Sempre aos domingos, poesia de Ira Etz

4 03 2024

Paulo Cesar ‘nariz de feijão, 2020

Augusto Herkenhoff (Brasil,1965)

acrílica sobre tela, 48 x 36cm

Sempre aos domingos

 

Ira Etz

 

Atendo o telefone

Ela fala alto,

Minha velha amiga

Está surda.

Foi logo dizendo:

Ando muito sozinha.

Ninguém para conversar

Falo com os cachorros

Sigo relendo livros antigos

Jornal, só aos domingos.

Estou velha e sem dinheiro.

Eu disse que também estava velha

Como se isso servisse de consolo.

De repente ela mudou o tom

Da conversa

Você viu o jogo ontem?

Que jogaço!

Amante de futebol

Assiste a todos os campeonatos,

Discute com a TV, vibra

Torcedora do Botafogo.

Time da Estrela Solitária.

 

Em: Ainda, Ira Etz, Rio de Janeiro, Sete Letras: 2022, p.65