“O cachorro do sertão”, texto de Gustavo Barroso

25 10 2023

Rex, 1984

Angelo de Aquino (Brasil, 1952-2007)

técnica mista sobre papel, 56 x 75 cm

 

 

O cachorro do sertão

 

 

Na generalidade os cachorros do sertão são pequenos, ossos à mostra, fulvos, arrepiados, gafeirentos, selvagens e valentes. O seu olhar glauco, melancólico e doce, segue ansiosamente todos os gestos de uma pessoa: estão sempre sob o temor duma pancada, dum mau trato. As suas pituitárias finíssimas sentem o guaximim ao longe; os seus ouvidos atilados percebem o estalar distante dum graveto sob a pata forte do gado, no sombrio recesso das caatingas. São caçadores e pegadores de gado. Ninguém nunca os educou; jamais os ensinaram: fizeram-se por si na selvatiqueza dos matagais espessos, no descampado das várzeas solitárias e tristes.

 

 

[exemplo de descrição de animais]

Texto de Gustavo Barroso (Brasil, 1888-1959)

 

 

Em: Flor do Lácio, [antologia]  Cleófano Lopes de Oliveira, São Paulo, Saraiva: 1964; 7ª edição. (Explicação de textos e Guia de Composição Literária para uso dos cursos normais e secundário) p. 90.





O cavalo sertanejo, texto de Gustavo Barroso

29 09 2015

 

 

ANTONIO PARREIRAS - (1860 - 1937) - Cavalo - osm - 50 x 70 - cidCavalo

Antônio Parreiras (Brasil, 1860-1937)

óleo sobre madeira, 50 x 60 cm

 

 

O cavalo sertanejo

 

Gustavo Barroso

 

O cavalo sertanejo é esguio, sóbrio, pequeno, rabo compridíssimo, crinas grandes, capaz de resistir a todas as privações, a todos os serviços e a todos os esforços. É o melhor auxiliar do vaqueiro e ele o estima e trata com o maior carinho. O cavalo do sertão é feioso como um corcel quirguiz. Lá uma vez aparece um exemplar bonito, esbelto, alto. Não tem saracoteios, nem saltos, nem corcovos, salvo quando espantadiço. O olhar só brilha quando se apresenta ocasião de correr; depois as pálpebras murcham numa sonolência lassa. É ativo e parece ronceiro; forte e parece fraco; ágil e parece pesado. É pasmosa a sua agilidade. Nos imprevistos das furibundas carreiras pelos matos em fora, salta galhos baixos, mergulha sob os altos, alonga-se, encurta-se, pula de lado, faz prodígios.  É necessariamente baixo para essas ligeirezas; a aridez do clima não produz outro. É raridade um animal de sete palmos do casco à cernelha. O meio torna-o sóbrio e magro. Passa dias sem comer, quase sem beber. Num dia faz quinze léguas, puxando um pouco; dez faz normalmente. É manso; quando o cavaleiro cai, para ao lado.

 

[Exemplo de descrição de animal]

 

Em: Flor do Lácio, [antologia]  Cleófano Lopes de Oliveira, São Paulo, Saraiva: 1964; 7ª edição. (Explicação de textos e Guia de Composição Literária para uso dos cursos normais e secundário) p. 85.