Viajando com Albrecht Dürer

4 03 2016

Religious procession at Saragossa, Royal 16 G VI, f. 32v, Chroniques de France ou de St Denis, Paris, after c. 1332Procissão religiosa em Saragossa, c. 1332-1350

Chroniques de France ou de St. Denis, Paris

Royal 16 G VI, f. 32v

British Library

 

Notas do Diário de Viagem de Albrecht Dürer, em 1520.

 

“No domingo depois da procissão de Nossa Sra. da Assunção vi uma grande procissão da Igreja de Nossa Senhora na Antuérpia, quando a cidade inteira de todas as classes e ofícios se aglomerou, cada qual vestido de acordo com sua posição na sociedade.  E todas as classes e guildas traziam as bandeiras, pelas quais podiam ser reconhecidos.  Em intervalos grandes e caras velas-postes eram carregadas e os longos trombones francos de prata. Ainda na tradição germânica havia muitas flautas e tambores. Todos instrumentos vivamente tocados.

Vi a procissão passar pela rua, as pessoas enfileiradas, cada homem mantendo uma certa distância de seu vizinho, mas as filas eram próximas umas das outras. Havia ourives, pintores, pedreiros, bordadores, escultores, marceneiros, carpinteiros, marinheiros, pescadores, açougueiros, curtidores, tecelões, padeiros, alfaiates, sapateiros — de fato trabalhadores de todos os naipes, e muitos artesãos e negociantes que trabalham para sua sobrevivência.  Da mesma forma, lojistas e comerciantes, e seus assistentes de todo tipo estavam lá. Depois deles vinham os atiradores com suas armas, arcos e flechas, os cavaleiros e os soldados a pé também. Seguia então um grande grupo de senhores magistrados.  Logo vinha um grupo todo em vermelho, vestido em nobre e  esplêndida maneira. Antes deles, no entanto, vieram todas as ordens religiosas e membros de algumas fundações muito devotos, todos em suas diferentes vestimentas.”

 

 

Travel Diary, Dürer, em W.M. Conway, Literary Remains of Albrecht Dürer (Cambridge; University Press, 1889): text slightly revised by J.B.R.

Encontrado em The Portable Renaissance Reader, editado por James Bruce Ross e Mary Martin McLaughlin, New York, The Viking Press: 1958, p. 232-233.

 

[Tradução é minha]





Eu, pintor: Mestre de Frankfurt

1 12 2015

Frankfurt_master-artist_and_wife

Auto-retrato com sua esposa, 1496

Mestre de Frankfurt (c. 1460 – c.1533)

óleo sobre madeira, 38 x 26 cm

Real Museu de Belas Artes da Antuérpia, Bélgica





Imagem de leitura — Quentin Massys

26 09 2014

 

 

manglassHomem com óculos, c. 1520

Quentin Massys (Bélgica, 1466-1530)

Óleo sobre madeira,  69 x 53 cm

Städelsches Kunstinstitut, Frankfurt





Albrecht Dürer nos Países Baixos

15 05 2014

 

 

Durer, retrato de homem em sua viagem à Holanda e Bélgica.Retrato de homem com vista de Sint-Michielsabdij, na Antuérpia, 1520
Albrecht Dürer (Alemanha, 1471-1528)
Ponta de prata sobre papel, 13 x 19 cm
Musée Condé, Chantilly

 

No dia 3 de agosto de 1520 chegava à Antuérpia Albrecht Dürer, acompanhado de sua esposa e de uma empregada. Ele viajava para confirmar com Carlos V a pensão que lhe havia sido dada. A essa altura Dürer já era muito conhecido na Europa em grande parte por causa das extraordinárias xilogravuras que produzira.

Hoje, preparando notas para uma futura aula, tive o prazer de recordar algumas passagens do diário que o pintor manteve enquanto viajava, que não só nos deixa entrever  a vida no início do século XVI na Antuérpia, assim como o respeito com que o pintor era tratado por diversos dignitários nas cidades por onde passou.

Não sei se o diário de Albrecht Dürer já foi traduzido para o português. Uma breve pesquisa na internet me deu a impressão de que não foi. Vou traduzir para vocês do inglês uma passagem para que tenhamos a visão de um pouquinho do gosto da época

Domingo, era dia de Santo Osvaldo, os pintores me convidaram para o salão da sua guilda, a mim e à minha esposa e empregada. Todo o serviço era de prata e havia outros ornamentos suntuosos e carnes preciosas. Todas as esposas também estavam lá. E à medida que fui levado à mesa todos os convidados ficaram em pé em ambos os lados da mesa como se eu fosse um grande senhor. E entre eles havia homens de grande estatura social, que se comportaram com muito respeito e grande cortesia para comigo, e prometeram fazer todo o possível em seu poder me satisfazer.  E enquanto eu lá estava sentado com toda essa honra, o Síndico [Adrian Horebouts] de Antuérpia, veio com dois serventes e me presentearam com quatro recipientes de vinho em nome dos conselheiros da cidade de Antuérpia, e pediram para que ele dissesse que eles queriam dessa forma mostrar o respeito que tinham por mim e assegurar sua boa vontade. Pelo qual eu lhes retornei o meu agradecimento, modestamente oferecendo os meus serviços. Depois disso veio Mestre Peter [Frans], o marceneiro da cidade  e me presenteou com dois recipientes de vinho e com a oferta de seus serviços. Então, depois de termos nos divertido por muito tempo até tarde, eles nos acompanharam até a casa com lanternas, com muita honra. E me rogaram para que eu estivesse sempre confiante da boa vontade deles, e prometeram que qualquer coisa que eu quisesse fazer, eles estariam prontos para ajudar. Então eu lhes agradeci e fui dormir.”

 

Travel Diary, Dürer, em W.M. Conway, Literary Remains of Albrecht Dürer (Cambridge; University Press, 1889): text slightly revised by J.B.R.

Encontrado em The Portable Renaissance Reader, editado por James Bruce Ross e Mary Martin McLaughlin, New York, The Viking Press: 1958, p. 227-28