Resenha: Nas pegadas da alemoa, de Ilko Minev

28 03 2025
Autoria não determinada.

 

 

 

Minha amiga Regina Porto do blog Livro Errante indicou Nas pegadas da alemoa, de Ilko Minev [Buzz Editora: 2021] para leitura.  Marcamos de conversar sobre o livro no último dia do mês, mas já vou colocar aqui minhas impressões.  Foi uma ótima surpresa. Gostei da leitura principalmente porque aprendi muito sobre o norte do Brasil, sobre a Amazônia, sobre o Amapá.  É uma região do Brasil que não conheço, mas que atrai o olhar do mundo todo, que está nas manchetes há anos e que nós brasileiros aqui do sudeste em geral não conhecemos bem.

Eu classificaria essa obra como aventura, com informações históricas, tratadas com objetividade jornalística,  detalhando riquezas e perigos no meio ambiente, tudo isso com um leve toque de romance para suavizar a narrativa e não considerá-la exclusivamente texto instrutivo. O autor não escreveu esse romance para competir com Dostoiévski ou Gabriel Garcia Marquez.  Sua intenção é informar e divertir.  E consegue.  Dois de seus livros já se tornaram best-sellers no Brasil. Este, que ficou cinco semanas consecutivas na lista dos mais vendidos no país em 2022, e Na sombra do mundo perdido, que ainda não li, entre os mais vendidos em 2018.  Ilko Minev tem uma história pessoal interessante que o deixa ao mesmo tempo narrar como observador de fora e mostrar a vida amazônica no seu âmago.  Naturalizado brasileiro, nasceu na Bulgária, de onde emigrou, graças às restrições políticas do governo comunista na época.  Eventualmente veio para o Brasil, depois de uma parada na Bélgica.  Formado em economia, era para ter ficado por seis meses trabalhando no setor eletrônico, em 1972, mas foi ficando.  E ficou, para nossa alegria, orgulho e enriquecimento. Tornou-se um empreendedor de sucesso no Amazonas, fazendo parte da comunidade judaica de Manaus.  Quando se aposentou, dedicou-se a escrever histórias da Amazônia. 

 

 

 

 

 

 

O livro começa contando algo surpreendente: a Alemanha, antes da Segunda Guerra Mundial havia mandado uma expedição para exploração do território brasileiro, no Amapá.  Vieram com muito material.  Estavam ciumentos da França, da Inglaterra e da Holanda terem aqueles territórios ricos das guianas (que ainda não eram países independentes) e queriam explorar o Amapá para terem também sua “guiana”… Eu nunca tinha ouvido falar disso e fiquei surpresa.

“… em 1935, ainda antes da Segunda Guerra Mundial, realmente houve uma bem organizada e bastante sofisticada expedição alemã, munida de hidroavião e de outros recursos avançados para a época, que, com a ajuda do governo Vargas, passou um ano e sete meses conhecendo e mapeando aquela remota e completamente desconhecida região na fronteira do Brasil com a Guiana Francesa. Pelo que pesquisei, os alemães colheram amostras, catalogaram boa parte da flora e da fauna e estabeleceram contato com as tribos indígenas antes mesmo de o Brasil marcar presença naquelas bandas.”

Ilko Minev

Assim como esse fato histórico é apresentado, detalhes da vida cotidiana no norte do país são apresentados com riqueza suficiente para deixar curiosidade e gosto de quero mais. Não só detalhes históricos do passado, descrições de pequenas cidades na Amazônia ou testemunhos do trabalho das ONGs ou até mesmo políticas do governo francês em relação à Guiana, mas também descrições das cachoeiras e plantas da região seduzem o leitor. Mas esse é o relato de uma aventura que deixa o leitor torcendo pelo sucesso da excursão planejada para procurar uma pessoa, conhecida como Alemoa, fruto de um casamento da época do expedição alemã ao Amapá. Mas sabendo de todo o planejamento que foi feito, torcemos com mais gosto ainda para um final feliz

Gostei muito do livro e recomendo a todos que queiram fazer um giro pelo norte do Brasil de hoje. A linguagem é clara, narrativa direta, um tantinho de romance para ligar a trama do início ao fim e muito, muito conhecimento generosamente oferecido.

NOTA: este blog não está associado a qualquer editora ou livraria, não recebe livros nem incentivos para a promoção de livros.





Curiosidade literária

18 12 2023

O escritor brasileiro, João Guimarães Rosa, autor de Grande Sertão Veredas, apesar de formado em medicina, foi um diplomata. Passou no concurso para o Itamaraty, entrando para o serviço diplomático em 1934. Seu primeiro posto foi na Alemanha, em Hamburgo. Lá que conheceu, em 1937, sua futura esposa, Aracy Moebius de Carvalho, funcionária do consulado. Em1938, Guimarães Rosa tornou-se cônsul-adjunto, e trabalhou neste local por quatro anos. Quando o Brasil cortou relações com a Alemanha, durante a Segunda Guerra Mundial, Guimarães Rosa foi preso em Baden-Baden. Ficou na cadeia pouco tempo, indo em seguida trabalhar como secretário na Embaixada do Brasil em Bogotá, onde permaneceu até 1944.

Durante sua estadia na Alemanha, através dos anos de guerra, ele e sua esposa deram abrigo e protegeram, por volta de cem judeus, para que escapassem das forças nazistas. Enquanto Guimarães Rosa era cônsul-adjunto, Aracy era responsável pela preparação dos documentos para emissão de vistos para o Brasil. Foi essa combinação que permitiu aos dois de assistirem aos judeus perseguidos pelo governo de Hitler. Quando o cônsul se ausentava, Guimarães Rosa assinava as permissões de entrada no Brasil. Por essa quebra das regras, ou seja leis antissemitas vigentes durante a ditadura de Getúlio Vargas e pela assistência dada aos judeus, principalmente a ajuda de Aracy: empréstimo de carro dela com chapa diplomática; distribuição de alimentos, para burlar o racionamento de comidas aos judeus, o Estado de Israel, em 1985, homenageou ambos com o nome de um bosque localizado nas encostas que dão acesso à cidade de Jerusalém.





A Resistência na França na Segunda Guerra Mundial

23 06 2023

Mulher no terraço, 1907

Henri Matisse (França, 1869-19954)

óleo sobre tela, 65 x 800 cm

Museu do Estado da Nova Arte Ocidental, Moscou

 

 

“A maioria das pessoas que dizem ter pertencido à Resistência são contadoras de histórias, na melhor das hipóteses. Na pior, são simplesmente mentirosas. A Resistência foi um movimento assustadoramente pequeno, sigiloso, secreto, e o preço de ser descoberto era gigantesco. Depois da guerra, todo mundo queria acreditar que apoiou a Resistência. É uma fantasia nacional coletiva da França.”

 

Em: O hotel na Place Vendôme, Tilar J. Mazzeo, tradução de Anfré Gordirro, Rio de Janeiro, Intrínseca: 2016, minha edição: Kindle





Resenha: “Assunto pessoal”, W. Somerset Maugham

27 01 2018

 

 

 

john-kingsley Escócia. 1956. cap-ferrat, ost, 75 x 75 cm.jpgCap Ferrat

John Kingsley (Escócia, 1956)

óleo sobre tela, 75 x 75 cm

 

 

Assunto pessoal é um livro delicioso! Podia não ser.  Trata-se das memórias de Somerset Maugham sobre o período da Segunda Guerra Mundial.  Apesar dos trâmites do início da guerra retratados pelo autor, não é um livro pesado. É uma leitura sedutora pela prosa eloquente, fluida, com o gosto de causos contados  no fim do dia, na varanda ou próximo à lareira; uma tradução impecável de Leonel Vallandro, que faz o português rolar pelo texto sem nenhuma lembrança do original em inglês, um português correto,  formal, como era também o inglês de Maugham; e sobretudo a visão de alguém que apesar de ter vivido grande parte de sua vida fora da Grã-Bretanha manteve alguns traços na escrita que associamos aos ingleses:  ironia, soberba, fino senso de humor. Há um ponto de vista definitivamente inglês que diverte mesmo quando é cáustico.

Maugham foi um dos mais importantes escritores da primeira metade do século XX, além de um dos mais bem pagos.  Escritor e dramaturgo também trabalhou para serviço secreto britânico quando residiu na Suíça e na Rússia antes da revolução. Morou na Índia e no sudeste asiático durante a Primeira Guerra. Já havia permanecido na infância fora da Inglaterra, quando voltou, aos dez anos, órfão de pai e mãe, estudou no Kings College, e foi fruto de chacota dos colegas de turma, por falar o inglês com alguns erros, já que sua língua mãe havia sido o francês. Nascera em Paris onde seus pais moravam.  Talvez toda essa experiência no exterior justifique a facilidade que tem de analisar ingleses e europeus com alguma distância, como vemos nessa obra.

 

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Essas memórias começam quando a Alemanha invade a Polônia e parece lógico que a França seria a próxima a cair no domínio germânico.  Maugham, que reside já há tempos em Cap Ferrat, no sudeste do território francês,  primeiro escreve alguns artigos sobre a situação na França do início dos anos 30 até mais tarde, por volta de 1940, quando tendo feito contato o serviço secreto britânico, passa a  reportar sobre posicionamento e estado das tropas francesas no continente.   Os arredores de Nice, na Côte d’Azur, na década de 1930, foram locais onde grandes milionários construíram belas casas de verão e também local onde muitos ingleses, não tão ricos, escolheram para morar, pois suas rendas, aposentadorias, tinham por lá, maior poder aquisitivo do que teriam na Inglaterra. Às vésperas da submissão da França à Alemanha, Maugham e outros ingleses fazem a difícil travessia do Mediterrâneo para a Inglaterra, como refugiados.  São viagens de navio difíceis, onde testemunha muito sofrimento e onde vemos que os ricos também tiveram que passar por sofrimento, mortes e restrições raramente lembradas hoje. Ter um relato de primeira mão sobre essa travessia, seus perigos e Londres sob ataque de bombardeios e a reação de seus habitantes  é algo valioso e interessante.  Muito melhor ainda quando bem escrito com um certo humor e ironia que não suscita melodramas.

 

MaughamWilliam Somerset Maugham

 

Somerset Maugham adapta sua prosa muito bem ao serviço das memórias.  Suas observações sobre as pessoas e acontecimentos que o cercam são tratadas com ironia e temperadas pela precisa observação do ser humano. Mais valiosa ainda é a descrição da época e de seu modo de pensar.  Por exemplo aprendemos que se pensava que Hitler estivesse blefando.  Por outro lado, Londres sob pressão alemã é relatada vividamente. Mesmo assim é um livro de leitura fácil, agradável, cuja ironia não passa despercebida. O realismo é contido e o momento histórico preservado. É, sim, uma aula de história, mas delicada, leve e atraente.  Aprendemos sem sentir.  E termina com uma dose de otimismo sobre o futuro da Inglaterra.  Recomendo.  Está esgotado, no Brasil. Mas vale a pena procurar.

PS: Você encontrará neste blog alguns trechos que achei deliciosos e postei.  Eles lhe darão uma ideia da encantadora narrativa.

 

 

NOTA: este blog não está associado a qualquer editora ou livraria, não recebe livros nem qualquer incentivo para a promoção de livros.





Lendo: William Somerset Maugham

17 12 2017

 

 

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ASSUNTO PESSOAL

William Somerset Maugham

Editora Globo: 1959, 226 páginas

 

SINOPSE

A deflagração da 2ª guerra mundial surpreende Somerset Maugham a viver no conforto de sua principesca Villa Mauresque, em Cap Ferrat, na Riviera francesa. O escritor, como um protegido dos deuses, colhia em vida os generosos frutos da glória literária.

Mas o conflito não o deixa insensível nem inativo. Oferece seus préstimos ao Ministério de informações da Inglaterra e recebe a tarefa de observar o moral das forças francesas e do operariado nas fábricas de munições e armamentos.

Isso lhe dá a oportunidade de ver a guerra por dentro e de acompanhar dia a dia aquele lamentável estado de coisas que conduziu a França à derrota, fazendo descer sobre o mundo civilizado a longa “noite de agonia” a que se referiu Maritain.

Sobrevém a capitulação. Maugham é obrigadoa dispensar a criadagem e a abandonar à própria sorte sua magnífica vivenda em Cap Ferrat, embarcando para a Inglaterra num pequeno navio carvoeiro na companhia de mais quinhentos refugiados.  Que viagem espantosa! Mais de vinte dias sob ameaça dos submarinos alemães, sujeira, desconforto, privações de toda sorte. Momentos trágicos, cômicos e patéticos nessa verdadeira odisseia em busca da velha Albion, a ilha da resistência. Depois: Londres, a blitzkrieg, a fleuma britânica e as durezas de uma guerra impiedosa e sem entranhas, cenas comoventes e heroicas daquela luta que exigiu “sangue, suor e lágrimas”, e o desfilar, diante de nossos olhos, de algumas figuras de dirigentes nacionais, que pertencem à história.

Finalmente, a viagem do autor para os Estados Unidos, onde permanecerá até 1945. A história de uma derrota – a da França – e de uma resistência – a da Inglaterra, contada por um homem vivido e experimentado, eis a matéria deste livro, que constituindo um dos capítulos mais agitados de sua biografia,  William Someset Maugham apresentou, ao público como sendo estritamente pessoal.





Resenha: “O livro secreto” de Grégory Samak

31 12 2015

 

 

jogo de xadrez com a morteJogo de xadrez com a morte, 1480

Albertus Pictor (1440-1507)

pintura mural

Igreja em Täby, Suécia

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O livro secreto é uma fábula. Partindo da premissa que estamos à beira de esquecer o passado, Samak pondera sobre as lições no nazismo. E, concluindo que continuamos a puxar para debaixo do tapete a magnitude do que aconteceu durante a Segunda Guerra, podemos repetir o erro e contribuir para um novo “genocídio de todos os indesejáveis — fossem eles comunistas, judeus, ciganos, homossexuais, enfermos” (109). Esta é uma obra de alerta.

É um conto fantástico sobre um livro sagrado onde estão escritos todos os detalhes das vidas dos seres humanos, desde seu nascimento até a morte. O livro chega às mãos de Elias Ein, um senhor aposentado, que trabalhara com seguros, austríaco, sem família, que se muda para uma pequena cidade às margens do rio Inn, para aproveitar os últimos anos de vida. Elias percebe que além da lista dos seres humanos, esse livro também lhe dá o poder de viajar no tempo. Ele já se encontrava pessimista com os rumos da humanidade:

“Guiada pela culpa, a pós-modernidade europeia, a do século de Elias, se emaranhava na obsessão neurótica pelo esquecimento, uma vontade de “virar a página”, que era nada mais do que a página do seu fracasso moral.

Elias via a memória do antigo mundo se apagar, o mundo de seus pais e de seu velho legado, abrindo a porta para uma nova era de perigos semelhantes aos do passado…”(89)

Elias pensa então: já que pode visitar o passado, por que não mudá-lo?

Apesar de ser um livro de 170 páginas, Grégory Samak constrói uma trama com diversas referências culturais que servem para honrar todos os que morreram nas mãos assassinas do nazismo. Ele nos dá a chave desse entendimento ao dividir a obra em três partes e nomeá-las em latim: Rex, TremendaeMajestatis, uma referência musical.

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Réquiem é uma composição musical fúnebre de oração aos mortos. É triste. É uma lamentação que começa com as palavras “requiem aeternam” que querem dizer: repouso eterno. Em 1791, o austríaco Wolfgang Amadeus Mozart se dedicou à composição de um Réquiem, hoje conhecido como “O Réquiem em ré menor“, que foi, possivelmente, sua última composição e, hoje, uma das mais conhecidas. Uma das partes deste Réquiem, chama-se: Rex tremendae majestatis. [Rex tremendae majestatis/qui salvandos salva gratis/salva me, fons pietatis.   Tradução: Ó rei de tremenda soberania/que salva os escolhidos livremente/salva-me, ó fonte de piedade]

É dessa maneira então que Grégory Samak nos avisa que se trata de uma obra de queixume. É uma lamentação, uma elegia. Assim como o Livro das Lamentações do Velho Testamento chora pela destruição do primeiro templo em Jerusalém, O livro secreto é um livro de lamúrias, de lástima e queixa sobre o rumo da civilização europeia após a Segunda Guerra.

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g.samakGrégory Samak

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E quem melhor para desfiar seus clamores numa melancólica meditação do que Elias Ein, que fica conhecido como Elias, o sábio, homem que leva o nome do profeta bíblico, numa referência direta ao milagre de ressuscitar os mortos?  Elias que trouxe o fogo dos céus e que foi levado aos céus numa carruagem em chamas?  Ele, o profeta que retornará antes que venha o grande e assustador dia do Senhor? Não é a toa que ele está nessa obra, liderando a repulsa quanto aos caminhos tomados pela civilização ocidental.

Para um pequeno livro, essa é uma grande mensagem.  Um texto rápido, corrido, de pequeníssimos capítulos, cheios de referências que o alargam, o engrandecem e o fazem relevante. É uma meditação em forma de fábula e como esta nos dá um questionamento moral.

Leitura muito recomendada.





Resenha: Toda luz que não podemos ver, Anthony Doerr

16 08 2015

 

 

maurice prendergast, lighthouse-at-st-maloFarol em Saint-Malo, c. 1907

Maurice Prendergast (EUA, 1858-1924)

óleo sobre tela, 51 x 62 cm

William Benton Museum of Art

 

 

Ando com a doença do século XXI: pouca paciência para histórias com detalhes intermináveis. Foi o que pensei quando cheguei à pagina 286 das 520 de Toda luz que não podemos ver.  Tive a impressão de estar às voltas com uma narrativa dos oitocentos, da família de Dickens, Dumas, Scott ou Verne, que aliás é mencionado com frequência pelo autor.  Não estivesse esse livro já separado em cenas para filmagem, com direito a flashbacks em diversas datas; não fosse menos direcionado ao cinema, onde certamente fará sucesso com belos e promissores atores adolescentes; tivesse ele uma linguagem mais consistente, ao invés da língua padrão semeada por sentenças com a função de  torná-lo mais literário, esse livro teria no mínimo metade das páginas, metade do peso, e seria ainda mais interessante de ser lido.

Não posso negar que a história prendeu a minha atenção.  Li até o final e isso já é de grande valia.  Sem dúvida, minha curiosidade foi despertada.  As divisões em pequeníssimos capítulos que já antecipam as cenas para um futuro cinematográfico, ajudaram.  Mas é de estranhar que a trama central, a noção de conflito, de um problema a ser resolvido, não se desenvolva antes que se chegue à segunda metade da obra.

 

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A história se passa durante a Segunda Guerra Mundial.  É protagonizada pelos adolescentes: Marie-Laure e Werner, ela francesa, ele alemão, que só se encontram no final da narrativa, ainda que o leitor tenha tido todas as deixas de que esse encontro não só será inevitável mas o ápice da trama delineada. Rica em artimanhas e ardis, de um diamante gigante com sósias de vidro a mensagens secretas passadas no miolo de pães, à imitação dos biscoitos da sorte chineses, Toda luz que não podemos ver nos mostra também práticas e caprichos do treinamento de jovens no nazismo. Aliás, é justamente o tratamento do personagem Werner  — entender seu desejo e decisão de ser escolhido para o treinamento nazista, suas dúvidas e sua decisão de não ver o que é óbvio —  uma das diferenças que distingue esse livro de outros sobre o mesmo período. Tanto Werner quanto Marie-Laure são extraordinários seres humanos. São heróis.  São maiores que a vida, sofrem com dignidade e tenacidade. E assim preenchem a necessidade tipicamente americana de “se ver a luz que não podemos ver”, de superar obstáculos apesar das circunstâncias.  E é justamente por preencher essa necessidade cultural de fechamento, de conclusão, que o livro ainda se torna um pouco mais irritante:  todos os personagens são mostrados um a um, em interminável sequência, com seus respectivos finais.  Amarrar essas pontas era desnecessário, é exagero.

 

 

anthony doerr Anthony Doerr

 

Apesar de todas as negativas acima, este não é um mau romance. Para aqueles que desejam numa leitura uma forma de entretenimento, esta será uma boa escolha. Mas está longe de ser o que eu esperaria de um vencedor do Prêmio Pulitzer.  Já li melhores descrições do dia a dia durante a Ocupação. Se você não espera que sua leitura pose questões intrigantes de sobrevivência emocional ou psicológica, que cubra verdadeiras soluções éticas, estéticas, literárias ou pessoais esse livro é para você.  Entretenha-se.

 

 





Imagem de leitura — Felix Nussbaum

27 07 2015

 

Felix Nussbaum, Dreierporträt, 1944Três retratos, 1944

Felix Nussbaum (Alemanha, 1907-1944)

óleo sobre tela, 100 x 80 cm





70 anos! NUNCA MAIS…

9 05 2015

 

Slide3Soldados brasileiros retornam ao Brasil ao final da Segunda Guerra Mundial.

 

soldados-britanicos-fazem-guarda-perSoldados britânicos fazem a guarda na cidade de Caen, na França destruída na guerra.

 

monumento_dos_pracinhas_-_halley_pacheco_de_oliveira_cc_wikimedia_-_18-11-2013Monumento ao soldado desconhecido, aos mortos na Segunda Guerra Mundial, Rio de Janeiro, Brasil.

 

Ontem comemorou-se no mundo inteiro os 70 anos do término da Segunda Guerra Mundial.  Que ela não se repita.  Que tenhamos aprendido com a enorme perda de vidas, uma lição valiosa.  O Brasil participou da guerra e também perdeu vidas. É certamente um momento para ser lembrado. A vitória é de todos nós que acreditamos na liberdade, na igualdade de direitos de todos a despeito das diferenças de raça, credo e preferências individuais.





Imagem de leitura — Ana Maria Leão

21 06 2014

 

 

ANA MARIA LEÃO - Homem lendo óleo sobre tela, 61X50cm. Assinado 1945.Homem lendo, 1945

[Leitura do jornal sobre o final da Segunda Guerra Mundial]

Ana Maria Leão (Brasil, ? – ?)

óleo sobre tela, 61 x 50 cm