O vaivém, Lindolfo Gomes

22 04 2024

 

 

 

O vaivém

 

Lindolfo Gomes

 

Era um dia um velho chamado Zusa, que trabalhava pelo ofício de carapina. A sua oficina era um brinco, sempre muito asseada, a ferramenta muito limpa, tudo nos seus lugares.

 

Mas a mania do velho era batizar cada ferramenta com um nome apropriado. O martelo chamava-se toc-toc, o formão, rompe-ferro, o serrote, vaivém.

 

Quando um carapina do lugar precisava de uma, corria logo à oficina do Zusa, a pedir-lhe de empréstimo.

 

Mas, tantas lhe fizeram, demorando a entrega ou ficando com as ferramentas algumas vezes, que o velho resolveu parar com os empréstimos.

 

Certo dia foi à oficina um menino, de mando dopai, e disse:

 

— Papai manda-lhe muitas lembranças e também pedir-lhe emprestado o vaivém.

 

Mestre Zusa pôs as cangalhas no nariz e respondeu:

 

— Menino, volta e diz a teu pai que se vaivém fosse e viesse, vaivém ia, mas como vaivém vai e não vem, vaivém não vai.

 

 

 

Em: Contos Populares Brasileiros, São Paulo, Melhoramentos: 1965, p. 36


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