Cartaz de comemorando a assinatura da Lei Áurea.
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Estudo de cabeças, d’après Pieter Paul Rubens, s/d
Arthur Timótheo da Costa (Brasil, 1882-1922)
óleo sobr tela, 30 x 36 cm
Coleção particular
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A Lei Áurea veio em tempo,
dar liberdade total.
Ao africano o contento,
ao brasileiro a moral.
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(José Carlos Gomes)
Antônio Ferrigno ( Itália, 1863-1940)
óleo sobre tela, 179 x 135 cm
Pinacoteca do Estado de São Paulo
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Gonçalves Crespo
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As velhas negras, coitadas,
Ao longe tão assentadas
Do batuque folgazão.
Pulam crioulas faceiras
Em derredor das fogueiras
E das pipas de alcatrão.
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Na floresta rumorosa
Esparge a lua formosa
A clara luz tropical.
Tremeluzem pirilampos
No verde-escuro dos campos
E nos côncavos do val.
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Que noite de paz! que noite!
Não se ouve o estalar do açoite,
Nem as pragas do feitor!
E as pobres negras, coitadas,
Pendem as frontes cansadas
Num letárgico torpor!
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E cismam: outrora, e dantes
Havia também descantes,
E o tempo era tão feliz!
Ai! que profunda saudade
Da vida, da mocidade
Nas matas do seu país!
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E ante o seu olhar vazio
De esperanças, frio, frio
Como um véu de viuvez,
Ressurge e chora o passado
— Pobre ninho abandonado
Que a neve alagou, desfez…
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E pensam nos seus amores
Efêmeros como as flores
Que o sol queima no sertão…
Os filhos quando crescidos,
Foram levados, vendidos,
E ninguém sabe onde estão.
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Conheceram muito dono:
Embalaram tanto sono
De tanta sinhá gentil!
Foram mucambas amadas,
E agora inúteis, curvadas,
Numa velhice imbecil!
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No entanto o luar de prata
Envolve a colina e a mata
E os cafezais ao redor!
E os negros mostrando os dentes,
Saltam lépidos, contentes,
No batuque estrugidor.
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No espaço e amplo terreiro
A filha do Fazendeiro,
A sinhá sentimental,
Ouve um primo-recém-vindo,
Que lhe narra o poema infindo
Das noites de Portugal.
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E ela avista entre sorrisos,
De uns longínquos paraísos
A tentadora visão…
No entanto as velhas, coitadas,
Em
Cismam ao longe assentadas
Do batuque folgazão…
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Em: Obras Completas de Gonçalves Crespo, Rio de Janeiro, Livros de Portugal: 1942
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Antônio Cândido Gonçalves Crespo (Rio de Janeiro, 1846 — Lisboa, 1883), jurista e poeta, membro das tertúlias intelectuais portuguesas do final do século XIX. Formou-se em Direito pela Universidade de Coimbra, tendo colaborado em diversos periódicos, entre os quais O Ocidente e a Folha, o jornal de que era director João Penha, o poeta que introduziu em Portugal o Parnasianismo. Naturalizou-se português quando precisou ter cidadania portuguesa para exerger a advocacia. Casou-se com a escritora e poetisa portuguesa Maria Amália Vaz de Carvalho. Faleceu aos 37 anos de tuberculose, em 1883.
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Nota da Peregrina: Tenho uma grande admiração por esse poeta luso-brasileiro. Dos poetas do século XIX Gonçalves Crespo está entre os meus favoritos. Acho que deveríamos conhecê-lo melhor no Brasil.
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Princesa Isabel, teu nome,
Hoje coberto de glória,
Relembra o gesto mais lindo
Dos anais da nossa história.
Princesa Isabel D’ Orléans e Bragança assinava hoje, há 121 anos a Lei Áurea.
Lei nº 3.353, de 13 de Maio de 1888.
DECLARA EXTINTA A ESCRAVIDÃO NO BRASIL
A PRINCESA IMPERIAL Regente em Nome de Sua Majestade o Imperador o Senhor D. Pedro II, Faz saber a todos os súditos do IMPÉRIO que a Assembléia Geral decretou e Ela sancionou a Lei seguinte:
Art. 1º – É declarada extinta desde a data desta Lei a escravidão no Brasil.
Art. 2º – Revogam-se as disposições em contrário.
Manda portanto a todas as autoridades a quem o conhecimento e execução da referida Lei pertencer, que a cumpram e façam cumprir e guardar tão inteiramente, como nela se contém.
O Secretário de Estado dos Negócios d’Agricultura, Comércio e Obras Públicas e Interino dos Negócios Estrangeiros Bacharel Rodrigo Augusto da Silva do Conselho de Sua Majestade o Imperador, o faça imprimir, publicar e correr.
Dada no Palácio do Rio de Janeiro, em 13 de Maio de 1888 – 67º da Independência e do Império.
Carta de Lei, pela qual Vossa Alteza Imperial manda executar o Decreto da Assembléia Geral, que houve por bem sancionar declarando extinta a escravidão no Brasil, como nela se declara.
Para Vossa Alteza Imperial ver.
