Beijo, ilustração Lynn Buckham (EUA, 1918-1982, década de 50.
Um filósofo de peso
é desta sentença o autor:
o beijo é fósforo aceso
na palha seca do amor.
(Bastos Tigre, 1882-1957)
Um filósofo de peso
é desta sentença o autor:
o beijo é fósforo aceso
na palha seca do amor.
(Bastos Tigre, 1882-1957)
Clarabela ensina Horácio a pintar, ilustração Walt Disney.
Ama a tua arte. Por ela
faze o bem: ama e perdoa.
A bondade é sempre bela,
a beleza é sempre boa.
(Bastos Tigre)
Morena de olhos castanhos,
teu encanto é a minha pena;
quem dera que olhos estranhos
te achassem feia, morena!
(Bastos Tigre)
Bidu latindo, ilustração Maurício de Souza.
“O cão que ladra não morde”.
Permitam que nesta quadra
eu do provérbio discorde:
sim, não morde… enquanto ladra.
(Bastos Tigre)
–
–
Pequeno encanto
Donald Zolan (EUA, contemporâneo)
óleo sobre tela
–
–
–
Bastos Tigre
–
–
Por sobre as ramas da árvore coleia
A lagarta. E a colear, viscosa e lenta,
O seu aspecto as vistas afugenta
E de tocá-la a gente se arreceia.
–
Verde-negra, amarela, azul, cinzenta,
Quando o sol as folhagens incendeia,
Sobe a aquecer-se, e à luz solar, aumenta
O asco de vê-la repulsiva e feia.
–
Mas eis que a encerra do casulo a tumba;
Não penseis que, de todo, ela sucumba
No seu sepulcro eternamente presa.
–
Qual, do corpo, alma livre, desprendida,
É borboleta: evola-se a outra vida,
Voando feliz, na glória da beleza.
–
–
Em: Antologia Poética, Bastos Tigre, volume I, Rio de Janeiro, Ed. Francisco Alves:1982
Natividade, 1947
Fúlvio Penacchi (Brasil 1905-1992)
óleo sobre cartão 19 x 23 cm
—-
—-
—
Bastos Tigre
—-
Natal! Vocábulo sonoro,
Com ressonâncias de cristal!
Amo o Natal; amo e adoro
O doce nome de “Natal”.
—
Ouvi-lo é ter no ouvido, ecoando
A voz dos sinos, no arraial,
Alegremente repicando
A excelsitude do Natal!
—
Missa do galo. Espouca e brilha
O foguetório, a salva real…
Fulge o painel. Que maravilha!
Jesus nasceu: — Natal! Natal!
—
Ding-din! Ding-don! — repicam os sinos!
Vozes elevam-se em coral,
Desafinando ingênuos hinos
Em honra a Cristo e ao seu Natal.
—-
Dança, presépios, pastorinhas
No pastoril de João de tal —
E, entre vizinhos e vizinhas,
Os namoricos de Natal.
—-
Castanhas, nozes, rabanadas,
Do velho tom tradicional,
De fino açúcar polvilhadas
Tendo a doçura do Natal.
—-
E da família o quadro lindo
Da vasta mesa patriarcal
E a avó velhinha, repartindo
O imenso bolo de Natal.
—-
Mudou o Natal. Que há que não mude
Neste vaivém universal?
Foi-se a simpleza ingênua e rude
Das idas festas de Natal.
—
Hoje, entre as luzes da cidade
Cosmopolita e colossal
A luz da Light a noite invade
E nem se vê vir o Natal.
—-
Há o reveillon, francês em nome,
Yankee no fundo comercial;
Faga-se quanto se consome
A preços próprios do Natal.
—-
Em vez da viola e da sanfona,
Em tom menor, sentimental,
Uma “ortofônica” ortofona
Um feroz fox infernal.
—
Há nos hotéis e clubs chics
Festas de um tom convencional
Sem foguetório e sem repiques —
Que nem são festas de Natal!
—
Corre champagne, em vez do verde,
Do carrascão de Portugal.
(Sem o verdasco o que há de ser de
Ti, ó consoada de Natal).
—-
E até há gaitas, serpentinas,
Como se fora um carnaval!
Vocês, rapazes e meninas,
Não têm idéia do Natal!
—-
Chego a pensar que o próprio Cristo,
O de Belém, o do curral,
Lá do alto, olhando para isto,
Não reconhece o seu Natal.
—
E, então, fechando a azul esfera,
Se esconde além do último “astral”
E, por castigo, delibera
Não nascer mais pelo Natal.
—-
—-
Em: Antologia poética de Bastos Tigre, vol 2, Rio de Janeiro, Francisco Alves: 1982.
OS DENTES
Devemos os nossos dentes
Zelar com o maior rigor.
Ser, com eles, negligentes,
Causa sempre dissabor.
Deles tudo se remova
Que os possa prejudicar,
Limpando-os com água e escova
Pela manhã e ao deitar.
E toda atenção é pouca
No cuidá-los muito bem.
Se entra a vida pela boca,
Entra a moléstia também.
A cárie apenas começa?
Não se dê parte de fraco:
Vá-se ao dentista depressa
Que sempre a cárie é um “buraco”.
Dos dentes mantendo o asseio
Podemos ficar contentes,
Pois quase não há receio
De chorar com dor de dentes.
Bastos Tigre
Manuel Bastos Tigre (PE 1882 – RJ 1957) — foi um bibliotecário, jornalista, poeta, compositor, humorista e destacado publicitário brasileiro.
Obras publicadas:
Saguão da Posteridade, 1902.
Versos Perversos, 1905.
O Maxixe, 1906.
Moinhos de Vento, 1913.
O Rapadura, 1915.
Grão de Bico, 1915.
Bolhas de Sabão, 1919.
Arlequim, 1922.
Fonte da Carioca, 1922.
Ver e Amar, 1922.
Penso, logo… eis isto, 1923.
A Ceia dos Coronéis, 1924.
Meu bebê, 1924.
Poemas da Primeira Infância, 1925.
Brinquedos de Natal, 1925.
Chantez Clair, 1926.
Zig-Zag, 1926.
Carnaval: poemas em louvor ao Momo, 1932.
Poesias Humorísticas, 1933.
Entardecer, 1935.
As Parábolas de Cristo, 1937.
Getúlio Vargas, 1937.
Uma Coisa e Outra, 1937.
Li-Vi-Ouvi, 1938.
Senhorita Vitamina, 1942.
Recitália, 1943.
Martins Fontes, 1943.
Aconteceu ou Podia ter Acontecido, 1944.
Cancionário, 1946.
Conceitos e Preceitos, 1946.
Musa Gaiata, 1949.
Sol de Inverno, 1955.
Do livro:
Criança Brasileira: segundo livro de leitura, Theobaldo Miranda Santos, Agir: 1950, Rio de Janeiro.