, que deixou os leitores do grupo, anotando nomes de personagens, fazendo árvores genealógicas, passando-as para o WhatsApp do grupo, escrevendo suas dúvidas sobre o que liam — quem é quem? — à medida que a história era construída. Por que? Trata-se de narrativa indireta de um segredo de família, sem que o leitor saiba de antemão quem ocupa qual papel no emaranhado das relações familiares.

Três gerações são abordadas, para que a quarta possa saber de onde vem e estar, eventualmente, ciente dos segredos mantidos por essa tradicional família brasileira. Somos tragados no emaranhado de feitos e desfeitos de diferentes gerações, em capítulos narrados por alguns personagens, que só entendemos quem são com muita atenção ao texto. Como em toda família há pessoas que demonstram comportamentos esdrúxulos, fora de série, inusitados, ainda que tenham por base, a época em que vivem e suas razões. A história da família é o tema da obra, contada por três diferentes pontos de vista. Cada um deles como se estivéssemos em sua presença, numa tarde, num dia não especificado, contando causos. A narrativa é não linear com linguagem casual, imitando a maneira de falar comum. Por isso mesmo, os textos são cheios de idas e vindas nos detalhes trazendo um efeito circular na contação.

 

 

O resultado é uma escrita perfeitamente inteligível, registrada como falamos. Cada capítulo é um imenso monólogo, dando a aparência de ter sido registrado ipsis verbis. Mas para dar esse efeito tão natural, certamente a escritora submeteu o texto a inúmeras edições para, finalmente chegar a registro tão semelhante à língua falada. Parabéns para ela.  Realmente, cada um dos capítulos parece um relato de alguém sentado no sofá à nossa frente. 

Mas essa maneira de contar uma história se torna um jogo de gato e rato em que a escritora, com todo poder nas mãos, brinca com o leitor. É um quebra-cabeças para quem lê, que se vê em um labirinto tal qual os labirintos de jardins do século XVIII, que nos dão ânsias para descobrir a saída, mergulhando, a caminho da solução, numa espiral descendente até o fim.  A forma enigmática do livro Antonio trouxe à mente o livro As iniciais de Bernardo Carvalho que assim como esse precisa ser desvendado, ainda que de maneira totalmente diferente. 

 

 

Beatriz Bracher

 

Antonio foi a obra colocada em segundo lugar no Prêmio Portugal Telecom de Literatura e finalista do Prêmio São Paulo de Literatura. em 2009.  Recomendo?  Com restrições. Não sei até agora, e já li esse livro há duas semanas, se o final, se a resolução do enigma, vale o esforço e as horas de dedicação do leitor.  Mas, como tenho facilidade de deixar de lado livros por diversos motivos, não importa se grandes ou pequenas obras, de autores conhecidos ou não, ver que  Antonio me fez ir até o fim e  que a trama, me levou a apreciar o poderoso domínio narrativo de Beatriz Bracher tem que ser levado em consideração.  Há equilíbrio entre forma e conteúdo. Esse foi o primeiro livro da autora que leio.  Três estrelas de cinco.

NOTA1: tenho muitos leitores portugueses que certamente observarão algo diferente: Antonio aparece sem acento circunflexo através da obra.

NOTA2: este blog não está associado a qualquer editora ou livraria, não recebe livros nem incentivos para a promoção de livros.





Em casa: Luc Barbut-Davray

23 03 2025

Chá da tarde pensativo

Luc Barbut-Davray (França, 1863-1926)

óleo sobre tela,  48 x 64 cm





Flores para um sábado perfeito!

22 03 2025

Natureza morta com rosas

Paulo Gagarin (Rússia-Brasil, 1885 – 1980)

óleo sobre tela, 81 cm x 100 cm

 

 

Natureza morta

Sansão Pereira (Brasil, 1919 – 2014)

óleo sobre tela, 50 x 80 cm