Inimá de Paula (Brasil, 1918-1999)
óleo sobre tela, 33 x42 cm
Fazenda abandonada
Décio Valente
Casa velha
de monjolo antigo,
tranquilo abrigo,
de sapos, rãs e lagartixas,
onde vespas e aranhas tecelãs
penduram teias e enxus.
No córrego que passa,
lépidas libélulas
assustam ariscos guaru-guarus.
A água,
outrora,
espumante,
sonora,
escorre,
agora,
calma,
silenciosa…
Samambaias e avencas solitárias
enfeitam com verdes rendas
limoso nicho.
Gotas de orvalho
lembram pérolas,
contas de rosário
enfiadas em capim.
Aveludados musgos
amaciam a face dura
de rugosas pedras.
Alegres pássaros
cantam afinados duetos
com cigarras estridentes.
Centelhas de ouro em pó,
estilhas de prata laminada,
enchem de raro encanto
a folhagem molhada
daquele ameno recanto
da fazenda abandonada.
Em: Cantiga Simples: poesias, Décio Valente, São Paulo:1971, pp. 55-56