Ciprestes, 1889
Vincent van Gogh (Holanda, 1853-1890)
óleo sobre tela, 93 x 74 cm
Metropolitan Museum, N.Y.
” Vou pelo campo com uma nova muda de macieira para plantar.
Deposito-a no chão, viro-a, olho seus ramos mal esboçados tentarem lugar no espaço em torno.
Uma árvore precisa de duas coisas: sustança sob a terra e beleza fora. São criaturas completas mas impulsionadas por uma força de elegância. Beleza necessária a elas é vento, luz, pássaros, grilos, formigas e uma meta de estrelas em direção às quais apontar a fórmula dos ramos.
A máquina que nas árvores impulsiona linfa para cima é beleza, porque só a beleza na natureza contradiz a gravidade.
Sem beleza a árvore não quer. Por isso para num ponto do campo e pergunto: “Aqui, quer?”
Não espero uma resposta, um sinal no punho em que seguro seu tronco, mas gosto de dizer uma palavra à árvore. Ela sente as bordas, os horizontes e procura um lugar exato para se erguer.
Uma árvore escuta cometas, planetas, nuvens e enxames. Sente as tempestades do sol e as cigarras sobre ela com a mesma urgência de velar. Uma árvore é aliança entre o próximo e o perfeito longínquo.
Se vem de um viveiro e tem de enraizar-se em solo desconhecido, fica confusa como uma jovem camponês no primeiro dia de fábrica. Assim levo-a a um passeio antes de escavar-lhe o lugar.”
Em: Três cavalos, Erri de Luca, São Paulo, Berlendis & Vertecchia: 2006, tradução de Renata Lúcia Bottini, página 26.