A sesta em Saint Tropez, com Moise e Renée, 1916
Moise Kisling (Polônia, 1891-1953)
óleo sobre tela
A sesta em Saint Tropez, com Moise e Renée, 1916
Moise Kisling (Polônia, 1891-1953)
óleo sobre tela

Leblon, 95 anos
J. Victtor (Brasil, 1957)
acrílica sobre tela, 95 x 190 cm
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Estátua equestre, século IX
Alemanha
Bronze com resquícios de folha de ouro, 25 cm de altura
Louvre, Paris
Zé da Roça tira uma soneca na sombra de uma árvore. © Estúdios Maurício de Sousa
Monteiro Lobato
Américo Pisca-Pisca tinha o hábito de por defeito em todas as coisas. O mundo para ele estava errado e a Natureza só fazia asneiras.
— Asneiras, Américo?
— Pois então?!… Aqui mesmo, neste pomar, você tem a prova disso. Ali está uma jabuticabeira enorme sustendo frutas pequeninas, e lá adiante vejo uma colossal abóbora presa ao caule duma planta rasteira. Não era lógico que fosse justamente o contrário? Se as coisas tivessem que ser reorganizadas por mim, eu trocaria as bolas, passando as jabuticabas para a aboboreira e as abóboras para a jabuticabeira. Não tenho razão?
Assim discorrendo, Américo provou que tudo estava errado e só ele era capaz de dispor com inteligência o mundo.
— Mas o melhor – concluiu, é não pensar nisto e tirar uma soneca à sombra destas árvores, não acha?
E Pisca-pisca, pisca piscando que não acabava mais, estirou-se de papo para cima à sombra da jabuticabeira.
Dormiu. Dormiu e sonhou. Sonhou com o mundo novo, reformado inteirinho pelas suas mãos. Uma beleza!
De repente, no melhor da festa, plaf! Uma jabuticaba cai do galho e lhe acerta em cheio o nariz.
Américo desperta de um pulo; pisca, pisca; medita sobre o caso e reconhece, afinal, que o mundo não era tão mal feito assim.
E segue para casa refletindo:
— Que espiga! … Pois não é que se o mundo fosse arrumado por mim a primeira vítima teria sido eu? Eu, Américo Pisca-pisca, morto pela abóbora por mim posta do lugar da jabuticaba? Hum! Deixemo-nos de reformas. Fique tudo como está, que está tudo muito bem.
E Pisca-pisca continuou a piscar pela vida em fora, mas já sem a cisma de corrigir a Natureza.
Em: Fábulas, Monteiro Lobato, São Paulo, Brasiliense:1966, 20ª edição, pp.19-20.
