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Pierre Augustin Thomire ( França, 1732-1799)
óleo sobre tela, 81 x 65 cm
Museu de Belas Artes, Bordeaux
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Pierre Augustin Thomire foi um pintor francês ativo no século XVIII em Bordeaux. Informações do Museu de Bordeaux.
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Pierre Augustin Thomire ( França, 1732-1799)
óleo sobre tela, 81 x 65 cm
Museu de Belas Artes, Bordeaux
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Pierre Augustin Thomire foi um pintor francês ativo no século XVIII em Bordeaux. Informações do Museu de Bordeaux.
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Reproduzo aqui, a segunda parte uma coletânea de textos de Gilberto Freyre, escritos entre 1948 e 1951 para a revista O Cruzeiro, em que o sociólogo esclarece alguns pontos sobre a censura.
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(parte II) – Gilberto Freyre
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Da campanha que se vem fazendo, entre nós, contra as histórias em quadrinhos – e não apenas contra os excessos e abusos que se cometem neste gênero de literatura destinada a meninos e a adolescentes, mas saboreado também por numerosos adultos – é possível que resulte um bem: o despertar nos principais responsáveis pela publicação dessas histórias, deveres que vinham sendo esquecidos por eles. Deveres de vigilância contra aqueles excessos e contra aqueles abusos.
Mas todos que não compreendem que se mate um homem com um remédio heróico – contanto que se feche de repente a ferida que vinha avermelhando o rosto ou apostemando o pé do pobre homem – desejam que esse resultado seja atingido sem alterar-se a Constituição para aí introduzir-se este perigo mortal para uma democracia: a censura prévia à literatura. Porque quem diz censura a qualquer gênero de literatura, diz literatura dirigida, diz fascismo, diz totalitarismo numa de suas piores expressões. E não é justo que se chegue a tanto só para se acabar com os excessos ou os abusos das histórias de quadrinhos
A verdade é que, em si mesmas, as histórias em quadrinhos são uma forma nova de expressão contra a qual seria tão quixotesco no levantarmos, como contra o rádio, o cinema falado ou a televisão. Como o rádio, o cinema falado e a televisão, as histórias em quadrinhos concorrem para o desprestígio da leitura dos longos textos para favorecer as suas dramatizações sintéticas, breves, incisivas. Mas o que se deve ver aí é uma tendência da época: uma época caracterizada pela ascensão social de massas sôfregas, antes de síntese e de resumos dramáticos de fatos da atualidade e do passado, que de demorados contatos com o livro, com a revista, com o jornal, com o teatro, com o cinema ou com o próprio rádio.
A essa tendência da época a história em quadrinhos corresponde admiravelmente. É um meio atualíssimo de expressão cuja substância deve ser, quanto possível, purificada de excessos, vulgaridade ou abusos – até aí têm razão os jornalistas, educadores e parlamentares empenhados em combater as histórias de quadrinhos – mas cuja forma ou cuja técnica, em vez de repelida, deve ser utilizada em escala cada dia maior pelo escritor, pelo artista, pelo educador desejoso de influência sobre a massa.
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O missionário jesuíta deixou-nos, dos seus grandes dias de esforço heróico de cristianização de gentes pagãs ou bárbaras, esta lição digna de ser seguida pelos que hoje se dedicam , em países como o Brasil, à obras de recreação e, ao mesmo tempo, de educação do grande público: a lição de que os meios de contato do educador ou do artista com as massas devem basear-se nos hábitos, na capacidade e no grau de desenvolvimento intelectual da gente a que se dirige. Por isso o Jesuíta inteligentemente recorreu, no Brasil do século XVI, aos cantos, à música e às danças indígenas. Recorreu às trombetas, aos ruídos, às cores vivas, aos estandartes vistosos.
O que os admiráveis padres queriam era ganhar a atenção, o interesse e a curiosidade da massa indígena. Sabiam que não alcançariam nunca este fim com a simples leitura, em voz alta, das Escrituras, com sermões, com discursos ou mesmo com a representação de comédias ou autos. De modo que se serviram de técnicas de persuasão, educação e recreação da massa à altura do desenvolvimento intelectual dos caboclos. Anteciparam-se nesse ponto aos industriais norte-americanos, mestres da propaganda comercial, e aos fascistas e nazistas europeus, exímios na arte de persuasão política de massas.
Fossem hoje os Jesuítas a mesma força espantosamente ativa que foram no século XVI e eles é que estariam se utilizando, em países como o Brasil, da técnica da história de quadrinhos para a educação e recreação da massa brasileira de meninos e adolescentes, dentro dos ideais cristãos de vida e de cultura. É o que devem fazer hoje os bons educadores, artistas, intelectuais e jornalistas: dominar a nova técnica de educação e recreação do menino e do adolescente que é a história em quadrinhos.
Em vez de se deixarem envolver pelo horror furioso à história de quadrinho, devem servir-se dessa técnica, melhorando-lhe a substância e purificando-lhe o conteúdo de excessos de sensacionalismo, de vulgaridade e de mau gosto. Nada de polícia nem de censura prévia à literatura para a solução de um problema que não se resolve nem com a polícia nem com a censura. Resolve-se é com esforço, com inteligência e com bom-senso e havendo cooperação dos diretores de jornais e revistas do país, com os mestres, com a Igreja, com os diretores do escotismo.
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Em: Pessoas, coisas e animais, de Gilberto Freyre, — ensaios e artigos reunidos e apresentados por Edson Nery da Fonseca, São Paulo, edição especial MPM Casablanca-Propaganda: 1979.
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Hei de viver sem encrencas,
de maneira pitoresca.
— Sou da ordem das avencas:
só quero sombra e água fresca.
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(José de Almeida Corrêa)