Refeições literárias: Marcel Proust

28 11 2024

Mesa de jantar, 1897

Henri Matisse  (França, 1869-1954)

óleo sobre tela, 100 x 131 cm

Coleção Particular

 

 

 

Mas (sobretudo a partir do instante em que o bom tempo se instalava em Combray) muito depois que a hora altiva do meio-dia, descida da torre de Santo Hilário que ela armoriava com os doces florões momentâneos de sua coroa sonora, vibrava em torno de nossa mesa, junto ao pão bento, também chegado familiarmente da igreja, nós ainda nos deixávamos ficar sentados diante dos pratos das Mil e Uma Noites, adormentados pelo calor e principalmente pela refeição. Pois, ao fundo permanente de ovos, de costeletas, de batatas, de compotas, de biscoitos, que nem sequer nos anunciava mais, Françoise acrescentava — de acordo com os trabalhos dos campos e pomares, o fruto da pesca, as surpresas do comércio, as amabilidades dos vizinhos e seu próprio gênio inventivo, e de tal forma que nosso cardápio, como essas quatro-folhas que esculpiam no século XIII à entrada das catedrais, refletia de certo modo o ritmo das estações e os episódios da vida — um rodovalho, porque a peixeira lhe garantira que estava fresco, um peru, porque descobrira um esplêndido no mercado de Roussainville-le-Pin, alcachofras com tutano, porque ainda não as preparara dessa maneira, uma perna de carneiro assada, porque o ar livre dá apetite e teria tempo de “baixar” dentro de sete horas, espinafres para variar, damascos, porque constituíam ainda uma raridade, groselhas, porque dali a quinze dias não haveria mais, framboesas, porque o sr. Swann as trouxera expressamente, cerejas, por serem as primeiras que dava a cerejeira do quintal depois de dois anos de esterilidade, o requeijão de que eu tanto gostava outrora, um doce de amêndoas, porque o encomendara na véspera, um brioche, porque era nossa vez de “oferecê-lo”. Depois de tudo, feito expressamente para nós, mas dedicado em particular a meu pai, era-nos oferecido um creme de chocolate, inspiração e atenção pessoal de Françoise, fugaz e leve como uma obra de circunstância onde ela pusera todo o seu talento. Aquele que se recusasse a provar, dizendo: “Já terminei, não tenho mais fome”, ter-se-ia imediatamente rebaixado ao nível desses grosseiros que, até no presente que lhe faz um artista de uma obra sua, examinam o peso e o material, quando o que vale é a intenção e a assinatura. Deixar no prato uma gota que fosse, denotaria a mesma impolidez que se levantar a gente diante do próprio compositor, antes de terminada a audição.”

 

 

Em: No caminho de Swann, Marcel Proust, tradução de Mário Quintana.





A Resistência na França na Segunda Guerra Mundial

23 06 2023

Mulher no terraço, 1907

Henri Matisse (França, 1869-19954)

óleo sobre tela, 65 x 800 cm

Museu do Estado da Nova Arte Ocidental, Moscou

 

 

“A maioria das pessoas que dizem ter pertencido à Resistência são contadoras de histórias, na melhor das hipóteses. Na pior, são simplesmente mentirosas. A Resistência foi um movimento assustadoramente pequeno, sigiloso, secreto, e o preço de ser descoberto era gigantesco. Depois da guerra, todo mundo queria acreditar que apoiou a Resistência. É uma fantasia nacional coletiva da França.”

 

Em: O hotel na Place Vendôme, Tilar J. Mazzeo, tradução de Anfré Gordirro, Rio de Janeiro, Intrínseca: 2016, minha edição: Kindle





Em casa: Henri Matisse

14 11 2021

Robe roxo e anêmonas, 1935

Henri Matisse (França, 1869-1954)

Óleo sobre tela, 47 x 60 cm

Museu de Arte de Baltimore





Em casa: Henri Matisse

1 08 2021

Jovem à janela, 1921

Henri Matisse (França, 1869-1954)

óleo sobre tela, 52 x 50cm

Baltimore Museum of Art, MD





Em casa: Henri Matisse

22 11 2020

O gato com peixes vermelhos, 1914

Henri Matisse (França, 1869 – 1954)

óleo sobre tela





Colagem e Matisse

3 11 2019

 

(henri_matisse_losange)

Losango, 1946-1947

Henri Matisse (França, 1869 – 1954)

Recortes pintados sobre lápis, arranjados sobre papel pintado,

colado em tela

 

 

A casa de leilões Christie’s venderá no dia 12 de novembro, em Nova York, a obra Losango de Henri Matisse, mostrada acima.  Trata-se de uma colagem de recortes pintados e colados sobre tela.  Christie’s lembra os leitores, no catálogo, que estas colagens, em geral associadas aos últimos anos na carreira do pintor francês, e talvez as mais famosas colagens do século XX, já haviam sido objeto de estudo por Matisse desde 1919, quando trabalhou nos figurinos e montagens de palco do balé de  Léonide Massine,  Le chant du rossignol.  E que Matisse voltou a trabalhar com colagens durante a década de 1930 experimentando com esses recortes, composições para seus quadros.  Portanto, quando foi obrigado a reduzir sua produção artística depois de um câncer nos intestinos ser descoberto e tratado, nos anos 40, Matisse já dominava muito bem a técnica das colagens. A ela, ele denominou: pitando com a tesoura.





Primavera: Henri Matisse

21 09 2018

 

 

800px-La_danse_(I)_by_MatisseLa danse I, 1909

Henri Matisse (França, 1869 – 1954)

óleo sobre tela, 259 x 390 cm

MOMA,  Nova York

 

 

“Há sempre flores para aqueles que querem vê-las.”

 

Henri Matisse





Sobre livros: Erri de Luca

10 07 2017

 

 

Matisse,still-life-with-books-and-candle-1890Natureza morta com livros, 1890

Henri Matisse (França, 1869 – 1954)

óleo sobre tela, 45 x 38 cm

Coleção Particular

 

 

“E para ele encompridar mais um pouco me pergunta o que tenho no bolso. Um livro, digo. Qual? Um usado, leio livros em final de exercício. Por quê? Digo-lhe outra vez. A mão dele vai ao bolso do meu casaco, mas não tira, sopesa.

Leio os usados porque as páginas muito folheadas e engorduradas dos dedos pesam mais nos olhos, porque cada cópia de livro pode pertencer a muitas vidas e os livros deviam ficar desvigiados nos lugares públicos e deslocar-se junto com os passantes que os levam consigo por um pouco e deveriam morrer como eles, consumidos por doenças, infectados, afogados ponte abaixo junto com os suicidas, enfiados num aquecedor no inverno, rasgados pelas crianças para fazer barquinhos, em suma deveriam morrer em qualquer lugar a não ser de tédio e de propriedade privada, condenados a uma prateleira pela vida toda.”

 

Em: Três cavalos, Erri de Luca, São Paulo, Barlendis & Vertecchia: 2006, tradução de Renata Lúcia Bottini, página 25.

 





Imagem de leitura — Henri Matisse

8 12 2016

 

 

henri-matisse-1918-mlle-matisse-num-casaco-de-xadrez-escoces-1918-ostMlle Matisse num casaco de xadrez escocês, 1918

Henri Matisse (França, 1869-1954)

óleo sobre tela

 





Tânger, a cidade vista por Tahar Ben Jelloun

7 05 2016

 

 

Henri_Matisse,_1911-12,_La_Fenêtre_à_Tanger_(Paysage_vu_d'une_fenêtre_Landscape_viewed_from_a_window,_Tangiers),_oil_on_canvas,_115_x_80_cm,_Pushkin_MuseumVista de Tânger pela janela, 1912

Henri Matisse (França, 1869-1954)

óleo sobre tela, 115 x 80 cm

Museu Pushkin, Moscou

 

 

“Cidade enfeitiçadora, ela amarra qualquer um contra um eucalipto com velhas cordas que marinheiros distraídos esqueceram no cais do porto; ela segue como uma perseguição; fica-se obcecado por ela como em uma paixão para sempre inacabada; fala-se dela; acredita-se que sem ela toda vida é enfadonha; tem-se necessidade de se saber o que está acontecendo, persuadido de que nada de essencial acontece.

Tânger é como um encontro ambíguo, inquieto, clandestino, uma história que esconde outras histórias, uma revelação que não diz toda verdade, um ar de família que envenena a sua existência desde que você se afasta; e você sente, então, que tem necessidade dela sem jamais conseguir saber por quê.”

 

 

Em:O último amigo, Tahar Ben Jelloun, Rio de Janeiro, Bertrand:2006, p.43