Há épocas em que tudo o que se lê parece ter a ver com todo o resto que se leu no dia anterior ou na hora anterior. É o que os alemães chamam de zeitgeist – espírito do tempo — palavra em geral usada em alemão mesmo, em qualquer língua, para clareza e especificação de seu significado.
Pois hoje, graças à família Sarney [cujo pai, ex-presidente, se respeitasse sua própria biografia — como fomos ordenados a fazê-lo pelo NOSSO GUIA — já teria se desvinculado do Senado], voltei a tropeçar no assunto de censura. Censura que às vezes vem de onde não esperamos. No nosso caso aqui, de um desembargador… Mas voltemos ao assunto…
Há duas semanas mais ou menos os portadores do Kindle – o livro eletrônico vendido pelo portal Amazon, descobriram que alguns dos textos que tinham, que haviam sido comprados pelo site, com download feito legalmente e que mantinham no Kindle para futura leitura na máquina, exatamente como manda o figurino, desapareceram. Mas como? A companhia Amazon, sem nenhum aviso, remotamente, entrou nos Kindles que tinham esses textos e sumariamente os destruiu. Assim, mesmo. Sem aviso prévio. Sem explicações. Mais tarde, depois da surpresa, e até, com muito boa vontade, dá para entender a explicação dessa intervenção da companhia de livros. Se tudo o que aconteceu foi só que Jeff Bezos, CEO da Amazon explicou: “os livros haviam sido vendidos como textos para download no Kindle por erro da companhia. Havia problemas com as permissões.”
E chega a ser engraçado quando vemos que textos eram esses. Quais? Nada mais nada menos do que dois livros de George Orwell: Animal Farm e 1984. Que piada! 1984? Tem certeza?
Mas há outros textos removidos: Atlas Shrugged , The Fountainhead e The Virtue of Selfishness de Ayn Rand e alguns tomos de Harry Potter. A explicação da companhia é que esses textos foram vendidos em Kindles de maneira illegal. Alguém havia posto no site textos piratas. Diversos alertas deveriam ter soado nas nossas cabeças:
1 – Como pode alguém entrar no site da Amazon e colocar lá textos piratas? E a segurança?
2 – Como pode uma companhia entrar nos nossos livros comprados nessa companhia e eliminar, sem aviso prévio o que está lá dentro, que você comprou, pelo que sabia de maneira legal?
3 – E se a moda pega? E cai nas mãos de um Chávez ou qualquer outro GRANDE ESTADISTA que resolve eliminar a oposição entrando nos Kindles que temos em casa e apagando os textos?
Mix Leitor D da Mix Tecnologia.
Dizem que o futuro dos livros está nas formas eletrônicas como o Kindle. Realmente é mais uma dessas coisas de zeitgeist. Semana passada, a Mix Tecnologia, de Pernambuco – aquele centro maravilhoso de tecnologia brasileira, circulava a novidade do Mix Leitor D, de produção total nacional, que estará no mercado brasileiro já a partir do ano que vem, com dois modelos: a versão Básica e Premium com tela de 6 polegadas, em bom português, 15 cm. A diferença entre as duas versões é a memória que varia de 1 GB a 4 GB de dados, que daria para guardar até 1.500 livros. O Mix Leitor D deve custar entre R$ 650 e R$ 1.100, dependendo da versão.
Infelizmente a censura da Amazon traz a tona problemas com esses leitores que não haviam ainda sido discutidos. A censura continuará a existir, assim como existe hoje: alguém abre processo contra essa biografia publicada, contra aquele cara que copiou minha idéia etc. Mas os livros publicados, pelo menos até hoje, depois de publicados, não conseguem desaparecer completamente do mapa. Há sempre um volume. Alguém que comprou antes. Alguém que recebeu de presente e nunca leu e tampouco jogou fora. Mas a habilidade que uma companhia como a Amazon demonstrou de entrar dentro do seu livro, dos GBs de memória que você comprou e eliminar tudo o que quiser sem que você saiba, faz parte de uma realidade horripilante.
FONTES:
Slate Magazine
Terra