Ilustração, cartão postal, de Sergio Bompard.
Cebolinha em dia de chuva © Maurício de Sousa
“…Chuva para menino é festa, é rego barrento cachoeirando à porta de casa, chamando a gente para brincar com a água que passa fazendo cócegas nos pés … É goteira pingando, é de noite música no telhado. Na calçada, reúne-se a meninada, na exuberância, no contentamento de ver a água cair, meninada pançudinha, inchada pelas sezões, de frieira rosada nos pés, de boca sem dentes caídos na muda, de boqueira, meninotas de tranças, ossudinhas, uma de olhos de sapiranga, batendo palmas e se esgoelando:
Chove chuva
pra nascê capim
pro boi comê
pra papai matá
pra mamãe comê!”
Em: História da minha infância, Gilberto Amado, Rio de Janeiro, José Olympio:1966, 3ª edição, p. 72.
Chuva, ilustração de Tatsuro Kiuchi.
Wilson W. Rodrigues
Chuva — miçangas do céu
de um invisível colar
que na amplidão se partiu
veio na terra tombar.
Chuva — miçangas do céu
feita de pingos de luz;
cada pingo — estojo d’água
que um diamante conduz.
Chuva — miçangas do céu
do colar que se partiu;
miçanga — orvalho perdido
que no seu peito luziu.
Em: Bahia Flor – Poemas, Wilson W. Rodrigues, Rio de Janeiro, Editora Publicitan: s/d, p. 127
Nota: Na publicação original a palavra miçangas encontra-se escrita com dois esses — missangas. Ambas as formas: miçangas e missangas estão corretas. No entanto, desde a publicação deste livro [acredito que tenha sido publicado nos anos 50 do século passado] convencionou-se que a forma missanga é a correta em Portugal enquanto que a forma miçanga é a correta no Brasil. Assim, ao postar este poema troquei a grafia para corresponder à forma correta no Brasil.
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Clotilde gosta de um dia de sol, ilustração Maurício de Sousa.–
Estava chuvoso o dia,
e veio o sol de repente,
assim, como uma alegria
entrando na alma da gente.
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(Augusta Campos)
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Chuva, ilustração Taro Semba.–
Chuva fina, eu te bendigo;
com teu jeito de tristeza,
és a alegria do trigo,
que põe fartura na mesa.
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(Jaci Pacheco)
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Um dia de chuva, ilustração: ignoro a autoria.–
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Lêdo Ivo
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Chove sobre a cidade
e a chuva inunda o asfalto, difunde o desastre e o desencontro
e procura abater as palmeiras que do fim da tarde
queriam apenas — graça plena — as estrelas.
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Os trovões reboam, espantando os pássaros
que vieram refugiar-se no meu quarto.
Os relâmpagos, fotógrafos do absoluto, iluminam as pessoas que passam
— são outros rostos, minha irmã, são as faces
revoltadas porque as divindades impossibilitaram os idílios,
a chegada pontual a uma casa, o já adiado trespasse com o inefável.
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As sarjetas recebem finalmente a Poesia. Como são belos
e nítidos os barcos de papel
que navegam buscando os reinos fantásticos, os inaccessíveis!
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A chuva tem uma canção. Jamais uma elegia
para saudar sua gentileza. Jamais uma ode,
um himeneu, uma écloga deploratória.
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Meu irmão, deixa que a goteira molhe tuas últimas
poesias. Pouco importa que amanhã te reconcilies com os grandes temas poéticos.
O amanhã é inconsumível. A chuva te ensina
a ser invariável sem se repetir.
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Em: Central Poética: poemas escolhidos, Lêdo Ivo, Rio de Janeiro, Aguilar:1976
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Em homenagem ao poeta Lêdo Ivo, falecido hoje, aos 88 anos.
Um dia de chuva em Lexington, KY, 1898
Paul Sawyier (EUA, 1865-1917)
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Sílvio Ribeiro de Castro
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Banho morno na banheira
ensopado cozinhando na panela
alvoroço nas folhas da palmeira
vento sul entrou pela janela
antes do almoço, uma bagaceira
a tarde chegou num barco à vela
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Parece mesmo que vem chuva
doce de banana com canela
na fruteira, um cacho de uvas
desenho inacabado numa tela
esquecido na cadeira, um par de luvas
sente saudades das mãos dela
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Bule de café na mesa, cesta de pão
um vaso de rosas amarelas
cachorrinho dormindo no chão
o livro de sonetos de Florbela
noite no meu quarto, solidão
um rosto de mulher numa aquarela
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Em: Poesia Simplesmente, diversos autores, prefácio de Roberto Pontes, 1999.
Caso algum dos temporais ferozes que costumam caracterizar o mês de junho se desenvolva em tempestade mais grave e venha a resultar em ameaça mais séria de inundação, os moradores do Colorado contarão com um serviço de alerta antecipado acionado por uma ampla rede de 1,2 mil voluntários espalhados pelo Estado. Os participantes da rede permitiram que fossem instalados nos terrenos de suas casas uma série de medidores de chuva.
Uma rede de avaliação da chuva, chuva de granizo e neve que está em operação em 46 Estados norte-americanos sob a coordenação da Universidade Estadual do Colorado recebeu mais de 800 relatórios instantâneos sobre as precipitações acontecidas em um recente dia de chuva de junho.
A Rede Colaborativa Comunitária para a Chuva, Granizo e Neve, apesar de seu nome desajeitado, oferece aos pesquisadores do clima dados inestimáveis sobre a tendências climáticas práticas.
A rede distribuída por 46 Estados espera estender suas atividades a mais três do Estados norte-americanos este ano, elevando seu total de monitores voluntários dos padrões de precipitação a 14,5 mil pessoas em todo o país.
Quando os voluntários saem aos quintais de suas casas em meio a fortes temporais a fim de verificar o nível registrado nos medidores de chuva, quaisquer resultados definidos como perigosos que eles encontrem são encaminhados imediatamente aos escritórios do Serviço Nacional de Meteorologia nas áreas sob ameaça.
E boa parte desse esforço deriva do sentimento de culpa persistente que Nolan Doesken, um climatologista da Universidade Estadual do Colorado, continua a sentir devido a uma devastadora inundação acontecida em 1997 em Fort Collins, Colorado, a sede da universidade. Cinco pessoas morreram quando as ruas da cidade foram inesperadamente tomadas pela água de uma inundação.
Doesken afirmou que estava ciente de que as chuvas do dia eram pesadas no bairro em que vive, mas não entrou em contato com as autoridades para reportar o fato – e nenhum outro morador local o fez, tampouco.
O Serviço Nacional de Meteorologia dispunha de imagens de radar que mostravam sérias concentrações de chuva ao longo do dia, mas não estimava que o temporal que desabaria sobre Fort Collins viesse a se provar pior do que as demais tempestades que estava acompanhando, afirma Doesken.
Caso houvesse um sistema de informação sobre a intensidade da chuva operando em tempo real na cidade, o Serviço Nacional de Meteorologia e as autoridades policiais poderiam ter lançado alertas mais urgentes quanto à ameaça de inundação. Agora, Doesken se preocupa menos, porque sabe que conta com uma rede de voluntários dedicados para cuidar desse tipo de situação.
“Quando as pessoas sabem que podem realizar uma tarefa simples, sem que precisem sair de casa, e com isso ajudar suas comunidades e a ciência, muita gente se interessa por participar“, afirmou o pesquisador.
“Eu gostaria que tivéssemos um número maior de voluntários prontos a reportar sobre a região de Denver a cada manhã“, ele disse. “Caso tivéssemos um voluntário a cada dois quarteirões, o número não seria excessivo“.