Imagem de leitura — Agata Nowicka

16 02 2011

Audrey Hepburn,  2008

[Mural para a maior cadeia de café-livrarias da Polônia]

Agata Nowicka (Polônia, contemporânea)

Ilustração digital

www.agatanowicka.com

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Agata Endo Nowicka nasceu em Varsóvia, na Polônia  em 1976. É uma artista gráfica, ilustradora trabalhando com ilustração digital.  É cartunista e editora artística da Revista GAGA.  Suas ilustrações já apareceram em muitas revistas de renome: Exklusiv, ELLE, Viva, Newsweek e The New Yorker.





Paleontologia:descobertas as mais antigas pegadas de animal de 4 patas

8 01 2010
Foto: BBC

A prova mais antiga de um animal de quatro patas caminhando no solo foi descoberta na Polônia. Rochas de uma mina desativada nas montanhas da Santa Cruz, na Polônia, trazem “pegadas” de uma criatura desconhecida que viveu há 397 milhões de anos.   Diversos “caminhos” foram identificados nas Minas Zachelmie. Eles representam o movimento de diversos animais quando se movimentavam pela região que nessa época era um lamaçal tropical de ribeirinho, no Periodo Devoniano  da Terra.  

 

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O artigo com a descoberta é o destaque de capa da revista científica Nature. Segundo os cientistas, é possível inclusive perceber os “dedos” do animal. A equipe de cientistas afirma que com a descoberta é um indício de que os primeiros vertebrados terrestres podem ter aparecido milhões de anos antes do que se acreditava.

Este lugar revelou o que eu considero alguns dos fósseis mais incríveis que já achei na minha carreira como paleontólogo“, disse Per Ahlberg, da Universidade de Uppsala, na Suécia, que trabalhou na pesquisa. “As pegadas nos dão o registro mais antigo de como nossos ancestrais distantes saíram da água, se moveram pelo solo e deram seus primeiros passos.” 

Foto: BBC

Os animais eram provavelmente semelhantes a crocodilos e teriam tido um estilo de vida semelhante aos dos anfíbios (que só vieram a surgir milhões de anos depois).  O tamanho das pegadas indica que eles teriam mais de dois metros de tamanho. A equipe de cientistas da Polônia e da Suécia criou uma imagem hipotética do animal a partir da pegada.  Os pesquisadores reconstruíram pelos desenhos das pegadas como essas criaturas moviam suas “ancas”,  “cotovelos” e “joelhos”.

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Antes da descoberta na Polônia, o fóssil mais antigo com características semelhantes era de 375 milhões de anos atrás.   A teoria é que as primeiras criaturas na terra vieram dos peixes que tinham guelras em lóbulos.  A hora exata que dessa transição tem sido uma um dos campos mais ativos de pesquisa na área, nos últimos anos.  Paleontologistas acreditam que esta transição foi rápida, mas em etapas.  Talvez o mais conhecido fossil desta passage seja o organismo conhecido como Tikaalik roseae, um animal com características intermediárias entre peixe e quadrúpedes. 

Reconstrução período devoniano.  UERJ.

 

Fontes para o artigo:

Parte da tradução: Terra

Outra fonte: BBC





Cidadania de aluguel — cidadania de conveniência

11 08 2008

 

Sábados tivemos o Brasil contra o Brasil no vôlei de praia nas Olimpíadas.  Não que os nossos dois times estivessem lutando pelo 1° e 2° lugares no pódio.  Uma equipe de brasileiras, jogava pelo Brasil enquanto que outra equipe de brasileiras jogava pela Geórgia.  O desejo de participar nas Olimpíadas e a certeza de não serem as melhores para representar um país de estrelas no vôlei de praia fez com que Cristine Santanna e Andrezza Martins convenientemente se tornassem cidadãs da Geórgia para terem direito aos seus 15 minutos de fama olímpica.  Será que vale?  Elas perderam.  Como era previsível já que não poderiam se igualar ao time de brasileiras com nacionalidade brasileira.  

 

As meninas, que se tornaram cidadãs da Geórgia — logo a Geórgia que entrou em guerra no dia da comemoração de abertura das Olimpíadas, não são aqui objeto do meu julgamento.  Cada um sabe o que faz e porque o faz.  Mas reconheço que em questão de cidadania acho estranho que alguém possa jurar fidelidade a uma cultura, a um país, a uma bandeira desconhecida.  Espero que tenha valido a pena para elas, esta cidadania de encomenda.   Elas não são as únicas nesta situação.  Há dois outros jogadores brasileiros, no vôlei de praia, que também envergam as cores vermelho e branco da Geórgia: Renato Gomes e Jorge Terceiro.  Há também dois outros brasileiros, irmãos, defendendo o time de hóquei espanhol: Kiko e Felipe Perrone.  Pode até ser que estes irmãos tenham algum sentimento pela Espanha, já que seus sobrenomes parecem ser de origem espanhola. Mas reconheço que fico pensando sobre as reais  vantagens destes arranjos.

 

Muitos países que não tem atletas em campos específicos, mas que gostariam de mostrar sua “força” perante o mundo, “alugam” suas cidadanias aos que podem em tese lhes trazer maior “reconhecimento mundial”.   Atletas por sua vez, atraídos pela fama, pela possibilidade de financiamento, dinheiro vivo, durante anos de treino, não vêem nada de mais em se deixarem alugar como cidadãos de uma outra terra, de outra cultura, mesmo que esta cultura não tenha nada a ver com eles.  Todos, atletas e países encontram assim uma maneira de “burlar” a mediocridade, é a solução Dorian Gray: só a imagem no espelho é real; a imagem na TV, nos jogos olímpicos, na verdadeira luta diária do esporte, esta continua lustrosa, sem danos, sem impurezas, sem perdas, e mais ainda coma a possibilidade de medalhas que as tornem ainda mais ilusórias.  [Retrato de Dorian Gray, livro do escritor inglês Oscar Wilde, publicado pela primeira vez em 1891].  Na busca de imagem de contos de fadas, países de contos de fadas como alguns do oriente médio usam seus petrodólares para atrair uma elite de desportistas de países pobres, tais como corredores africanos.  Os chineses, que vendem barato suas horas de trabalho também estão defendendo bandeiras de diversos outros países principalmente em tênis de mesa.  Mas isso não é efeito da globalização.  Isto é simplesmente o efeito do olho grande.  

 

Gol!  Ilustração Mauricio de Sousa.

Gol! Ilustração Maurício de Sousa.

 

 

No final de junho, Anne Applebaum,  no artigo [How did a guy who can’t speak Polish end up scoring Poland’s only goal of Euro 2008? 30/6/2008] abordou este assunto enquanto considerava a Euro Copa de futebol.  Na televisão ela viu Lukas Podolski (polonês) jogando pela Alemanha, fazer o único gol que fez a Alemanha vencer sobre a Polônia.  A imprensa o rodeava e perguntava: “Como você se sente tendo marcado o gol contra o seu próprio país”?  É claro que o  jovem jogador não teve nada especial para responder.  Este foi um exemplo.  Esta é uma situação típica, na Europa: muitos times de futebol têm entre seus jogadores pessoas que não tem nada a ver com os países cujas camisas eles usam e cuja pátria eles defendem.

 

Ela nos lembra, muito apropriadamente, que a maioria dos europeus, em geral, não usa o seu nacionalismo na lapela.  Diferente dos Estados Unidos, europeus não hasteiam bandeiras na frente de casa, nem comemoram dias de independência com o ardor nacionalista, com que os americanos o fazem.  Ao invés disso, as batalhas patrióticas acontecem nos campos de futebol, onde pessoas enrolam-se nas bandeiras de seus países e em grupos saem com as caras pintadas, quando não insistem em usarem as mais repulsivas perucas de fios de náilon com as cores das bandeiras de suas pátrias.  Mas com a União Européia há preocupação dos governos de diluírem ao máximo  sentimentos de nacionalismo, eles preferem se mesclar numa única nacionalidade que seja representativa da Comunidade Européia.  Há, então, cada vez mais incentivo à troca de jogadores e à defesa de uma bandeira nacional como se fosse uma bandeira do seu time favorito.  Talvez, realmente, haja esta necessidade dentro da Europa. Mas é difícil imaginar que o mesmo seja aceitável quando um time chinês de tênis de mesa defende a Argentina ou um time brasileiro de vôlei de praia defende a Geórgia.