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Magali tem dúvidas! Ilustração Maurício de Sousa.
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No outro dia, fui buscar um quadro numa loja de molduras. Na oficina, ainda trabalhavam no acabamento da moldura. Sem pensar duas vezes disse para o Sr. Pedro:
— Quer que venha mais tarde?
Ele foi verificar, no fundo da oficina, a que horas os empregados teriam o quadro pronto. Do lado de fora do balcão, sentado pacientemente num canto, com as mãos pousadas numa bengala, estava um senhor. Só depois vim a conhecê-lo por causa de nossa conversa, soube tratar-se de um conhecido pintor paisagista de Minas Gerais. Mas quando ele me abordou, enquanto o Sr. Pedro verificava o horário, eu não sabia quem era.
— Mas a senhora usa o subjuntivo! — ele disse surpreso.
— Como? — eu não entendi, assim de repente, o que ele queria dizer… Estava fora de contexto…
— Pouca gente usa o subjuntivo. A senhora não é carioca, é?
— Sou sim, disse rapidamente, acostumada a responder a essa pergunta seguidamente. E assim começou uma conversa que durou pra lá de duas horas. Ele dizia que nós cariocas estávamos nos esquecendo do subjuntivo. E por isso ele achou que eu não era carioca além, é claro, da minha pronúncia ser um tanto sulista.
Minha mãe, apesar de carioca, foi educada em São Paulo e ficou com a pronúncia dos esses mais acentuada do que a dos cariocas, apesar de usar o erre carioca. Nós todos, os filhos, cariocas, falamos os plurais com esses em vez de xis e também temos uma pronúncia clara, quase cantada. Minha mãe era professora de português e não deixava por menos: todos tínhamos que falar corretamente. Ela nos corrigia automaticamente, a qualquer momento, em qualquer ocasião, não deixava passar uma oportunidade. Venceu pela persistência, tenho certeza.
Depois dessa abordagem na loja das molduras, passei a prestar mais atenção ao uso do subjuntivo. E realmente não só o carioca anda abusando de não usá-lo, mas a imprensa também, tanto a escrita quanto a falada. É pena, porque o subjuntivo esclarece o pensamento além de auxiliar o interlocutor a entender as variáveis daquilo que se fala. Sei disso, por estar casada com um estrangeiro e ser colocada constantemente no papel que minha mãe tinha comigo: corrigir o português a qualquer momento. Meu marido passou a gostar do subjuntivo e hoje o usa em grande parte dos casos, sem erro. Há uma pequena regra que ajuda a clarificar o uso do subjuntivo.
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Chico Bento tem dúvidas… Ilustração Maurício de Sousa.
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Se há duvida na primeira frase, a segunda vai para o subjuntivo.
Uma regra clara e eficiente. A dúvida pode ser claramente expressada [pelo uso de verbos como duvidar] ou pode ser implícita.
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Vejamos os exemplos:
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É possível [dúvida] que eu vá ao cinema amanhã.
Imagina-se [dúvida] que o ladrão tenha fugido pela porta da frente.
Meu tio desconfia [dúvida] que seu emprego esteja por um fio.
Os bombeiros suspeitam [dúvida] que o fogo tenha-se iniciado na cozinha.
Os médicos receiam [dúvida] que as medidas tomadas contra a epidemia de dengue não sejam suficientes para evitar mortes no bairro.
Duvidamos [dúvida] que o horário de verão acabe antes do Carnaval.
Julgava-se [dúvida] que o criminoso tivesse saído pela porta da frente, mas descobriu-se que esse não fora o caso.
Supúnhamos [dúvida] que as respostas do ENEM fossem dadas à tarde, mas nos enganamos.
João suspeitou [dúvida] que fosse traído pela mulher.
Maria suspeitou [dúvida] que sua melhor amiga roubasse os bombons da caixa assim que os visse.
Os senadores duvidam que o ministro permaneça no cargo até o final do ano.
Desconfiei [dúvida] de que o teste de hepatite fosse dar negativo.
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Façam bom proveito!






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