Leitora no jardim, final da década de 1960
Cesare Peruzzi (Itália, 1894-1995)
óleo sobre tela, 33 x42 cm
Saudade
Januário dos Santos Sabino
Quando o sol já no poente
Perde o brilho, a cor desmaia
E louca vaga gemente
Se desenrola na praia;
Quando alegre o coleirinho,
No galho da pitangueira,
Trina à beira do seu ninho
Doce canção feiticeira;
Quando a flor n’haste pendida,
Mais grato perfume exala,
E a natureza sentida
Como que, cantando fala:
Eu sinto, minha alma então
Divagar na imensidade
Dos cismares da paixão,
Levada pela saudade;
Lembra-me o tempo encantado,
Que eu a teu lado passei…
Ah!… com então enlevado,
No teu amor me inspirei!
Minha vida que então era,
Arruinado jardim,
Transformou-se em primavera,
Teve rosas e jasmim;
E as ondas procelosas,
Do mar de minha existência,
Se acalmaram bonançosas,
Ao teu sorrir de inocência;
Mas agora, — ave sem ninho,
A doudejar no deserto,
Cego em busca do caminho,
Com passo tardio e incerto;
Lembrando esse momento,
De tão venturosa idade,
Só encontro um sentimento,
Uma palavra – saudade!
Revista O Cysne, ano I, nª 1, 1864
Januário dos Santos Sabino (Brasil, 1836?- 1900)
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