As línguas estão acabando!

20 11 2008

torres-de-babel

Construção da Torre de Babel , 1424-25

Mestre do Duque de Bedford, (França, circa 1405-1435)

Iluminura.

 

 

Um artigo recente da revista O Economista, fala com pesar sobre os milhares de línguas humanas em processo de extinção.  Apesar de ser interessante sabermos a maneira como seres humanos pensam e de como desenvolveram maneiras de pensar, parece inevitável que num mundo de comunicações instantâneas algumas línguas deixem de existir.  

 

As projeções são de que a maioria das 7000 línguas do mundo não serão mais faladas até o final deste século; 200 línguas africanas morreram no último século e 300 mais correm sério risco de desaparecerem.  No Sudeste da Ásia 145 línguas estão prestes a desaparecer, entre elas a língua Manchu falada na China, a Hua falada em Botswana, e a Gwich’in falada no Alasca.

 

Parece-me inexorável o desaparecimento destas línguas.  Principalmente quando a comunicação entre povos tornou-se comum e diária.  Num mundo em que pelo simples ligar de um aparelho de televisão uma pessoa é exposta a uma dúzia de línguas, essas, que ouvimos, parecem ser de maior importância para a própria sobrevivência do ser humano; sem se falar nas linguas usadas nas comunicações virtuais.  Este é um desenvolvimento natural.  Se nos lembrarmos bem, outras tantas línguas  já desapareceram através dos milênios tais como a língua Acadiana, Etrusca, Tangut, Chibcha e muitas, muitas outras,  algumas até de que não se tem noção.   

 

Algumas línguas, hoje, mesmo usadas por um grupo significativo de pessoas, estão sendo aos poucos trocadas por línguas que possam trazer maior sucesso econômico e conseqüentemente  melhor nível de sobrevivência para aqueles que as falam.   Assim, aos poucos, a pluralidade lingüística da Rússia está desaparecendo à medida que a juventude descobre ser indispensável o uso do Russo no cotidiano.  O mesmo acontece com habitantes da China e do Tibete que sentem necessidade de trocar suas respectivas línguas natais pelo Mandarim, a língua de franco acesso no território chinês.

 

Assim como há aqueles que querem salvar as espécies de animais em perigo de extinção, há muita gente querendo salvar, preservar se possível, línguas que tem poucos habitantes usando-as como no exemplo citado pela revista O Economista de Peter Austin, um lingüista Australiano.  Ele menciona:  Njerep, uma das 31 línguas em extinção tem no momento só 4 pessoas que a falam e todas acima de 60 anos de idade.   

 

Mas línguas são difíceis de serem preservadas, pois uma língua só faz sentido quando é falada e entendida.  Se não tem mais essa função entre os seres humanos, deixou de ter razão para a sua sobrevivência, porque deixou de produzir  aquilo a que se propõe: comunicação.

 

Este é um aspecto muito diferente dos apresentados pelos animais em extinção, que muitas vezes se acham nestas condições,  porque há muito mais demanda para suas virtudes ou suas qualidades do que esses animais têm em capacidade de reprodução.  Assim me parece ser o caso do marfim dos elefantes, das peles de jacarés, da carne de baleia, da carne do urso polar.  Por outro lado, uma língua não desaparece porque muitos querem falá-la.  Ao contrário, ela desaparece porque já não comporta a realidade em que precisa ser acionada.  

 

Saber lidar com a mudança de uma realidade para outra foi o que fez com que os seres humanos sobrevivessem.  A perda voluntária de uma língua como está acontecendo nas culturas mencionadas faz parte deste processo de sobrevivência humana.  E da seleção natural entre os seres vivos. 

 

 

 

Para ler o artigo da revista O Economista.

 

Mestre do Duque de Bedford: Pintor de iluminuras.  Échamado de Mestre do Duke de Bedford por não se saber seu nome original.  Leva então o nome pela comissão que recebeu de John, Duque de Bedford, entre os anos de 1422 e 1435.  Quando a serviço do duque deve ter recebido o título de Assistente Mestre do Duque de Bedford, por causa da importância das obras a ele requisitadas.  Seu estilo em iluminuras é identificado pela maneira de modelar o corpo humano, pela restrição cromática de sua palheta e pelo pouquíssimo uso da folha de ouro como embelezamento.   





Uma exposição da China camponesa no Rio de Janeiro

11 09 2008

 

Abriu ontem dia 10 de setembro a exposição A CHINA DOS CAMPONESES na galeria de arte F Mourão no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro.  Esta exposição reúne 70 aquarelas e guaches feitos por pintores camponeses da China contemporânea.    Estes artistas plásticos das regiões de Huxian, Hunan e Yunnan são a segunda geração de um plano de educação nas artes plásticas do governo chinês.

Apesar da arte da aquarela ter nascido na China e de ter sido até o início do século XX a forma favorita de expressão na pintura, com a chegada da revolução comunista a arte da aquarela foi completamente abandonada, vista como um passatempo dos nobres, dos ricos e um símbolo da decadência burguesa.  Obsoleta.  Toda a tradição milenar da aquarela na China nas suas formas mais tradicionais só sobreviveu pelos esforços da Ilha de Formosa.

Ateliê FMourão, na noite de abertura da exposição.

Ateliê FMourão, na noite de abertura da exposição.

Mas, a partir de um evento insiginficante, quando uma represa em construção foi desenhada por seus peões para que pudessem diariamente ver o progresso da construção surgiu entre os diversos comitês burocráticos chineses dos anos 50 a idéia de se treinar estes camponeses para que fizessem cartazes de propaganda do governo de Mao.  Assim professores foram levados até estas regiões exclusivamente agrárias no sul da China para ensinar a estes campesinos a desenhar.  Foi uma maneira interessante de ocupar  os camponeses chineses e de melhorara suas condições financeiras já que poderiam usar suas horas livres principalmente no inverno, aquela estação monótona e caseira quando a colheita  já acabara e ainda não se iniciara o plantio, para produzirem mais para o país.

 Surgiram então os grandes cartazes chineses, uma arte à parte, que mesmo existindo até hoje aos milhões são itens de bastante  procura no mercado de colecionadores de efêmera. 

Cartaz de propaganda do governo chines.

Cartaz de propaganda do governo chinês.

Com a queda de Mao e com o afrouxamento das regras políticas na cultura, não só estes camponeses deixaram de ter trabalho como artistas gráficos para os cartazes de propaganda governamental, como também tiveram uma abertura na função de suas artes.  Novos professores dos grandes centros culturais foram escolhidos para dar aulas a estes camponeses e com isto surgiu a pintura camponesa, que é na verdade, semelhante a uma pintura naïf ou folclórica, nos anos 60 e 70. 

Estas pinturas começaram por mostrar o mundo ideal em que os camponeses viviam, com colheitas abundantes, pesca generosa e vida diária organizada.  Foram e são aquarelas marcadas pelas cores vibrantes pelas perspectivas inusitadas e pela felicidade.  Estas aquarelas foram uma das primeiras maneiras de se trazer a cultura chinesa para fora da China depois da abertura comercial do país. 

A colheita dos caquis, aquarela de Feng Tao Liu, na exposição.

A colheita dos caquis, aquarela de Feng Tao Liu, na exposição.

 Hoje, nesta exposição principalmente, estão representados artistas na sua maioria participantes da segunda geração de artistas campesinos.  Estes, na sua maioria ainda dividem seu tempo entre o campo e a arte, mas os mais populares já conseguem se dedicar exclusivamente à arte das aquarelas.

Mulher com gato no colo, da pintora Feng Ying, na exposição.

Mulher com gato no colo, da pintora Feng Ying, na exposição.

Talvez porque tenham começado a serem treinados para as artes gráficas os trabalhos destes artistas têm até hoje uma forte afinidade com as artes gráficas.  Objetos, pessoas, plantas, animais são claramente delieneados.  Todos os trabalhos são também bastante coloridos.

Na CHINA DOS CAMPONESES há três estilos diferentes de trabalhos todos produzidos nas mesmas circunstâncias e resultado dos mesmos esforços governamentais.  São as cenas agrárias e bucólicas,  o retrato de pessoas, principalmete o de mulheres que mostra algumas afinidades com a tradição da vida dos nobres chineses e também a arte de uma minoria da região de Yunnan, próxima ao Tibete, cujo princiapl meio de comunicação visual é e era o batik.  Com técnicas desenvolvidas para reproduzir no papel os efeitos conseguidos no batik eles chegam a formas femininas sobre um fundo complexo de desenhos abstratos.   

Pintando a porcelana, de Li Zhimimng, na exposição.

Pintando a porcelana, de Li Zhimimng, na exposição.

Enquanto as formas de mulheres que lembram as nobres chinesas de antanho também parecem lembrar o trabalho do pintor italiano Amedeo Modigliani, as obras sensuais das mulheres representadas pela arte de Yunan, trazem à mente as obras de Gustav Klimt. 
Vale a pena a visita para conhecer de perto este festival de cores e formas.  A exposição ficará no ateliê FMourão até p dia 27 deste mês.  As obras estão à venda.  Visitas de 10 às 19 horas durante a semana e de 10 às 17 horas aos sábados.  Não percam.




Prata da casa: Gisele Prata Real, escultora

9 07 2008

 

Passando hoje pela internet a procura de notícias das Olimpíadas na China encontrei algumas fotos da competição de esculturas na areia que precede a abertura dos jogos.  O evento ocupou 20.000 metros quadrados na cidade costeira de Haiyang, na Província de Shandong e se tornou o maior parque temático de esculturas na areia da China.   Esta é a terceira competição mundial de escultura na areia naquele país e este ano, como não podia deixar de ser, o tema foi:  As Olimpíadas de Beijing, 2008.  O festival começou na quinta-feira passada e atraiu famosos artistas da areia de países tais como Rússia, Austrália e Eslovênia.

 

Foi uma pena não estarmos representados pela nossa maior escultora da areia, a cirurgiã-dentista Gisele Prata Real.  Gisele está no momento participando do FIESA 2008.   Esta é a 6ª edição  do FIESA e acontece no Algarve, no sul de Portugal.  O tema escolhido pelos produtores:  HOLYWOOD.  A proposta foi uma homenagem aos fabulosos cenários, à ficção, ao humor e ao inesquecível estilo do cinema americano.  Ao todo são cinqüenta escultores participando.  Eles tiveram um mês para trabalhar em seus projetos e usar as  30.000 toneladas de areia projetadas para o festival numa área abrangendo 15.000 metros quadrados.  Este é o maior festival de esculturas em areia da península ibérica.  A exposição dos trabalhos começou em 22 de maio e vai até 22 de outubro.  Espere ver por lá famosos personagens do cinema de King Kong a Marilyn Monroe.  Gisele Prata Real compôs uma belíssima homenagem ao filme Casablanca.

Homenagem ao filme Casablanca, escultura de Gisele Prata Real

Homenagem ao filme Casablanca, escultura de Gisele Prata Real

 

 

Mas na minha opinião, julgamento feito exclusivamente por fotos, acredito que ela ainda  não tenha sido capaz de bater a si própria.  Seu trabalho no 20° Festival de escultura na areia, da cidade de Minamisatsuma, em Kagoshima no Japão, foi extraordinário.  Esta exposição que terminou no dia 6 de junho deste ano e organizada pelo governo local, teve como tema Mulheres de repercussão mundial.  Gisele Prata Real estava inspirada ao escolher uma homenagem a Madre Tereza de Calcutá, com o trabalho intitulado Vivendo o Amor.   Com uma imaginária muito poética a artista brasileira apresentou detalhes da vida diária da religiosa, com um casebre,  roupas na corda, tina para lavar e a própria Madre Tereza abraçada às crianças de quem ela tanto gostava.

 

Vivendo o amor, Homenagem a Madre Tereza, de Gisele Prata Real

Vivendo o amor, Homenagem a Madre Tereza, de Gisele Prata Real

 

Seria interessante termos mais cobertura da imprensa para os poucos mas muito concorridos festivais de escultura na areia que acontecem no Brasil.  Seria uma excelente maneira de popularizarmos e certamente acharmos novos talentos nesta arte efêmera.