Ilustração anos 50
Em teus braços aninhada,
tenho, ao alcance da mão,
toda uma noite estrelada,
todo o sol no coração.
(Colombina)
Em teus braços aninhada,
tenho, ao alcance da mão,
toda uma noite estrelada,
todo o sol no coração.
(Colombina)
Menotti del Picchia
O teu beijo é tão doce, Arlequim…
O teu sonho é tão manso, Pierrô…
Pudesse eu repartir-me
encontrar minha calma
dando a Arlequim meu corpo…
e a Pierrô, minha alma!
Quando tenho Arlequim,
quero Pierrô tristonho,
pois um dá-me prazer,
o outro dá-me o sonho!
Nessa duplicidade o amor todo se encerra:
Um me fala do céu…outro fala da terra!
Eu amo, porque amar é variar
e, em verdade, toda razão do amor
está na variedade…
Penso que morreria o desejo da gente
se Arlequim e Pierrô fossem um ser somente.
Porque a história do amor
só pode se escrever assim:
Um sonho de Pierrô
E um beijo de Arlequim!
Triste vida a do Pierrô:
sofrer pela Colombina,
que, nos braços de Arlequim,
ri de sua triste sina!
(Paluma Filho)

Gosto imensamente da poesia de Manuel Bandeira. Acho-o, se não o maior poeta do século XX, certamente entre os três mais importantes poetas brasileiros da época. Acredito ter lido quase toda sua obra. Um atrativo a mais para o livro Um beijo de Colombina de Adriana Lisboa é que Manuel Bandeira está presente, ou melhor, é a alma, do romance. Por isso tive grandes expectativas ao abrir o livro.
Adriana Lisboa, por outro lado, só conheço de um livro anterior: Rakushisha. Por ele, a autora passou a figurar no rol de escritores/ poetas favoritos, pois me lembro de sua prosa delicada, cheia de surpresas e inusitadas visões dos temas do cotidiano.

Acreditei, portanto, quando escolhi a leitura desse livro, que iria ter dupla apreciação, que iria ter deleite ao quadrado. A prosa de Adriana Lisboa continua límpida, delicada, mesmo nesta obra, que não é tão poética quanto minha memória atribuía a ela. Manuel Bandeira continua um dos grandes poetas brasileiros de todos os tempos. Mas o poeta Manuel Bandeira perdeu-se nesse texto e Adriana Lisboa não mostrou a mágica de sua prosa-poética vista em outras de suas obras .
A trama se desenrola a partir de um casal de namorados, num relacionamento recente, em que de repente, a namorada, Teresa, morre afogada. Para melhor entender o que acontece o rapaz revê a história deles até o afogamento em Mangaratiba (RJ). Aos poucos um retrato mais detalhado de Teresa, jovem escritora às portas de um sucesso literário retumbante, começa a se firmar e surge a dúvida: teria ela, excelente nadadora , sofrido um golpe do acaso? Ou o afogamento teria sido deliberado, um suicídio?
Adriana Lisboa
A narrativa corre bem pelo primeiro terço do livro, para se perder e chegar a um final quase forçado, como se tivesse sido planejado de antemão e encontrasse dificuldade de desabrochar. O mistério sobre a morte de Teresa, que poderia ser visto como um gancho para puxar o leitor a cada página não parece tão importante nem para o leitor, nem para o namorado narrador. Não vi na trama secundária, seu envolvimento com uma antiga namorada, qualquer propósito a não ser o de lembrar o lugar de residência de Manuel Bandeira.
Enfim, uma ideia boa, com uma narrativa leve, que tinha tudo para ser mais do que só agradável, que infelizmente não chegou a encantar essa leitora. Uma oportunidade perdida. Adriana Lisboa continua com uma bela prosa, mas quase não chega ao que se propõe.
NOTA: este blog não está associado a qualquer editora ou livraria, não recebe livros nem qualquer incentivo para a promoção de livros.
Andorinhas, ilustração francesa.Se acaso eu fosse rainha,
dava a você meu reinado;
e se fosse uma andorinha,
o meu ninho no telhado.
(Colombina)
Salvar
Salvar
Pierrot, Colombina e Arlequim, 1919
[ilustração para o Balé Carnaval)
George Barbier (França, 1882-1932)
Litogravura policromada
Menotti del Picchia
— O teu beijo é tão quente, Arlequim
— O teu sonho é tão manso, Pierrot
Pudesse eu repartir-me
encontrar minha calma
dando a Arlequim meu corpo…
e a Pierrot a minh’alma!
Quando tenho Arlequim,
quero Pierrot tristonho,
pois um dá-me o prazer,
o outro dá-me o sonho!
Nessa duplicidade o amor todo se encerra:
um me fala do céu… outro fala da terra!
Eu amo, porque amar é variar,
e em verdade, toda a razão do amor
está na variedade…
Penso que morreria o desejo da gente
se Arlequim e Pierrot fossem um ser somente.
Porque a história do amor
só pode escrever-se assim:
um sonho de Pierrot…
e um beijo de Arlequim!
Este poema é baseado na fala final de Colombina em Máscaras, (1920)de Menotti del Picchia.


