Minhas melhores leituras em 2015

30 12 2015

 

 

153.1LLeitora, por Jule Monti, cópia de Harrison Fisher.

 

Este foi um ano de muitos altos e baixos nas minhas leituras. Nos primeiros seis meses do ano, gostei muito pouco do que li. Depois veio uma onda de bons livros.  O final foi positivo mais até do que em outros anos.

Aqui vai a minha listinha, do que recomendo lido neste ano. Tenho um gosto bem eclético para assuntos, mas gosto de uma boa história, bem contada.

 

Os melhores:

 

Nora Webster de Colm Tóibín

Tirza de Arnon Grunberg

Stoner de John Williams

Na praia de Ian McEwan

Norwegian Wood, de Haruki Murakami

Meio sol amarelo de Chimamanda Ngozi Adichie

O sentido de um fim de Julian Barnes

Nadando de volta para casa de Deborah Levy

A linha da beleza, Allan Hollinghurst

 

Menção Honrosa para:

 

Americanah, de Chimamanda Ngozi Adichie

Toda luz que não podemos ver de Anthony Doerr

O leitor do trem das 6h27 de Jean-Paul Didierlaurent

Estação Atocha de Ben Lerner

O corpo humano, de Paolo Giordano

 

 





Resenha: “Norwegian Wood” de Haruki Murakami

20 09 2015

 

 

UWSrams1TokyoMarketRua do Mercado em Tokio, c. 2012

Ian Ramsey (GB, contemporâneo)

aquarela, 48 x 50 cm

Ian Ramsey

 

 

Toru é um herói como qualquer outro rapaz vivendo no final da década de 1960. Bom menino, educado, respeitador dos mais velhos. Vivendo pela primeira vez fora de casa, está aberto à experimentação. A história se passa no final da década de 1960. Tudo está em mudança da França, aos Estados Unidos, ao Japão. Experimento de vida nada tem a ver com radicalismo. Mas com a vontade de explorar as possibilidades. E é assim que encontramos Toru Watanabe pela primeira vez. Sua independência, sua busca, passa pela vida num dormitório, pelas novas amizades de rapazes que como ele procuram um caminho. Tem o ímpeto de dedicar-se às matérias que provavelmente serão úteis no teatro, carreira na qual imagina o seu futuro, mas procura acima de tudo o amor. Sair da casa paterna teve seu peso, mas a vida deixou de ser segura e previsível para ele desde a morte de seu melhor amigo Kizuki. Com ele e a namorada dele, Naoko formavam um trio de amigos inseparáveis. No entanto, Kizuki se suicida e Toru acaba se apaixonando pela namorada do amigo.

Para crescer emocionalmente e finalmente tornar-se o adulto que almeja ser há de fazer escolhas. Para isso precisa experimentar. Como Nagasawa, um amigo do dormitório explica: “Se você só lê o mesmo que todo mundo lê, acaba pensando o mesmo que todo mundo pensa” [43]. E Toru experimenta, não só novas amizades masculinas, pessoas com quem jamais imaginara pudesse se relacionar, como com garotas nos bares, numa incessante procura de satisfação sexual. Não leva muito tempo para descobrir que pelo menos essa busca deixa o sexo insosso e sem sentido. À medida que se abre para conhecer novas pessoas Toru desenvolve seu próprio julgamento.

 

NORWEGIAN_WOOD_1248790583B

Mais do que um romance de passagem da adolescência para a vida adulta Haruki Murakami retrata uma era. Talvez a melhor representação do período que eu já encontrei na literatura contemporânea. Não importa que seja situada no Japão. Este é um retrato de uma geração inteira, chamada no ocidente de baby-boomers, que chegou à idade adulta antes de 1974, do final da Guerra do Vietnã. E o título, referência à música dos Beatles do mesmo nome, não é coincidência. A letra de “Norwegian Wood” é um paralelo bem feito à trama – ou falta dela – no romance.

Diferente de muitos não achei a história deprimente, nostálgica, nem achei as cenas de sexo despropositadas. Fiquei encantada ao ler os capítulos sobre o retiro nas montanhas. Só ali deu para perceber o que Murakami iria eventualmente desenvolver até chegar à sua extraordinária obra 1Q84.

 

haruki-murakamiHaruki Murakami

 

Eu poderia dar a minha interpretação aqui sobre as três mulheres da vida de Toru. Mas não quero me alongar para não revelar mais do que o necessário. Mas são três as mulheres importantes em sua vida: uma – um sonho inatingível; outra contato com a realidade, uma união com a terra, com o sólido e seguro. E a terceira um sopro de vida, fértil de possibilidades. Ele faz a escolha certa.

Maravilhoso.