Vollard: colecionadores de arte americanos

30 07 2024

Moça de verde sob o sol, c. 1914

Mary Cassatt (EUA, 1844-1926)

óleo sobre tela,  55 x 46 cm

Museu de Arte de Worcester, MA, EUA

 

 

 

O Sr. Havemeyer era aconselhado nas suas compras por Mary Cassatt. Ela o havia persuadido que não havia melhor maneira de gastar seu dinheiro, já que  as obras de arte que comprava iriam enriquecer o patrimônio artístico dos Estados Unidos.  Eu me lembro especialmente de dois quadros de Goya que ela o fez comprar, quando ele viajava pela Espanha: uma senhora com um anel em seu dedo, e, melhor ainda,  A sacada.  Eu disse para uma senhora americana, cliente minha: “Se continuar assim, logo teremos que ir à América para ver o que há de melhor na pintura europeia.”

 

(Tradução: Ladyce West)

 

Em: Recollections of a Picture Dealer, Ambroise Vollard, Dover Fine Art, History of Art, 2011, edição eletrônica, sem menção do tradutor do francês para o inglês.

-.-.-.-.-.

Mr. Havemeyer was usually advised in his purchases by Mary Cassatt. She had persuaded him that he could make no better use of his money, since his pictures were to enrich the artistic heritage of the United States. I particularly remember two pictures by Goya that she made him buy when he was on a trip through Spain: a woman with a ring on her finger, and, best of all, The Balcony.   I said to an American lady, a client of mine: “ If this goes on, we shall soon be obliged to go to America to see the best European pictures.”





Rue Laffitte, Paris, texto de Ambroise Vollard

21 07 2024

 

 

 

Naquela época a Rua Laffitte era a rua dos quadros.  Se você ouvisse alguém dizer, “vou dar uma volta na Rua Laffitte,” poderia ter certeza de que era um colecionador de quadros. Por outro lado, quando Manet dizia, “Seria uma boa coisa ir à Rua Laffitte,” ou Claude Monet perguntava, “Por que ir à rua Laffitte?” eles queriam dizer respectivamente, que era uma boa coisa ou que era sem propósito, para um pintor se familiarizar com seus colegas artistas.

Degas gostava de ir lá quando havia terminado o trabalho do dia.  Ia de ônibus “Pigalle-Halle-aux-Vins”, e voltava da mesma maneira. Um dia eu o vi de pé fora da loja do jovem Bernheim, na qual dois Corots e  um Delacroix estavam à mostra. Veio até minha loja quando me viu. “Diga-me Vollard”, disse,”quanto você acha que uma coisa como aquela vale?”  Confessei minha ignorância. “Bem, vou ter que descobrir. Vou lá fazer uma oferta agora mesmo.” Ele voltou momentos depois, “Sem sorte!  Os Corots foram vendidos; mas tenho a intenção de ter o Delacroix!”

E ele comprou.  Um dia quando fui vê-lo na hora do almoço, ouvimos vozes no hall, e Zoë veio às pressas à sala de jantar: “Senhor! É o Delacroix!”  Degas se levantou com o guardanapo ainda no pescoço e me deixou de lado.

(Tradução, Ladyce West)

—-

In those days the rue Laffitte was the rue des tableaux. If you heard a man say, “ I’m going to take a turn in the rue Laffitte,” you might be sure he was a collector of pictures. On the other hand, when Manet said, “It’s a good thing to go to the rue Laffitte,” or Claude Monet asked, “ Why go to the rue Laffitte? ” they meant respectively that it was a good thing, or that it was useless, for a painter to keep in touch with his fellow-artists.
Degas liked going there when he had finished work for the day. He went by the omnibus “ Pigalle-Halle-aux-Vins,” and came back the same way. One day I saw him standing outside Bernheim junior’s shop, in which two Corots and a Delacroix were on view. Catching sight of me he came into my shop. “ Tell me, Vollard,” he said, “ how much do you suppose things like that are worth? ” I had to confess my ignorance. “ Well, I’ll have to find out. I’ll go and make a bid for them straight away.” He came back a moment later. “ Bad luck! The Corots are sold; but I mean to have the Delacroix!”
And he got it. One day when I had gone to see him at lunch-time, we heard a sound of voices in the hall, and Zoë came hurriedly into the dining-room : “ Monsieur ! It’s the Delacroix ! ” Degas got up with hisnapkin around his neck, and deserted me then and there.

-.-.-.-.-.

Em: Recollections of a Picture Dealer, Ambroise Vollard, Dover Fine Art, History of Art, 2011, edição eletrônica, sem menção do tradutor do francês para o inglês.

Rue Laffitte, Paris, por volta de 1900. Destacado à esquerda fachada de uma das galerias de arte.

Rua Laffitte, Paris, 1949

Jean Dufy (França, 1888-1964)

guache e aquarela sobre papel, 60 x 48 cm





Ambroise Vollard chega a Paris

16 07 2024

Ala do Jardim de Luxemburgo, 1886

Vincent van Gogh (Holanda, 1853-1890)

óleo sobre tela, 27 x 46 cm

Clark Art Institute, Williamstown, Mass

 

 

“Minha residência ficava na rua Toullier, próximo ao Luxemburgo, para onde onde fui assim que pude no dia seguinte. Fiquei decepcionado. Levei muitos anos para perceber a beleza daquele jardim incomparável e a magnitude de seu planejamento. Naquele momento, parecia-me muito mais amplo e menos íntimo do que o Jardim do Rei, da minha ilha nativa.  Quanto aos monumentos, de tamanhos tão grandes, pareciam me dominar e esmagar.”

(Tradução Ladyce West)

—–

My hotel was situated in the rue Toullier, near the Luxembourg, where I went first thing the next day. I was disappointed. It took me many years to realise the beauty of that incomparable garden and the magnificence of its planning. For the moment it merely seemed to me vaster, and at the same time less intimate, than the “ Jardin du Roi ” of my native isle. As for the monuments, their hugeness seemed to bear down on me and crush me.

-.-.-

Em: Recollections of a Picture Dealer, Ambroise Vollard, Dover Fine Art, History of Art, 2011, edição eletrônica, sem menção do tradutor do francês para o inglês.

– – –

Ambroise Vollard foi um dos galeristas mais importantes de Paris do final do século XIX.  Representou, conheceu, foi amigo e esteve envolvido com Renoir, Forain, Degas, Redon, Rodin, Cézanne, Rouault, Bonnard, Picasso, Manet, Matisse, de Groux, Signac, Rousseau, e ainda esteve em contato com Gertrude Stein, Alfred Jarry, Guillaume Apollinaire, Mallarmé, e Zola.  Natural da Ilha de Réunion, neste parágrafo, no início de suas memórias ele mostra para nós como, quando viajamos, por mais que se conheça a história, a cultura, sempre usamos nossos próprios vieses ao observar o novo, aquilo que nos é estranho.  É particularmente reveladora, essa passagem, porque a Ilha de Réunion, é francesa até os dias de hoje, portanto, ele tinha como referência só a visão de alguém da província.





Cézanne retratando Vollard

27 03 2020

 

 

 

Cezanne_Ambroise_VollardAmbroise Vollard, 1899

Paul Cézanne (França, 1839 – 1906)

óleo sobre tela, 101 x 81 cm

Petit Palais, Paris

 

 

Ambroise Vollard, o grande galerista da arte moderna, foi retratado por muitos dos artistas que patrocinava, entre eles Cézanne.  Em suas memórias, Souvenirs d’un marchand de tableaux [Lembranças de um negociante de quadros], há a descrição de como Cézanne pintou seu retrato.

“‘Não cochile‘ Renoir me avisou, quando fui posar para Cézanne. No ateliê de Cézanne eu tinha que me sentar num banquinho colocado numa plataforma improvisada, apoiada em quatro tocos de madeira.

Vendo que eu não estava confiante da segurança dessa engenhoca, Cézanne disse com um sorriso convidativo, ‘nada acontecerá se você mantiver o equilíbrio’. E, além disso, posar, significa sentar sem se mover.’

Mas, bastou eu me sentar no lugar, a sonolência se apoderou de mim. Minha cabeça pendeu sobre os ombros. O equilíbrio se foi: plataforma, banco e eu fomos parar no chão.

Cézanne correu à frente.

Seu desgraçado!  Você atrapalhou a pose!  Deveria se sentar como uma maçã. Quem já viu uma maçã agitada?’

 

Livremente traduzido por mim, do livro Souvenirs d’un marchand de tableaux, Ambroise Vollard, editora Albin Michel: 1948.