Cristo Redentor, 1997
Glauco Rodrigues (Brasil, 1929-2004)
técnica mista com colagem sobre cartão, 47x 73 cm
Cristo Redentor, 1997
Glauco Rodrigues (Brasil, 1929-2004)
técnica mista com colagem sobre cartão, 47x 73 cm
“Eu, desde que me conheço, sempre gostei de ouvir histórias. Tenho mesmo a impressão de que foi para ouvi-las, e para contá-las, que nasci. As histórias, além de darem mais vida ao mundo em que vivemos, nos fazem viver outras emoções e outras experiências, mesmo quando a imaginação do contador de histórias enfeita de fadas e bruxas, os mais belos contos.
Mais tarde, se não era mais menino para ouvir histórias, passei a lê-las nos livros, sabendo que o livro é um companheiro, sempre que o tiramos da estante para que nos diga em silêncio o que tem para nos contar ou ensinar.”
Em: O carrasco que era santo: (a mais bela história de tia Bilu), Josué Montello, Rio de Janeiro, Nova Fronteira: 1994. pp. 2-3
Fausto Guedes Teixeira
Amar ou odiar: ou tudo ou nada!
O meio termo é que não pode ser.
A alma tem que estar sobressaltada
Para o nosso barro se sentir viver…
Não é uma cruz a que não for pesada,
Metade de um prazer não é um prazer;
E quem quiser a alma sossegada,
Fuja do mundo e deixe-se morrer!
Vive-se tanto mais quando se sente:
Todo o valor está no que sofremos.
Que nenhum homem seja indiferente!
Amemos muito como odiamos já:
A verdade está sempre nos extremos
Porque é no sentimento que ela está!
Natureza morta, 1950-53
Manabu Mabe (Japão-Brasil, 1924-1997)
óleo sobre tela, 38 x 46 cm
Natureza morta, 1929-30
Cícero Dias (Brasil, 1907-2003)
aquarela sobre papel, 30 x 47 cm
Senhora lendo
Ady de Lannay (Bélgica, 1900-1942)
óleo sobre tela
Em um grupo de escritores a que pertenço conversamos algumas vezes sobre biografias, como escrevê-las, se são ou não ficção, se queremos ou não ser ghost writers, se precisamos ter alguma empatia para com a pessoa biografada, e até que ponto biografias são ficção. Não chegamos a qualquer conclusão nessas conversas, mas é uma temática interessante para quem escolhe a carreira de escritor.
José Luís Peixoto, no livro Almoço de domingo, abraça a oportunidade de biografar um empresário português, um milionário, que apesar de ser da região do Alentejo, a mesma do escritor, não se conheciam. O comendador Rui Nabeiro tem de fato uma história magnifica de crescimento e sucesso da venda de café à expansão para vinícolas e depois ainda maior diversidade em outras áreas de negócios. Imagino que dadas as devidas proporções poderia ser equivalente a história de um Abílio Diniz aqui no Brasil.
Este foi o terceiro livro de José Luis Peixoto que li. O primeiro, um livro chamado Livro, me encantou sobremaneira. Uma escrita exemplar na criatividade, sem chegar a extremos em busca da novidade. Li, anos mais tarde Nenhum olhar, completamente diferente, encantador, onírico e asfixiante, Ambas as resenhas se encontram neste blog, e também nos sites Skoob e Goodreads. E agora, Almoço de domingo traz outra faceta do autor, que tendo sido contratado para esta biografia, consegue inovar substancialmente a forma, usando de subterfúgio engenhoso.
A vida de Rui Nabeiro, (seu sobrenome não é nunca usado) conhecemo-lo simplesmente como Rui, é narrada em duas vozes. A onírica, na primeira pessoa, usa de toda a imaginação de Peixoto e compõe os pensamentos, emoções de Rui, enquanto a voz narrativa, a que nos revela a história do personagem principal, é objetiva e precisa. As duas vozes se misturam sem criar qualquer problema e como resultado temos uma visão tridimensional do personagem principal. Sabemos de seus pensamentos e sonhos assim como de suas ações e os motivos delas serem executadas.
Em nenhum momento a narrativa se arrasta. O ritmo é preciso e cobre em um pouco mais de duzentos e cinquenta páginas os noventa anos do biografado. Dos três livros que li de José Luís Peixoto este não é o meu favorito. Mas confesso ter grande apreço pela maneira como o autor resolveu a difícil tarefa de fazer uma biografia para um público geral de uma pessoa desconhecida além das fronteiras portuguesas, e ainda assim conseguir seduzir o leitor a ler com gosto a obra.
Àqueles que acreditam um dia escreverem a biografia de quem quer que seja, recomendo a leitura não só como exemplo de criatividade mas sobretudo na seriedade com que a forma da biografia é tratada.
NOTA: este blog não está associado a qualquer editora ou livraria, não recebe livros nem incentivos para a promoção de livros.
Dividi uma casa e mais tarde um apartamento com uma colega de pós-graduação em história da arte, cujos verões eram passados em sítios arqueológicos em Israel, já que sua especialidade era arte do período romano tardio e bizantina. Nós duas, diferente dos amigos cientistas de The Big Bang Theory, apesar de muitas similaridades na nossa maneira de viver, sempre gostávamos de conversar sobre nossas respectivas áreas de estudo.
Eu achava muito romântico vê-la partir com pouquíssima bagagem, no início do verão, e voltar muitas semanas depois, com um deslumbrante tom acobreado na pele, graças ao sol do oriente médio, que ressaltava seus olhos azuis enormes. Chegava cheia de histórias de aventuras e novas descobertas nos pisos de sinagogas que escavava. Tornamo-nos muito amigas com alguns anos de convivência, só para deixarmos nosso convívio diário quando ela estava próxima a se casar com um promotor público em Washington DC. Fui, junto a outras amigas, sua “dame of honor“. Através desses anos de vida em comum aprendi muita coisa sobre mosaicos, variações de épocas em que foram feitos, o que observar neles, etc.
Por causa desse convívio acabei tendo persistente curiosidade sobre mosaicos antigos. E sempre que possível, se houvesse um local com ruínas da antiguidade grega ou romana, próximo ao local onde me encontrava viajando, fiz questão de visitá-lo, quer eu estivesse em Portugal ou na Grécia. Quando morei em Oran, na Argélia, um dos passeios mais deslumbrantes que fiz foi às ruinas de Tipasa, conhecidas na literatura pelo romance de Albert Camus, Bodas em Tipasa. Nesse mesmo período viajamos mais de uma vez pelo Marrocos, mas eu nunca soube de Volubilis. Portanto, quando por acaso, como acontece na internet, caí numa série de artigos com profusão de fotografias sobre esse sítio. Passo algumas fotos aqui porque achei os mosaicos de excelente qualidade.
Estive no Marrocos algumas vezes, porque moramos por um ano, mais ou menos próximo – três horas de carro – da fronteira com a Argélia, em Oran. Marrocos era um local de maior liberdade social. Por exemplo, um lugar onde eu e meu marido podíamos entrar em qualquer restaurante para uma refeição, juntos, enquanto em Oran, havia um único lugar onde homens e mulheres podiam se sentar para uma refeição, um restaurante chamado Mon Village, onde também encontrávamos quase todos os estrangeiros da cidade. Era um local de clientela duvidosa, onde jovens mulheres que faziam programas noturnos, podiam se encontrar com seus parceiros. Não sei se a Argélia continua assim. mas nos anos 80 era um lugar com vida muito circunscrita para mulheres. Portanto, para nosso conforto, Oujda a cidade mais próxima da fronteira com a Argélia, foi um lugar favorito para nós, estrangeiros, naquela parte do mundo.
Fui outras vezes para o interior do país, visitei muitas cidades. Mas não sabia de Volubilis. Sei que há outros grandes centros arqueológicos com mosaicos na Líbia, todos datando do período de domínio romano do Norte da África. Mas naquela época, e me parece que isso continua até hoje, a Líbia era lugar perigoso de visitar e portanto esses locais repletos de belíssimos resquícios da antiga civilização romana era difícil de se visitar. Estou passando informações que acabo de encontrar na internet, ainda com os olhos de espanto de ver esses mosaicos tão bonitos e tão bem preservados, que se encontram em Volubilis no Marrocos.
Volubilis esteve sob domínio romano por 250 anos. Caiu nas mãos de tribos locais por volta do ano 285 da nossa era. Hoje é tombada pela Unesco. É um dois mais preservados sítios romanos das fronteiras mais distantes do império.
Acho que vou fazer uma viagem ao local. Dizem que dezembro é uma boa época para ir. Não será em 2024. Mas quem sabe, no ano que vem?
Paisagem,, 1974
Roberto Vieira (Brasil, 1939)
óleo sobre eucatex, 90 x 90 cm
Mina de ferro – Itabira, 1976,
Djanira da Motta e Silva (Brasil, 1914-1979)
óleo sobre tela, 65 x 81 cm
Coleção Evandro Carneiro