
Peninha, ilustração de Walt Disney.
Os Obamas mandaram novas ondas de choque pelo mundo da arte mundial depois de colocarem um pedido de empréstimo a museus, galerias e colecionadores particulares, mostrando que gostariam, para a Casa Branca, de arte moderna produzida por artistas negros, asiáticos, hispânicos e por mulheres. Dando uma guinada radical da arte do século XIX que domina as paredes da Casa Branca como pintura de gênero, paisagens bucólicas e muitos retratos, o casal Obama está incluindo, entre outras, obras de arte abstrata.
As escolhas do presidente do EUA podem afetar os valores de mercado das obras e dos artistas escolhidos para decorarem a Casa Branca. Curadores de museus e colecionadores decidiram rapidamente oferecer obras para inclusão no local.
As escolhas que fizerem terão inevitavelmente algumas implicações políticas. E poderão servir como uma ferramenta para impulsionar a mensagem de uma administração mais inclusiva do que as anteriores. O presidente Clinton recebeu elogios após ter selecionado Simmie Knox, um americano negro, artista do estado de Alabama, para pintar seus retratos oficiais. Enquanto que a administração do presidente Bush ganhou aprovação quando adquiriu Os construtores, uma pintura do artista negro americano Jacob Lawrence, recebeu também algumas críticas porque este quadro retrata homens negros fazendo trabalho servil.

Os Construtores
Jacob Lawrence (EUA 1947)
Têmpera sobre madeira
50 x 60 cm
Coleção da Casa Branca, Washington DC
Na semana passada, sete novas obras, de empréstimo vieram do Hirshhorn Museum and Sculptural Garden em Washington DC. Elas foram transportadas e instaladas na Casa Branca, na parte da residência particular da família. Entre elas estão “Sky Light” e “Watusi (Hard Edge),” um par de pinturas abstratas em azul e amarelo pela pouco conhecida pintora negra americana Alma Thomas, aclamada por suas pinturas pós-guerra de formas geométricas e cores alegres.

Skylight, 1973
Alma Thomas (EUA 1891- 1978)
Acrílica sobre tela, 50 x 60 cm
Hishhorn Museum & Sculpture Garden,
Em empréstimo à Casa Branca, Washington DC
A National Gallery of Art, em Washington DC, emprestou à família, pelo menos, cinco obras este ano, incluindo os “números, de 0 a 9“, uma escultura em relevo de Jasper Johns, “Berkeley No. 52,” em grande escala, a espalhafatosa pintura de Richard Diebenkorn, e um quadro vermelho-sangue Edward Ruscha, em que na tela estão escritas as palavras, “eu acho que talvez eu vá …“, montagem que parece própria para um presidente conhecido por longos momentos contemplação. A escultura de Jasper Johns foi instalada na ala residencial da Casa Branca, no dia da inauguração, junto com outras obras de arte moderna de Robert Rauschenberg e Louise Nevelson, que também foram emprestadas para a Casa Branca pela National Gallery of Art.

De 0 a 9, 1961
Jasper Johns (EUA 1930 – )
Relevo em chumbo
National Gallery, Washington DC
Em empréstimo à Casa Branca
Depois que George W. Bush trouxe para a Casa Branca o artista de El Paso, Texas, Tom Lea’s “Rio Grande” — uma visão de um cacto foto-realista de encontro a nuvens cinzentas, e colocou-a na Oval Office, o preço das pinturas deste artista subiu cerca de 300%, diz Adair Margo, dono de uma galeria em El Paso que representa o trabalho de Lea. [Lea faleceu em 2001, o que também ajudou a aumentar o valor do seu trabalho].

Rio Grande, 1954
Tom Lea, (1907-2001)
Óleo sobre tela, 56 x 80 cm
Esteve em empréstimo no Oval Office
da Casa Branca no governo de G. W. Bush.
O interesse do casal Obama por arte moderna vem de longa data, de muito antes da mudança que fizeram para Washington. A casa da família em Hyde Park tinha arte moderna e fotografias em preto-e-branco, é o que afirmam vários amigos de Chicago. Vale a pena lembrar, também, que em um de seus primeiros encontros, Obama levou Michelle para uma visita ao Art Institute de Chicago.
O porta-voz da Casa Branca diz que o casal Obama aprecia desfrutar todo tipos de arte, mas que deseja “complementar a coleção permanente” e “dar nova voz” aos modernos artistas americanos de todas as raças e origens.
As mudanças na arte da Casa Branca acompanham o desejo da administração do presidente Obama para o aumento do orçamento para as artes. Obama incluiu $ 50 milhões de dólares em seu pacote de estímulo econômico para a National Endowment for the Arts e na segunda-feira Michelle Obama falou sobre a reabertura da ala do Metropolitan Museum, dedicada à arte americana.

Eu acho… talvez eu vá, 1983
Ed [Edward] Ruscha (EUA 1937 – )
Óleo sobre tela, 138 x 160 cm
National Gallery, Washington DC
Em empréstimo à Casa Branca
Michelle e Barack Obama começaram a pensar na arte que colocariam na Casa Branca pouco depois da eleição em novembro, explica curador de arte William Allman. Michael Smith, um decorador baseado em Los Angeles, contratado pelo casal Obama para redecorar seus cômodos particulares trabalhou com o Sr. Allman, com a secretária social da Casa Branca Desirée Rogers e outros da equipe de transição para determinar quais obras fariam o casal se sentir em casa, em Washington.
O casal fez uma lista de cerca de 40 artistas e pediu por escrito numa carta ao Museu Hishhorn por potenciais empréstimos, de acordo com Kerry Brougher, diretor adjunto do museu e curador-chefe. Uma das imposições dos Obama foi que quaisquer empréstimos deveriam vir das obras armazenadas da coleção do museu e em hipótese alguma seus pedidos deveriam depenar as paredes de exposição da instituição.
“A coleção permanente da Casa Branca é um excelente documento da força artística da América dos séculos XVIII e XIX”, diz Michael Smith. “As peças de arte selecionadas para empréstimo servem de ligação entre esse legado histórico e as diversas vozes de artistas do século 20 e 21.”
Na semana passada, Michelle e Barack Obama decidiram tomar emprestado “Nice“, um quadro abstrato de 1954 do pintor francês de origem russa, Nicolas de Staël, de retângulos vermelho, preto e verde-musgo; um par de pinturas de quadrados do pintor alemão Josef Albers, da famosa série “Homenagem ao Quadrado” em tons de ouro, vermelho e lavanda, e também “Dançarina colocando meia” e “Primeira Bailarina”, dois bronzes decorativos do escultor e pintor francês, Edgar Degas. O museu também enviou um trabalho sobre a segregação racial do artista de Nova York Glenn Ligon: “Black Like Me”, [Negro como eu] entre outros que o casal ainda pondera, de acordo com um porta-voz Casa Branca.

Nice, 1954
Nicolas de Staël (França 1914- 1955 )
Óleo sobre tela,
Hishhorn Museum & Sculpture Garden,
Em empréstimo à Casa Branca
Obras existentes no Oval Office incluem a paisagem de 1895 de Thomas Moran «Três Tetons‘ e a escultura ‘Bronco Buster” (1903) de Frederic Remington. O presidente pode pendurar o que ele quiser na residência e nos escritórios, incluindo o Oval Office, mas a arte colocada em salas públicas, como a Sala Verde, por exemplo, deve ser primeiro aprovada pelo curador da Casa Branca e pelo Comitê para a Preservação da Casa Branca , um conselho consultivo sobre qual a primeira-dama atua como presidente honorário.
“Todas as obras destinadas à coleção permanente da Casa Branca muitas vezes, passam por rigoroso e longo controle antes de a Casa Branca aceitá-los como brindes ou, por vezes, comprá-los usando doações privadas”, diz o Sr. Allman, que atuou como curador-chefe, uma posição permanente na Casa Branca, onde ele atua desde 1976.
Adições à coleção permanente deve ter, pelo menos, 25 anos. A Casa Branca não aceita normalmente peças de artistas vivos para a sua recolha, porque sua inclusão poderia impactar no valor de mercado do artista escolhido para a coleção permanente. um valor de mercado. O resultado é que não há muitas opções de arte moderna na coleção, disse Allman.
“Não somos uma galeria de arte”, Allman continua, “não somos um museu. As pessoas vêm para a Casa Branca, uma vez na vida e já têm uma certa percepção de que eles verão”.
No momento, das 450 e poucas peças da coleção permanente só cinco obras são de artistas negros: os retratos Clinton, por Knox; “Os Construtores” por Lawrence; “Dunas ao por do sol em Atlantic City” de Henry Ossawa Tanner, que está no Quarto Verde e foi comprado durante o governo Clinton e “A Fazenda Desembarque“, uma tranqüila paisagem pintada em 1892 pelo artista, de Rhode Island, Edward Bannister, adquirido com doações em 2006.
A Casa Branca também pode temporariamente selecionar obras de museus, galerias e de colecionadores para decorar quer a residência particular, quer os cômodos públicos. Os presidentes devolvem os empréstimos no final do seu governo.

Homenagem ao quadrado, 1964
Joseph Albers (Alemanha 1888- 1976 )
Óleo sobre tela,
Em empréstimo à Casa Branca
Muitos dos mesmos colecionadores abastados que ajudaram Obama a financiar sua campanha presidencial estão agora oferecendo obras de arte. ET Williams, um colecionador de Nova York de arte americana de artistas negros, que já trabalhou no conselho de museus, incluindo o Museu de Arte Moderna de Nova York, está entre os candidatos à doadores.
No início deste mês, Williams, um banqueiro aposentado e investidor imobiliário, examinando a coleção que mantém em seu apartamento em Manhattan analisou esta verdadeira jóia de sua coleção, um retrato de um homem com chapéu de Lois Mailou Jones. A pintura está avaliada em $ 150.000, 00 dólares, mas ele disse que ficaria feliz se pudesse doá-lo para a coleção permanente da Casa Branca. Ele também confirmou que o presidente pode “pegar emprestado tudo o de que gosta” de sua coleção, que inclui obras de Romare Bearden e Hale Woodruff.
Williams diz que apesar de um empréstimo ou uma doação para a Casa Branca poder vir a aumentar o perfil de sua coleção, a oferta que faz é motivada por um desejo de apoiar o presidente. Um porta-voz Casa Branca confirmou que qualquer doação em potencial para a coleção permanente deve ser considerada através do curador do escritório.
Os colecionadores de arte negra americana imediatamente ficaram a postos quando a notícia se espalhou de que o casal Obama procurava por arte para empréstimo, diz Bridgette McCullough Alexander, curadora de arte e que foi conselheira para o ensino médio com a primeira-dama. Ela diz que alguns de seus clientes colecionadores manifestaram interesse em emprestar obras para a Casa Branca.
“Para os colecionadores, foi como se os Obama tivessem pedido que lhes enchessem a geladeira. Como na mercearia, a lista de artistas só cresceu “, diz ela.

Berkeley no. 52, 1955
Richard Diebenkorn (EUA 1922- 1993)
Óleo sobre tela,
Propriedade do espólio de Richard Diebenkorn
Em empréstimo à Casa Branca
A Casa Branca é, já, há muito tempo, uma verdadeira porta giratória de preferências artísticas. Dolley Madison salvou o célebre retrato de George Washington feito por Gilbert Stuart. Jacqueline Kennedy ficou conhecida por elevar o perfil da arte na Casa Branca quando mandou tirar dos armazéns que guardam as obras da casa, oito pinturas de Cézanne que fazem parte da coleção permanente.
As últimas administrações têm tentado preencher as lacunas na coleção permanente de arte americana. Hillary Clinton teve sucesso em convencer o comitê de Preservação da Casa Branca para aceitar o trabalho abstrato de 1931 de Georgia O’Keeffe “Bear Mountain Lake, Taos.” Os críticos insistiam em dizer que o quadro não se enquadrava na elegância da Sala Verde, característica do século XIX.

Bear Mountain Lake, NM, 1931
Geórgia O’ Keeffee ( EUA 1887-1986)
Acervo da Casa Branca, Washington DC
Laura Bush também conseguiu convencer a comissão de preservação a aceitar um Andrew Wyeth, uma pintura doada pelo artista, numa rara exceção à proibição de obras de artistas vivos. “Graças a Deus que o aceitaram porque logo depois que Wyeth morreu e a Casa Branca nunca teria sido capaz de comprá-lo,” lembrou o historiador da arte William Kloss, que tem servido na comissão de preservação desde 1990.
Em 2007, o Fundo de Aquisições para a Casa Branca, uma organização sem fins lucrativos que financia aquisições de arte aprovadas pelo comitê de preservação, pagou US $ 2,5 milhões por um Jacob Lawrence da cor de ferrugem colagem de trabalhadores no local de um edifício. Pagou quatro vezes a sua elevada estimativa e ultrapassando em muito os $ 968.000, 00 preço recorde para o artista em leilão na época, lembrou Eric Widing, chefe do departamento de pintura americana da Christie’s. A compra pode ter dado um impulso ao mercado Lawrence, pois na primavera seguinte, um colecionador pagou $ 881.000, 00 para Christie’s por um outro Lawrence,– o terceiro mais alto preço pago por uma de suas obras.
A aquisição de 1995 do quadro de Henry Ossawa Tanner, Cena de praia em Atlantic City teve o efeito inverso. A Casa Branca comprou o trabalho direto da sobrinha neta do artista por US $ 100.000,00 um preço bem inferior a $ 1 milhão de dólares, pedido por semelhantes quadros de Tanner. O modesto preço da compra foi altamente comentado e divulgado. Imediatamente o preço de quadros de Tanner desabaram no mercado, atestam vários marchands.

Cena de praia em Atlantic City, 1885
Henry Ossawa Tanner (EUA 1855- 1937)
Óleo sobre tela, 73 x 137 cm
Acervo permanente da Casa Branca
Laura Bush pendurou um trabalho moderno de Helen Frankenthaler na residência particular e pleiteou a aquisição de um Lawrence, enquanto G.W. Bush cobria as paredes de seu escritório com pelo menos seis paisagens do Texas.
Bush gostava de coisas que lhe lembrassem o Texas e disse que queria no Oval Office olhar como uma pessoa otimista que trabalha lá “, explicou Anita McBride, ex-chefe de equipe da Sra. Bush. Ela lembrou também que todos os quadros emprestados ao presidente anterior, já foram devolvidos.
Poucas semanas depois da posse Obama causou um auê, quando removeu do Oval Office um busto de bronze de Winston Churchill, emprestado pela Embaixada Britânica e o substituiu por um busto de Martin Luther King Jr. do escultor Charles Alston, emprestado pela National Portrait Gallery em Washington DC.
No próximo mês, o casal Obama decidirá sobre o empréstimo de quatro obras do artista negro americano William H. Johnson, incluindo o seu ” A Lenda de Booker T. Washington“, um óleo sobre madeira compensada representando um ex-escravo no ato de educar um grupo de estudantes negros. O quadro pertence ao Museu de Arte Americana do Smithsonian. Nesse meio tempo, o Art Institute of Chicago planeja enviar aproximadamente 10 obras para a família Obama considerar, entre elas, peças do artista americano negro Beauford Delaney e um trabalho expressionista abstrato de Franz Kline.
Steve Stuart, um historiador amador que vem estudando a Casa Branca por três décadas, acha que os Obama não necessitam se vincular demais às tradições. “Você não deveria ter de olhar para a cara da Sra. Hoover sobre sua cama por quatro anos, se não o quisesse”, disse ele.
Artigo: THE WALL STREET JOURNAL
Autores: Amy Chozick e Kelly Crow
Tradução liberal ( isto quer dizer, não ao pé da letra) de Ladyce West











