Sérgio Telles (Brasil, 1936)
óleo sobre tela, 46 x 55 cm
Sérgio Telles (Brasil, 1936)
óleo sobre tela, 46 x 55 cm
Wilson W. Rodrigues
As feições do príncipe eram desconhecidas.
Jamais alguém vira o seu rosto.
Em sua corte trabalhavam os artesãos mais hábeis, os melhores desenhistas, as costureiras mais famosas.
A observação era invariável:
— É preciso que essa máscara fique mais bela; do contrário, o Príncipe recusará.
As máscaras deviam ser sempre mais belas, pois, desde menino, o Príncipe usava todos os dias, uma nova máscara.
Dir-se-ia que elas o fascinavam, pois sempre parecia feliz.
Um dia, quando tomava parte numa caçada, o Príncipe afastou-se de sua gente e se perdeu.
Pela noite inteira, ninguém o encontrou.
De manhã, quando cruzava o vale, o Príncipe avistou uma donzela que voltava da fonte, bilha ao ombro.
Estava sedento, pediu:
— Posso beber da tua bilha?
A jovem reconheceu o Príncipe Mascarado, e com galanteria ofereceu:
Só se beberes na concha das minhas mãos.
O Príncipe desmontou. Em terra, curvou-se; nesse instante, ela, num gesto tão rápido quanto impensado, arrancou-lhe a máscara, e deu um grito de espanto.
— Sou tão feio assim?
— Não. Tu és mais belo que todas as tuas máscaras.
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Em: Contos do Rei do Sol, Wilson W. Rodrigues, Rio de Janeiro [Estado da Guanabara], Editora Torre: s/d, pp: 21-26