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Habitante de Patópolis, lendo na biblioteca, ilustração Walt Disney.
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No dia 29 de abril publiquei aqui uma listagem, por voto popular das melhores frases de abertura de romances em lingua inglesa, como saiu publicado no jornal The Guardian:
As melhores frases de abertura de romance em língua portuguesa? Dê o seu palpite!
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Logo amigos e conhecidos do blog deram alguns palpites e hoje posto essa listagem. Gostaria de ressaltar, no entanto, que os autores teriam que ser de língua portuguesa. Alguns se lembraram de obras de Camus e de Flaubert. Já mais alguém reclamou da lista original não incluir a frase de abertura de Moby Dick, de Herman Melville: “Chamai-me Ismael“. Mas a brincadeira foi justamente para livros na nossa língua para que pensássemos naquilo que lemos de literatura em português. A grande surpresa foi o número de autores não brasileiros listados e sobretudo a popularidade dos autores africanos na nossa pesquisa que não tem nada de científica. Então sem mais delongas, aqui vão as sugestões, lembrando que estarei sempre à disposição de aumentar essa lista a qualquer momento.
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Alice sugeriu:
“As palavras, como os seres vivos, nascem de vocábulos anteriores, desenvolvem-se e fatalmente morrem.”
Em: Milagrário Pessoal, de José Eduardo Agualusa.
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“A minha vida se resume a uma larga e sinuosa curva para o amor”.
Em O Planalto e a Estepe, de Pepetela
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Elizete sugeriu:
”Quem és tu que danças descalço na noite escura?”
Em: Não Te Deixarei Morrer David Crockett, de Miguel Souza Tavares.
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” Não basta morrer para conhecer o sorriso de Deus – mesmo que, como foi o meu caso, se tenha vivido abismada nele uma vida inteira.”
Em: Fazes-me Falta de Inês Pedrosa.
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Hira sugeriu:
” A morte é como o umbigo: o quanto nela existe é a sua cicatriz, a lembrança de uma anterior existência.”
Em: Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra, de Mia Couto
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Ladyce sugeriu:
“Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte”.
–Em: Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis.
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“Embora os descaminhos futuros, Sandro Lanari nasceu pintor.”
Em: O pintor de retratos, Luiz Antonio de Assis Brasil
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Luca sugeriu:
“Tudo no mundo começou com um sim“.
Em: A hora da estrela, de Clarice Lispector
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Marilda sugeriu:
“Era uma noite fria de lua cheia.”
Em: O Continente, de Érico Veríssimo.
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“Nonada”.
Em: Grande Sertão:Veredas, de Guimarães Rosa.
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Nanci
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“A TUA CABEÇA RODOU na direcção do meu rosto, os teus olhos fecharam-se e a tua boca avançou para a minha, através de uma lenta rota de luz, risos e lágrimas”. Em: Nas tuas mãos, de Inês Pedrosa
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Ricardo, do blog O Último Abencerragem:
“Arcóbriga e Meríbriga são cidades mortas desde que os habitantes foram obrigados a descer para o vale”. Em: A Voz dos Deuses — Memórias de um Companheiro de Armas de Viriato, de João Aguiar.
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“(Sei que andas por aí, oiço os teus passos em certas noites, quando me esqueço e fecho as portas começas a raspar devagarinho, às vezes rosnas, posso mesmo jurar que já te ouvi a uivar, cá em casa dizem que é o vento, eu sei que és tu, os cães também regressam, sei muito bem que andas por aí.)” Em: Cão como Nós, de Manuel Alegre.
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“Sempre que do portão se avizinhava mero turista ou descobridor de mistérios e o sino ficava longo tempo a retinir pela ribeira, ouviam-se pesados bate-lajedos de caseiro em movimento”. Em: A Torre de Barbela, Rubem A.
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NOTA: As citações acredito que estejam todas corretas. O que estava a meu alcance verifiquei, mas não tenho acesso a todos esses romances.





Escolhas muito interessantes, Ladyce!
(O título do livro da Inês Pedrosa, que não li, é «Fazes-me Falta»).
Obrigada Ricardo, erro meu. O título eu era para saber de cor e salteado, porque li esse romance.
Não é interessante que a maioria das pessoas que respondeu é brasileira e ainda assim os romances não o são?
É um bom sinal de abertura ao outro (o que, tratando-se do Brasil, não é de admirar).
Fiz-lhe uma visita e “peguei” três seleções suas. Dos três o único autor que já conheço é Manuel Alegre. Os outros irão para a minha lista de futuras leituras, principalmente João Aguiar. Não tenho ideia dos assuntos abordados em seu romance, mas a frase que abre A Voz dos Deuses… me deixou intrigada. Quando morei em Coimbra nos primeiros anos da entrada de Portugal para a Comunidade Européia, naquela época ainda chamada de CEE, o fenômeno de vilarejjos abandonados por causa da emigração me causou grande impacto. Cheguei mesmo a escrever uns contos, historietas, a respeito… Obrigada, um grande abraço.
Eu já tinha respondido ao seu post. Sei lá se aqui ou no Facebook.
E vou responder de novo.
Começo de romance que eu certamente incluiria entre os grandes é o da Hora da Estrela da Clarice:
“Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim
a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a
pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre
houve. Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou.
Que ninguém se engane, só consigo a simplicidade através de
muito trabalho. …”
Vale a pena ver o resto em http://www.gremioifba.com/outros/Clarice-LispectorA-Hora-Da-Estrela.pdf (lá pela 22a página)
Adiconado. Obrigada Luca, não peguei da primeira vez, desculpe-me.
bjnhs,
Ladyce, você é incansável nessa tarefa árdua de exortar a literatura. Feliz iniciativa, parabéns! ;))
Marilda, obrigada pela contribuição. Fico pasma com o desconhecimento.. Mas, vamos em frente.
Muito bom! Fico com o Machado de Assis e o grande Brás cubas, um autor defunto ou defunto autor!
Obrigada!
Ladyce:
Machado é meu escritor predileto. O romance é um gênero imperfeito, cujos deslizes deixamos passar em alguns autores e não descobrimos em outros, como é o caso do nosso querido Brás Cubas.
Por outro lado, e longe da pretensão de eleger a melhores abertura, gostaria de trazer novamente o nome de Inês Pedrosa, desta vez com “Nas tuas mãos”. Em 2004 (6ª edição em Portugal), este livro não havia saído no Brasil; li a publicação da Dom Quixote e passei a acompanhar a prosa de Inês, cujos títulos, felizmente, já encontramos com facilidade por aqui.
O texto, que me conquistou (e que vive e acaba bem, em pouco mais de 200 páginas), começa assim:
A TUA CABEÇA RODOU na direcção do meu rosto, os teus olhos fecharam-se e a tua boca avançou para a minha, através de uma lenta rota de luz, risos e lágrimas. Quando os teus dentes morderam os meus lábios alguém gritou “Bravo!” como na ópera e eu soube que nunca uma rapariga havia sido assim amada. “Espere”, dizias tu, “connosco há-de ser diferente.” Travavas-me o corpo todo com um beijo na palma da mão, os meus dedos agarravam-se, entontecidos, à curva funda das tuas pálpebras, e desse canto macio de pele eu inventei um homem para sonhar até ao dia branco da nossa eternidade. António. Dou-te esta aliança como sinal do meu amor e da minha fidelidade.
Ao Ricardo, agradeço a inclusão dessas outras vozes portuguesas, novas para mim. Ando às voltas (e apaixonada) por José Luís Peixoto, Dulce Maria Cardoso, Lìdia Jorge e Gonçalo M. Tavares que dispensam apresentações.
Um brinde lusófono [trago as taças e vocês, o Porto?!].
Nanci
Nanci,
Mais uma vez muito obrigada por sua constribuição. Suas observações são continuamente sensatas e interessantes. Ja adcionei a sua frase inicial no texto. Dessa vez não pude entrar com todo o parágrafo, porque essa não era a proposta. Quem se interessar verá aqui entre os seus comentários o resto do parágrafo. Muito bom lembrar de Inês Pedrosa, mais uma vez. Sim, levo o Porto. Prefiro os brancos e secos. E você?
Maravilhas de aberturas. Grandes lembranças