O Bonde de Burro, texto de Pedro Nava

30 12 2012

Bonde-movido-a-burro-1895-Rua15-de-Novembro

Bonde movido a burros, 1895, rua 15 de novembro, SP. Blog da garoa.

“Isso vem a propósito de minhas lembranças de bondes-de-burro.  Neles andei, talvez numa de nossas viagens ao Rio ou, mais certamente, depois de nossa vinda definitiva de Juiz de Fora. Quando? não posso dizer com exatidão, pois minhas recordações desse Aristides Lobo da infância surgem empilhadas e a fotografia positiva que delas obtenho resulta da revelação de vários negativos superpostos, cuja transparência permite que as imagens de uns se misturem com as luzes dos outros. O essencial é que me lembro dos bondes de burro com seus poucos bancos, com o condutor e o cobrador, os dois sem farda, de terno velho, colarinho duro, chapéu de lebre, ou chile, ou bilontra – e a bigodeira solta ao vento carioca. O primeiro governava os burros a chicotadas mais simbólicas do que propriamente para valer e principalmente, com a série de ruídos que tirava dos beiços, da língua, das bochechas, das goelas, e que eram muxoxos e chupões, assovios e estalos, brados monossilábicos e gritos churriados – a que as adestradas alimárias respondiam com o passo, a marcha, o trote, a andadura e a parada. De distância em distância as parelhas cansadas eram trocadas por outras mais frescas, nas mudas dispostas ao longo dos itinerários.  Uma destas perpetuou-se no nome que se estendeu a um bairro todo – o da Muda da Tijuca. Lembro-me bem da que ficava à esquina da Marquês de Sapucaí e Salvador de Sá, onde foi depois uma estação de elétricos – estação não no sentido de paragem, mas do local onde se recolhiam os bondes. Quem vinha de Aristides Lobo, era ali que trocava os burros. Eles eram soltos ao mesmo tempo  que as correntes que os prendiam à trave que era desengatada conjuntamente, do veículo. Quando eles se sentiam livres, empinavam as cabeças, zurravam e corriam, sem necessidade de serem conduzidos, para dentro da muda, para suas águas e seu capim.  Iam rebolando as ancas, repiqueteando os cascos ferrados, num tilintar de cadeias arrastadas. Compunham uma representação de movimento e som que vim a recuperar quando o cinema começou a explorar as dançarinas de rumba com suas bundas de potranca, suas caudas farfalhantes, seu agudo bater  de saltos e suas secas castanholas. Sempre que as via, reinundava minha alma do encanto infantil com que assistia à troca das bestas naquela esquina. E sempre que passo nesse cruzamento de ruas, reassumo meus cinco, meus seis anos e ouço o trincolejar de grilhões raspando no lajedo. Os bondinhos de tração animal seriam substituídos pelos elétricos, na Zona Norte, aí por volta de 1909.”

Em: Baú de Ossos, Pedro Nava, Rio de Janeiro, Sabiá: 1972, PP. 372-3





Cartões de Natal: Papai Noel chega de maneiras inusitadas!

21 12 2011

Asa Delta puxada a renas.

Como já vimos em duas outras postagens neste mês, sobre os meios de transporte de Papai Noel, voltamos ao assunto, deslumbrados que estamos com a sua criatividade para chegar a todas as crianças do mundo.  Mostramos, então, alguns outras maneiras de viajar de que o bom velhinho se utiliza.

Foguete, cartão da USRR.

Barco sobre esquis para os canais congelados da Holanda, cartão holandês.

Ônibus de dois andares, Inglaterra.

Ele também usa o trem, veja este cheio de brinquedos.

Snowmobile, em cartão da Rússia.

Ele também vem de triciclo.

Chega de helicóptero.

De bicileta ajudado por crianças…

Também faz entregas de caminhão.

Cartão da Finlândia.
Além de motocicleta voadora…

E de lambreta…

De sleigh motorizado…

E, é claro, de tapete mágico pelos céus da antiga União Soviética.

Além de poder usar seu paraquedas a qualquer momento.





O transporte de Papai Noel: cartões postais de Natal contam histórias… (1)

12 12 2011

Papai Noel chega no carrinho de mão, cartão de Natal, de época,  inglês.

Quando eu era criança, Papai Noel vinha trenó puxado por renas, na noite de Natal. Era a única época do ano em que as palavras rena e trenó faziam sentido.  É claro, naquela mesma época Papai Noel chegava ao Rio de Janeiro, por volta do dia 8 de dezembro de helicóptero.  Não me lembro bem como nós mantínhamos essas duas chegadas simultaneamente, fazendo sentido… Mas criança gosta de Papai Noel de qualquer maneira.

Cartão postal com Papai Noel em trenó puxado a renas, 1909.

Fiquei surpresa de ver um cartão de Natal em que Papai Noel aparece sendo transportado num carrinho de mão.  Não tenho a menor idéia do que esse cartão inglês representa, acredito que reflita alguma história conhecida na Inglaterra, pois é muito curioso.

Papai Noel a pé na neve, acompanhado de um anjinho.

Mas quando pesquisamos em antigos cartões postais vemos que o meio de transporte de Papai Noel, pode mudar.  No século XIX ele aparece na maioria das vezes a pé. E até empurra um carrinho de mão, parecido com aquele do primeiro cartão postal, cheio de presentes, frutos e traz também a árvore de Natal.

A pé, ele também pode chegar esquiando ou deslizando com patins nos  lagos gelados.

Mas ele pode chegar a cavalo, a cavalo voador, de carruagem e de carroça puxada a burro.

Papai Noel chega em seu cavalo branco, cartão de Natal finlandês, século XX.

Cavalo voador, cartão de Natal, Ucrânia.

Carruagem cheia de presentes, neste cartão de Natal.-
Cartão do século XIX.

Papai Noel chega de carroça neste cartão francês.

E pode ter um ou outro acidente no percurso como mostra o cartão de Natal abaixo:

Dependendo da parte da Europa onde ele se encontra, seu trenó é puxado por um cavalo:

ou, como na Rússia, seu trenó sempre puxado por 3 cavalos, quer brancos ou não.

Mas Papai Noel pode surpreender ainda mais, seguir os passos de Hanibal e levar uma manada de  elefantes para sua viagem…

Pelo ar ele tem também muitas opções, por exemplo: o balão, Papai Noel pode viajar de balão:

Pode andar de avião:

Papai Noel atravessa os céus num monomotor.

É claro que Papai Noel também pode viajar de tapete mágico!

E quem procura por Papai Noel também vai pelos ares:

E se precisar descer rapidamente, há sempre um pára-quedas à disposição:

OUTRAS POSTAGENS EXAMINARÂO OUTROS MEIOS DE TRANSPORTE DESSE VELHINHO AVENTUREIRO…





Olhar na África: as bicicletas de bambu

11 06 2010

Bicicletas azuis, 2004

Inha Bastos ( Brasil 1949)

Óleo sobre tela,  90 x 130 cm

No início deste ano, a Der Spiegel, publicou um excelente artigo de Andrea Reidl sobre bicicletas de bambu.  Guardei-o e nada melhor do que este momento de Copa do Mundo, com os nossos olhares no continente africano e hoje me lembrei do assunto.

Bicicletas de fibra de carbono e de alumínio estão definitivamente entre os itens do passado.  Hoje o melhor modelo manufaturado vem mais leve, mais forte, mais confortável e deixa uma pegada de carbono muito menor para um modo de transporte que está entre os mais desejados na preservação do meio ambiente.

Até hoje, o mais conhecido construtor de bicicletas de bambu is Craig Calfee, que mantém sua oficina na costa californiana.  Suas bicicletas têm um desenho fenomenal e dependem da produção de uma gramínea: o bambu.   Mas ele não é o único.  Hoje bicicletas de bambu são produzidas em muitos países africanos com bastante sucesso. 

A bicicleta Calfee.

Craig Calfee é em parte responsável pela própria competição, já que foi em Gana que fundou  o Projeto Bamboosero, — que é um projeto com apoio parcial do Instituto da Terra da Universidade de Columbia, que tem como objetivo ensinar os ganenses a construírem  uma bicicleta de bambu, e mais tarde até, quem sabe, abrirem uma pequena fábrica de bicicletas.   A facilidade do projeto está nos insumos.  O material é simples: bambu, que é encontrado em todos os continentes, no mundo inteiro, abundante.  Ele  precisa ser curtido por quatro meses antes de ser usado na fabricação das bicicletas; e como liga, fibras de cânhamo embebidas em resina são usadas para amarrar os tubos de bambu.   Mas o sucesso está também na eficiência, o bambu é leve e extremamente resistente.

—-

—-

Bicicleta de bambu, detalhe.

Craig Calfee já construía bicicletas antes de desenvolver  o modelo de bambu.   Era já bastante conhecido por ter desenvolvido bicicletas de fibra de carbono para os maiores ciclistas do mundo.  Procurando por algo novo descobriu o bambu.

Além de ser um elemento encontrado universalmente, além de ser bom para o meio-ambiente, de ser barato, de ser de fácil manuseio, o bambu, ou melhor, a armação de uma bicicleta em bambu absorve a vibração do movimento de maneira ainda mais suave do que a que é feita de fibra de carbono.  E é mais resistente a qualquer impacto do que as bicicletas tradicionais demonstrando muito maior resistência à quebra, fatores confirmados em testes científicos na EFBe, na Alemanha.

Bicicleta de vime.

Há algumas outras vantagens que a armação de bambu tem sobre qualquer outra, entre elas, a relativa facilidade com que pode ser manufaturada em países em desenvolvimento, porque o material usado, o bambu, cresce praticamente ao lado de qualquer tipo de grupo de manufatura.  Além  disso, bicicletas são um importante meio de transporte nas sociedades em desenvolvimento que abrange toda a população: crianças indo para a escola; a ida para o trabalho ou para o mercado dos adultos de uma família; o transporte de pequenas cargas.

Depois do sucesso do projeto em Gana, que começou em fevereiro de 2008, outros países começam a receber incentivos semelhantes do Bamboosero: Uganda, Libéria, Nova Zelândia e Filipinas.

Bicicletas de material natural em Gana.

—-

—–

Craig Calfee não é o único trabalhando em solo americano com o desenvolvimento de modelos de bicicletas de bambu.  Nick Frey, que é um engenheiro e ciclista passou dois anos desenvolvendo o seu modelo de bicicleta de bambu para, com outros quatro engenheiros, formar a companhia de bicletas de bambu chamada Sol Cycles, na cidade de Princeton, NJ.  Logo depois deslocou-se para o estado do Colorado onde fundou a companhia Boo Bicycles que também se especializa em bicicletas de bambu.   Há outros nessa competição de bicicletas de bambu: Daedalus em Portland, no estado de Oregon, que constrói esse tipo de bicleta desde 2005.

E é claro há os competidores de outros lugares do mundo.  Na Dinamarca a firma Biomega já constrói um tipo de bicicleta com excelente design enquanto em Berlim, na Alemanha, a Universidade Técnica desenvolve as bicicletas Berlin Bamboo Bikes.  A pesquisa do engenheiro alemão Nicolas Meyer, de Osnabruck na Baixa Saxônia, deu um passo a frente manufaturando bicicletas de fibra de cânhamo, que levam o rótulo de sua companhia  a Onyx Composites, que se especializa em projetos de construção leve que usem matéria prima sustentável.

—-

—-

Manufatura de uma bicicleta de bambu em Gana.

Para um projeto de bicicletas usadas na corrida de triatlo sua bicicleta tem uma combinação de bambu e cânhamo.  Essa mistura de duas diferentes fontes de matéria prima combina 60% de cânhamo com 15% de bambu e o resto de fibra de carbono e alumínio. 

—-

—-

O produto final em Gana.

 

Mas a grande vantagem, no momento, dessas bicicletas está explícito no pequeno vídeo de Calfee, que mostro abaixo, que é além da praticidade de transporte e da preservação do meio ambiente, é o número de empregos que uma pequena companhia de construção de bicicletas de bambu pode criar.  Empregos que certamente podem levar a um crescimento econômico mais estável e sustentável.

VÍDEO EM INGLÊS: