Saudade, poesia de Januário dos Santos Sabino

28 03 2024

Leitora no jardim, final da década de 1960

Cesare Peruzzi (Itália, 1894-1995)

óleo sobre tela, 33 x42 cm

 

 

Saudade

 

Januário dos Santos Sabino

 

Quando o sol já no poente

Perde o brilho, a cor desmaia

E louca vaga gemente

Se desenrola na praia;

 

Quando alegre o coleirinho,

No galho da pitangueira,

Trina à beira do seu ninho

Doce canção feiticeira;

 

Quando a flor n’haste pendida,

Mais grato perfume exala,

E a natureza sentida

Como que, cantando fala:

 

Eu sinto, minha alma então

Divagar na imensidade

Dos cismares da paixão,

Levada pela saudade;

 

Lembra-me o tempo encantado,

Que eu a teu lado passei…

Ah!… com então enlevado,

No teu amor me inspirei!

 

Minha vida que então era,

Arruinado jardim,

Transformou-se em primavera,

Teve rosas e jasmim;

 

E as ondas procelosas,

Do mar de minha existência,

Se acalmaram bonançosas,

Ao teu sorrir de inocência;

 

Mas agora, — ave sem ninho,

A doudejar no deserto,

Cego em busca do caminho,

Com passo tardio e incerto;

 

Lembrando esse momento,

De tão venturosa idade,

Só encontro um sentimento,

Uma palavra – saudade!

 

Revista O Cysne, ano I, nª 1, 1864

 

Januário dos Santos Sabino (Brasil, 1836?- 1900)


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