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Nota: no texto abaixo, Cérebro é o cognome de um dos personagens do romance, uma cientista que está na terceira idade.
“Cérebro nunca desejou ter filhos, nunca se sentiu impelida a ser mãe. E não acreditava que ser mulher consistia em parir. Mas sua formação científica também a tornava consciente do fracasso biológico de seus genes. Todos os seres humanos, homens e mulheres, são o produto de um longuíssimo, múltiplo e clamoroso êxito. Do triunfo de cada um dos seus antepassados. Seus pais, seus avós, seus tataravós, toda essa linhagem genitora que ascende até se perder no passado mais remoto, é composta por indivíduos que conseguiram nascer, não morrer quando crianças, amadurecer, acasalar com um parceiro adequado e fértil, ter ao menos uma cria e mantê-la viva por tempo suficiente para que o processo continuasse. Sim, Cérebro era a consequência de um sucesso coletivo monumental, mas agora esse testemunho genético se perderia. Seu pequeno e trivial fracasso biológico colocava o ponto final numa linhagem de sobrevivência milenar.”
Em: Instruções para salvar o mundo, Rosa Montero, Rio de Janeiro, Nova Fronteira: 2011, p.222






